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Saque e Voleio

Entre sustos e zebras, as primeiras impressões de Roland Garros

Alexandre Cossenza

29/05/2015 06h01

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Cinco dias, duas rodadas, muitos favoritos avançando com folga, um par de jogos memoráveis, um duelo esperado que se confirmou, outro duelo esperado se aproxima a galopes e uma chave aberta que se escancarou após uma zebra. Ainda é cedo para tirar conclusões definitivas em Roland Garros, mas assunto não falta por Paris. Que tal um resumo do que rolou de mais importante?

Os favoritos

A chave masculina não teve lá surpresas impactantes, embora o rol de eliminados já conte com Grigor Dimitrov, John Isner, Fabio Fognini e Tommy Robredo. Djokovic, Federer, Murray e Nadal perderem, somados, um set (vencido por João Sousa sobre o escocês). Que surpresa, não? O que importa é que falta pouco para o aguardado Federer x Monfils nas oitavas e só um pouquinho mais para o superjogo entre Nadal e Djokovic, que deve acontecer nas quartas.

Esse grupo só viu calar fora de quadra. Principalmente com Nadal, que deu uma primeira coletiva atacando a federação espanhola e admitindo publicamente (pela primeira vez) ter feito um pedido à ATP para que o árbitro brasileiro Carlos Bernardes não fosse mais escalado em seus jogos. Declarações polêmicas, certamente. Ainda mais a segunda, que foi provocada pelo curioso momento em que Nadal trocou de shorts no meio da quadra central do Rio Open.

Nadal troca de short no meio da quadra (Rio Open)

Segundo o espanhol, que vinha de ganhar o segundo set, estava em melhor momento na partida, mas colocou os calções ao contrário (com os bolsos virados para trás), Bernardes havia lhe dado autorização para tirar e colocar novamente os shorts e, mesmo assim, aplicou-lhe uma advertência por violação de tempo. O árbitro, como é de praxe, não falou sobre o lance com os jornalistas. Uma história tão estranha que deixarei para comentá-la, talvez, num podcast. Talvez.

Dentro de quadra, porém, Nadal mostrou consistência admirável (algo que vinha faltando) na vitória em três sets sobre Nicolás Almagro – adversário sempre perigoso. Difícil imaginá-lo encontrando problemas para chegar às quartas jogando esse nível de tênis. Enquanto isso, Djokovic, pouco exigido, só assustou quando pediu atendimento médico na partida contra Gilles Muller. Nada grave, ele disse depois do jogo.

O que ver na terceira rodada

Fora do Big Four, vale apontar os três jovens que eu mais acredito que disputarão o topo quando Federer e companhia baterem suas botas tenísticas: Nick Kyrgios, Borna Coric e Thanasi Kokkinakis. Os três estão na segunda rodada, e dois deles serão azarões, mas com a chance de protagonizarem zebras maiúsculas. Kyrgios encara Murray, enquanto Kokk, depois de uma virada espetacular (perdia por 2 sets a 0 e, depois, por 5/2 no quinto set para Bernard Tomic), enfrentará o número 1. Este Roland Garros não parece o palco mais provável, mas chegará o dia em que Kokk e Coric derrubarão favoritos em Grand Slams (Kyrgios já bateu Nadal em Wimbledon no ano passado).

Outro jogo interessante dessa terceira rodada será Monfils x Cuevas, com o uruguaio podendo atrapalhar os planos do francês de encarar Roger Federer. O suíço, todos devem lembrar, perdeu os últimos dois jogos para Monfils (e precisou salvar match point antes de sobreviver no antepenúltimo).

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Quem merece um pouco de atenção também é o sempre brigador Carlos Berlocq. O argentino, que venceu em cinco sets depois de deixar Illya Marchenko abrir 2 a 0 na primeira fase, viu-se na mesma situação diante de Richard Gasquet nesta quinta-feira. Ouso dizer que, houvesse luz natural, Berlocq haveria avançado outra vez – dado o momento de ambos no jogo e o histórico do francês em quintos sets. A partida, no entanto, foi interrompida ao fim do quarto set, dando nova vida ao tenista da casa. O vencedor enfrenta Kevin Anderson, que não lá o mais imbatível dos tenistas em quadras de saibro. Chance de ouro para Berlocq, que nunca chegou à terceira rodada de um Slam, chegar logo às oitavas.

