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Saque e Voleio

O Sétimo Selo de Djokovic

Alexandre Cossenza

03/06/2015 14h09

Djokovic_RG_qf_afp_blog

Que soem as sete trombetas dos sete anjos. É o Juízo Final. Ou quase isso. Novak Djokovic precisou de sete tentativas, mas finalmente provocou o tão sonhado, tão demorado e quase-apocalíptico-resultado: uma derrota de Rafael Nadal em Roland Garros. Nesta quarta-feira, o sérvio deixou para trás as seis tentativas frustradas e fez 7/5, 6/3 e 6/1, registrando apenas o segundo revés da carreira do espanhol em 11 (!) participações no torneio. Agora, Nadal tem 93 vitórias e duas derrotas na carreira em partidas jogadas no saibro em melhor de cinco.

Enquanto Djokovic fica a duas jogos de fechar o Career Slam (vencer os quatro maiores torneios do circuito, mesmo que em temporadas diferentes), talvez seja um momento interessante para rever tudo que o atual número 1 do mundo passou antes de finalmente derrubar o maior campeão de Roland Garros.

Seven deadly sins
Seven ways to win
Seven holy paths to hell
And your trip begins

1. 2006

Djokovic_RG2006_afp_blog

A primeira tentativa de Djokovic aconteceu nas quartas de final, e terminou da pior maneira possível: superado por 6/4 e 6/4 e abandonando a partida ao alegar uma lesão nas costas. Além de ter aquele encontro lembrado durante muito tempo por fãs raivosos que o acusaram (ainda acusam) de fingir lesões, o sérvio, então número 63 do mundo, disse que tinha o controle daquele jogo – apesar do placar. Repercutiu muito mal. O famoso técnico Brad Gilbert, na época, debochou de Nole. Disse que viu outra partida. Uma com um peso pesado (Nadal) contra um peso médio (Djokovic). O episódio está no vídeo abaixo:

2. 2007

Djokovic_RG2007_afp_blog

Já no top 10, Djokovic teve outra chance para colocar em prova seu "domínio" do ano anterior. Desta vez, chegou com discurso humilde. "Ele é um grande favorito contra qualquer jogador nessa superfície", disse o sérvio na última coletiva antes do duelo. Dito e feito: em 2h28min, Nadal fez 7/5, 6/4 e 6/2 na semifinal e avançou para derrotar Federer na decisão, levantando o troféu francês pela terceira vez (melhores momentos aqui e aqui).

3. 2008

Djokovic_Nadal_RG2008_afp_blog

A terceira chance nem foi propriamente uma chance. Porque ninguém naquele ano teve chance. O jogo durou 2h49min (lembram quando Nadal levava décadas entre um saque e outro e Djokovic quicava a bola incessantemente antes de iniciar os pontos?), mas o espanhol ganhou confortavelmente: 6/4, 6/2 e 7/6(3). Teria sido mais rápido se não tivesse perdido o saque no 5/4. Prestes a subir ao posto de número 1 do mundo, Nadal venceu aquele torneio sem perder um set sequer. Federer sofreu um pneu e lhe tirou apenas quatro games na final. E Djokovic, vale dizer, foi quem mais deu trabalho.

4. 2012

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Um par de derrotas precoces de Djokovic (2009 e 2010) e uma inesperada volta de Federer à decisão em Paris (2011) fizeram com que o sérvio tivesse de esperar quatro anos por mais uma partida contra Nadal. E aquele jogo de 2012 foi cheio de novidades. Nole nunca havia enfrentado o rival em Roland Garros como dono do posto de número 1 do mundo. Era também o primeiro encontro dos dois em uma final. E o sérvio, então, já era campeão em Melbourne, Londres e Nova York. Faltava-lhe apenas Paris para completar o Career Slam.

Havia muito em jogo naquela partida. Diferentemente da temporada anterior, quando sofreu reveses em Roma e Madri, o espanhol chegou a Paris vindo de vitória sobre o rival na Itália e com a confiança renovada.

O jogo foi tenso, com Nadal abrindo 2 sets a 0, mas Djokovic cresceu e chegou a vencer oito games seguidos à medida em que a chuva fina deixava a quadra mais úmida e pesada. A partida foi paralisada no quarto set, com o sérvio uma quebra à frente. Na segunda-feira, com a quadra seca, Nadal quebrou de volta no primeiro game do dia e mandou na partida até fechar em 6/4, 6/3, 2/6 e 7/5.

5. 2013

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Djokovic ainda liderava o ranking, mas a temporada tinha o nome de Rafael Nadal. O espanhol, que fazia uma volta fulminante ao circuito, já acumulava os títulos de São Paulo, Acapulco, Indian Wells, Barcelona e Madri. De fevereiro a maio, só um tenista havia conseguido derrotá-lo: Djokovic, em Monte Carlo (outro jogo que aconteceu em quadra bastante pesada).

Como o espanhol era só o número 4 do mundo, os dois se encontraram nas semifinais em Paris. E que semifinal! Nadal sacou para o jogo no quarto set, mas perdeu o serviço e viu Djokovic vencer a parcial. No quinto, o sérvio tinha 4/2 de vantagem, mas o (então) heptacampeão reagiu – graças parcialmente a um acidental toque na rede do número 1 no sétimo game. No fim, com um punhado de golpes espetaculares, Nadal exigiu bastante do sérvio, que começou o último game errando um smash e não se recuperou (o vídeo abaixo mostra tudo isso).

No fim, depois de 4h37min, o espanhol venceu o segundo mais espetacular jogo (depois da final de Melbourne/2012, claro) contra o rival por 6/4, 3/6, 6/1, 6/7(3) e 9/7 e avançou para derrotar David Ferrer em três sets rotineiros na decisão.

6. 2014

Djokovic_RG2014_afp2_blog

O cenário era, de certo modo, oposto ao do ano anterior. Nadal era o número 1, mas Djokovic vinha melhor na temporada, inclusive derrotando o espanhol nas finais de Miami e Roma. A decisão de Roland Garros valia o posto de número 1 do mundo, e o sérvio começou melhor, vencendo o set inicial. Só que o dia era muito quente e a quadra fazia as bolas ganharem bastante altura. Melhor para Nadal, que conseguiu uma quebra no 12º game do segundo set e, depois, se aproveitou de uma queda física de Djokovic. Venceu em 3h31min por 3/6, 7/5, 6/2 e 6/4 para conquistar o eneacampeonato.

Seven downward slopes
Seven bloodied hopes
Seven are your burning fires
Seven your desires…

Coisas que eu acho que acho:

– O fim do jogo foi meio anticlimático. Uma vitória tão esperada, que seria muito celebrada em anos anteriores, foi festejada de forma comedida pelo sérvio. Sem camisa rasgada, sem se jogar no chão, nada. A verdade é que o número 1 esteve em quadra em um nível muito mais alto do que o espanhol. Os três sets a zero refletiram bem a diferença entre os dois hoje em dia.

– Foi valente a luta de Nadal nos dois sets iniciais (perdia por 4/0 e salvou cinco set points antes de sucumbir na primeira parcial). No terceiro, Djokovic já jogava mais solto e o quadro não demorou a se decidir. Sobre o espanhol e seu momento, deixarei a análise para um post futuro. Talvez antes das semis, talvez depois do torneio. Não prometo uma data.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.