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Orlandinho é #1, mas o que isso significa?

Alexandre Cossenza

26/05/2015 10h19

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Nesta segunda-feira, a ITF confirmou o nome do brasileiro Orlando Luz como número 1 do mundo no ranking juvenil. É a terceira vez que um brasileiro ocupa o topo da lista de tenistas com até 18 anos. Roberto Jábali, na década de 80, e Tiago Fernandes, campeão do Australian Open juvenil de 2010, também encabeçaram o ranking em suas épocas. Mas o que significa ter um tenista como juvenil número 1 do mundo?

Significa, ora, que Orlandinho é um dos melhores tenistas do planeta em sua faixa etária. É um feito excepcional, mas, ao mesmo tempo, é "só" isso (e isso não desmerece Orlandinho – já volto a falar especificamente sobre ele). Por definição, o ranking juvenil não é lá o melhor dos indícios sobre as chances de sucesso de alguém como atleta profissional. Um garoto que vá bem no Banana Bowl ou na (ex) Copa Gerdau, onde os melhores europeus quase nunca estão, dispara no ranking. Isso vale para outros torneios espalhados pelo mundo.

Logo, como são poucos eventos em que os melhores se encontram de fato, o ranking nem sempre reflete quem é quem no mundo dos tenistas com até 18 anos. Além disso, o tênis está cheio de histórias de garotos que foram fenômenos adolescentes (inclusive no Brasil) e não chegaram nem perto de reproduzir esse sucesso nos profissionais. Do mesmo modo, alguns dos melhores tenistas da história tiveram resultados pouco expressivos como juvenis.

Novak Djokovic nunca passou da 34ª posição, Rafael Nadal teve passagem curtíssima pelo circuito juvenil e seu melhor ranking foi 134, e Andy Murray chegou à sexta posição. Federer, sim, foi número 1 juvenil, mas fez um esforço para terminar no topo no fim de 1998, quando já disputava torneios profissionais. Há casos e mais casos que mostram a diferença entre os mundos juvenil e  profissional.

Hoje mesmo temos o exemplo de Andrey Rublev (17 anos, nascido em 1997), líder do ranking juvenil até a semana passada. O russo não jogou um evento juvenil sequer em 2015. No último mês, ganhou partidas nos ATPs de Istambul e Genebra. É o 208º no ranking da ATP. Já desistiu do circuito para até 18 anos. Há, por outro lado, quem prefira jogar como juvenil o máximo possível. Gael Monfils ficou até os 18 anos, ganhou três Grand Slams e liderou o ranking com folga.

Não há receita de bolo. Orlandinho foi campeão do Banana Bowl e da (ex) Copa Gerdau (ambos na categoria 18 anos) no ano passado, com 16 anos. Resolveu disputar os dois novamente este ano e foi campeão outra vez. No último fim de semana, conquistou também o importante Trofeo Bonfiglio, na Itália (só os Grand Slams superam o evento italiano em importância e pontos distribuídos). Com isso, conseguiu os pontos que lhe faltavam para ultrapassar Rublev e tomar a ponta.

Sobre o jovem gaúcho (17 anos, 1998), chegar ao número 1 é fenomenal. Só que não é justo basear expectativas em um número. Vários brasileiros estiveram no top 10 recentemente e nunca passaram de torneios de nível Challenger (Nicolas Santos, José Pereira e André Miele são alguns exemplos). Tiago Fernandes liderou o ranking e viu sua ascensão interrompida por uma lesão grave. A principal fonte de otimismo, no caso de Orlandinho, é que seu tênis tem a potência necessária para o mundo profissional – o que ficou nítido nos Challengers de Santos e São Paulo (como escrevi neste post).

Orlandinho pode não ser hoje (negrito e sublinhado em "hoje", por favor) o melhor tenista do mundo de sua faixa etária (Borna Coric e Alexander Zverev, ambos de 18 anos, já estão no top 100 profissional), mas cada tenista tem seu tempo próprio de desenvolvimento. O melhor, em vez de julgar e criar expectativas, é observar e apreciar o que vem por aí. A começar por Roland Garros, onde o gaúcho é um seríssimo candidato ao título.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.