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Marcelo Melo e um título para toda a vida

Alexandre Cossenza

07/06/2015 06h00

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Marcelo Melo e Ivan Dodig chegaram pertinho em Wimbledon, quando venceram até o primeiro set da final em 2013. Desde lá, a parceria chegou às semifinais duas vezes do US Open. Este ano, na Austrália, a chance era boa, mas terminou num doído tie-break de terceiro set na semifinal. Ficava a impressão, contudo, que faltava pouco para brasileiro e croata. Até que neste sábado, numa decisão espetacular, Melo e Dodig escreveram seus nomes na história de Roland Garros.

No que marcou o ápice de duas semanas impecáveis, com uma atuação obscena de Ivan Dodig e e momentos espetaculares de Marcelo Melo, a parceria conquistou o título do Grand Slam francês com o dramático placar de 6/7(5), 7/6(5) e 7/5. Tão dramático que veio sobre os irmãos Bob e Mike Bryan, melhores do mundo na modalidade. E tão dramático que veio depois de um nervoso tie-break perdido no primeiro set e de ver os favoritos abrirem 4/2 no segundo set.

Diz bastante que a final tenha sido contra os Bryans – e num dia em que os gêmeos americanos jogaram bem e exigiram uma série de lances improváveis de Melo e Dodig. Também significa muito que na metade do ano tenístico, após dois (de quatro) Grand Slams e cinco (de nove) Masters 1.000, brasileiro e croata estejam no topo do ranking de times da temporada, o Doubles Team Rankings. E tudo isso com Gustavo Kuerten, o tricampeão, assistindo de pertinho. Era para acontecer.

O título deste sábado é daqueles que carregam consigo o significado literal da palavra. A partir de agora até o fim da vida, o mineiro passa a se chamar Marcelo Melo, campeão de Roland Garros. Não existe ex-campeão de Grand Slam. Ou alguém aí se refere a Guga como ex-tricampeão de alguma coisa? Não. Melo, 31 anos, 2,03m de altura, é campeão (pelo menos) de Roland Garros até o resto da vida. E fez por merecer o "título". É a realização de um sonho de um garoto que ralou anos e anos em torneios minúsculos de simples até que decidiu usar seu tamanho e sua envergadura numa modalidade que favorece seu típico físico.

Passou a treinar com o irmão, Daniel (que também merece mais reconhecimento!), e evoluiu ano a ano. Fez uma inesperada semifinal em Wimbledon/2007 com André Sá, fez boas temporadas ao lado de Bruno Soares em 2010 e 2011, mas deslanchou mesmo quando deixou de ter um parceiro fixo, em 2012. Foi quando nasceu o então temporário time com Dodig. O resto todo mundo sabe. Duas participações no ATP Finals, um título de Masters 1.000, uma final de Slam e, agora, o título. Uma história bacana de muito esforço, decisões difíceis e evolução contínua. Merecia um momento assim.

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Difícil afirmar com precisão, hoje, o que e quanto significa o título de Marcelo Melo para o tênis brasileiro. Talvez sirva apenas para dar um pouco mais de reconhecimento ao mineiro, que ontem mesmo foi confundido com Ricardo Mello por um grande veículo de imprensa (e o site de Roland Garros fez o mesmo)! Talvez chame um pouco mais atenção para o as duplas, que são frequentemente colocadas para escanteio – muito por culpa da ATP, que não disponibiliza muitas transmissões, mas também por canais brasileiros (Melo, número 3 do mundo, teve partida não exibida em Roland Garros enquanto o Bandsports mostrava um jogo entre David Goffin e Jeremy Chardy).

O que vem pela frente? Parece impossível, mas Melo e Dodig chegam ao mês de junho com chances palpáveis de brigarem, até o fim do ano, pelo posto de número 1 do mundo (no tradicional ranking de 52 semanas, o Doubles Ranking). A distância até os irmãos Bryan ainda é grande, mas brasileiro e croata têm 3.140 pontos a defender, enquanto a parceria americana tem 7.650 a repetir. Não é a mais fácil das tarefas, mas a oportunidade existe.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.