Os brasileiros

Feijão amargou sua nona derrota seguida ao perder em três sets para o espanhol Daniel Gimeno-Traver. O número 2 do Brasil teve lá suas chances – em todas as parciais – mas não conseguiu aproveitar. Tipo do jogo que aparentemente teria outro fim se a maré não fosse tão negra para João Souza.

Thomaz Bellucci, por sua vez, fez um papel digno. Venceu fácil e sem fazer esforço na estreia contra um desinteressado e errático Marinko Matosevic (que embolsou seus 27 mil euros pela ridícula apresentação) e fez um bom jogo, porém irregular, diante de Kei Nishikori, que triunfou por 3 sets a 0. Bellucci só teve chances mesmo na primeira parcial. Duplas faltas no fim do primeiro set e no início do segundo cavaram sua cova metafórica.

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As favoritas

A queda da romena Simona Halep, vice-campeã no ano passado e cabeça de chave 3, abriu uma cratera na parte de baixo da chave, onde ela era favoritíssima para chegar às semifinais. Sem a número 3 do mundo, o favoritismo passou para Ana Ivanovic e Ekaterina Makarova, que podem se enfrentar nas oitavas. Quem avançar terá pela frente nas quartas a vencedora de uma seção que tem Beck, Svitolina, Cornet e Lucic-Baroni (a algoz de Halep).

A outra metade da parte de baixo continua fortíssima, já que todas cabeças de chave avançaram. Maria Sharapova, a favorita, terá de passar por Sam Stosur, Safarova/Lisicki e Suárez Navarro/Pennetta/Muguruza/Kerber.

A parte de cima da chave é a mais emocionante até agora – e não só porque Serena Williams e Victoria Azarenka confirmaram aquele esperado duelo de terceira rodada. Essa metade teve o jogo mais emocionante do torneio até agora: a vitória da veteraníssima e campeã de Roland Garros 2010 Francesca Schiavone (34 anos, #92 do mundo) sobre a também campeã do torneio (2009) Svetlana Kuznetsova. A partidaça, que durou 3h54min, teve um tie-break de 24 pontos no primeiro set e só terminou em 10/8 no terceiro, depois de Kuznetsova sacar quatro vezes para o jogo, depois de Schiavone salvar um match point e depois de uma sequência que teve dez quebras de saque em 11 games. Ufa! E a cena com a italiana correndo e comemorando pela Quadra 1 foi das mais emocionantes.

Serena_RG_2r_afp_blog

O que ver na terceira rodada

"O que ver" além de Serena x Azarenka, né? É "o" jogo desde que a chave foi divulgada. E, considerando o duelo entre elas em Madri (Serena salvou match point antes de vencer), é de se esperar um jogão. A americana ainda não mostrou nada fantástico em Paris, mas o desafio de Vika pode ser o necessário para a número 1 acordar de vez para o torneio (ou o carimbo no passaporte de volta aos EUA).

Outros jogos interessantes são Petkovic x Errani, Bacsinszky x Keys e todos da chave de baixo. Sério. To-dos. Suárez Navarro x Pennetta, Muguruza x Kerber, Safarova x Lisicki e Stosur x Sharapova. Talvez seja o quadrante mais forte em uma terceira rodada de Grand Slam feminino em muito, muito tempo.

A brasileira

Teliana Pereira fez uma boa apresentação. Ganhou sem problemas um jogo em que era favorita (contra Fiona Ferro, convidada da organização) e deu trabalho à top 10 Makarova na segunda rodada. A brasileira teve até um break point para sair na frente na parcial decisiva, mas não conseguiu aproveitar. Para piorar, sacou em 40/0 no game seguinte e cedeu a quebra. A russa abriu 3/1 e só perdeu dois pontos no serviço até o fim do jogo.

Coisas que eu acho que acho:

Em cinco dias, fica claro por que Roland Garros é o Slam menos elogiado em termos de organização pelos tenistas. As poucas quadras disponíveis para treino (duplistas estavam sendo enviados a outros clube para aquecer – não treinar – antes os jogos) foram um problema levíssimo se comparadas com a falha grave de segurança – novamente em um jogo de Roger Federer – que deixou que um garoto entrasse na quadra de jogo e tirasse uma selfie com o suíço após o jogo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.