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Saque e Voleio

Djokovic contra Nadal: agora ou nunca?

Alexandre Cossenza

01/06/2015 18h30

Djokovic_RG_R16_afp_blog

Parecia inevitável quando o torneio começou, e ambos mostraram por que nos últimos nove dias. Novak Djokovic, número 1 do mundo, vai mesmo enfrentar Rafael Nadal, nove vezes campeão de Roland Garros, nas quartas de final do torneio parisiense. O sérvio, buscando o único título de Grand Slam que lhe falta, terá o que muitos avaliam como sua melhor chance de encerrar/interromper o reinado do espanhol no torneio. Se acontecer, será a primeira vez desde 1992 que um homem vencerá os dois primeiros Majors de uma temporada (leia-se: "não se falará em outra coisa" e "a pressão será monstruosa em Wimbledon").

No entanto, enquanto o jogão não acontece, vejamos o cenário das quartas de final masculinas e quem são somais cotados para avançar às semifinais.

[1] Novak Djokovic x Rafael Nadal [6]

Duas campanhas quase impecáveis até agora. O sérvio, em uma chave que lhe era bastante favorável, aproveitou. Passou por Nieminen, Gilles Muller, Kokkinakis e Gasquet sem perder sets. Tirando um soluço no segundo set da estreia, jogou como e quando quis. Enquanto isso, Rafael Nadal pouco lembrou a turbulenta série de torneios pré-RG. Passou por Halys, Almagro, Kuznetsov e Sock. Mostrou,inclusive, consistência admirável contra Almagro (jogo perigoso que Nadal fez ficar fácil) e só bobeou no terceiro set contra Sock, embora tenha vencido com tranquilidade as outras três parciais.

Pela série de 26 jogos sem perder e pelo momento mais vulnerável do rival, Djokovic entra como favorito. Há, inclusive, quem diga tratar-se de uma daquelas situações "agora ou nunca" para o número 1. A lógica é a seguinte: o sérvio esteve perto de derrubar Nadal na semifinal de 2013 e entrou cotadíssimo na decisão de2014. Se não vencer desta vez, em condições tão favoráveis, pode carregar o trauma para os próximos anos em Roland Garros. Não sou tão radical. A derrota em 2013, num quinto set longo, foi doída o bastante. Além disso, Nole já tombou diante de Nadal seis vezes em Paris. Se, depois disso tudo, ainda se coloca tão fortemente como favorito, é porque não leva esse fardo nas costas. Nem levará no caso de um novo revés (que parece improvável) este ano.

O que parece indiscutível, sim, é o status deste jogo como "a melhor chance da vida" para chegar ao título do torneio. Ainda que não seja a final de Roland Garros, Djokovic nunca se viu em momento tão bom diante de Nadal em Paris. Ao mesmo tempo, nunca encontrou o espanhol enfrentando as dúvidas desta temporada. A oportunidade é, de fato, enorme.

A observar: condições climáticas costumam fazer diferença nos duelos entre Nole e Rafa. No saibro, quadra mais pesada e tempo nublado favorecem Djokovic (vide RG/2012). Nadal prefere sol e quadra seca, com a bola ganhando altura após seus forehands cheios de spin (vide RG/2014).
Meu palpite nada convicto: Djokovic em quatro.
Nas casas de apostas: Djokovic paga 1,32 / Nadal paga 3,42

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[3] Andy Murray x David Ferrer [7]

O britânico faz a melhor temporada de sua carreira no saibro. O espanhol, como sempre, chega às fases finais sem chamar muita atenção. Murray ainda não perdeu na terra batida este ano e já soma dois títulos (Munique e Madri) e 14 vitórias. Em Roland Garros, oscilou pouco, mas jogou bem na única partida realmente perigosa que fez até agora: contra Kyrgios, quando cedeu apenas nove games. Ferrer, no entanto, será um teste enorme para a regularidade e, principalmente, a agressividade do escocês. Se triunfar, Môri anotará sua primeira vitória no saibro (em cinco jogos) sobre o oponente. É possivelmente o jogo mais difícil de prever nas quartas, e as cotações das casas de apostas refletem isso.

A observar: todos conhecem bem a consistência de Ferrer. A diferença deve ser feita pelo nível de Murray. Caso saque bem e opte por um jogo agressivo, suas chances aumentam. Se aceitar o jogo da linha de base e preferir colocar-se sempre dois passos atrás da linha de base, Ferrer leva vantagem.
Meu palpite nada convicto: Murray em cinco
Nas casas de apostas: Murray = 1,43 / Ferrer = 2,83

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[5] Kei Nishikori x Jo-Wilfried Tsonga [14]

Entre todos os oito vivos na chave masculina de Roland Garros, Nishikori é o mais cotado a avançar às semifinais. O motivo? Seu adversário. Poucos esperavam que Jo-Wilfried Tsonga chegasse aí – o que aconteceu muito graças a uma atuação abaixo da média de Tomas Berdych, que lidou mal com as condições climáticas (muito vento e quadra pesada) e ficou pelo caminho. Tsonga, que vinha de vitórias previsíveis sobre Lindell, Sela e Andújar (nem tanto), aproveitou. O momento de Nishikori, no entanto, é ótimo. E a maré ajudou. Além de cair numa chave fácil, contou com um WO na terceira rodada e pegou o azarão Gabashvili nas oitavas. Chega inteiro fisicamente e com um jogo muitíssimo bem adaptado ao saibro.

A observar: a única maneira que consigo imaginar Tsonga saindo vitorioso é com um começo de jogo fulminante, com um saque calibradíssimo ou com uma torcida barulhenta mexendo com a cabeça de Nishikori (de preferência, com os três acontecendo ao mesmo tempo). Talvez seja pedir muito.
Meu palpite nada convicto: Nishikori em quatro
Nas casas de apostas: Nishikori = 1,27 / Tsonga = 3,80

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[8] Stan Wawrinka x Roger Federer [2]

Federer vem de uma vitória maiúscula sobre Gael Monfils, e Wawrinka faz um torneio irretocável, enfatizado pelo triunfo diante do traiçoeiro Gilles Simon, que só faturou sete games em três sets. No entanto, o que sobra de talento no duelo suíço costuma faltar em imprevisibilidade. inclusive nos últimos dois anos, período em que Wawrinka se afirmou como top 10. De 2013 até hoje, Stan só conseguiu uma vitória em cinco jogos. O último encontro, então, foi uma decepção. Após eliminar Nadal (com direito a uma espetacular virada num tie-break), Wawrinka mostrou-se descalibrado e pouco ofereceu resistência. Stan tem, claro, as armas para derrubar o compatriota, mas é azarão aqui porque não consegue usá-las com a frequência necessária.

A observar: para Wawrinka, é essencial segurar Federer no fundo de quadra, mandando nas trocas com a esquerda e matando os pontos com o backhand na paralela. Não é lá tão fácil. Imagino o número 1 suíço aproveitando qualquer chance para usar slices e subir à rede, tirando Stan de sua zona de conforto.
Meu palpite nada convicto: Federer em cinco
Nas casas de apostas: Federer = 1,40 / Wawinka = 2,97

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.