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Saque e Voleio

Como Bellucci faz sua maré mudar

Alexandre Cossenza

23/05/2015 13h30

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Primeiro passo: tiremos o elefante da sala. Ser campeão em Genebra derrotando só um top 50 (e logo o 50º!) não faz ninguém um candidato imediato a um título de Grand Slam. Do mesmo jeito que Thomaz Bellucci não era o mais amaldiçoado dos homens quando perdeu oito jogos seguidos em fevereiro e março, não é agora que deve ser indicado ao Laureus.

Feita esta pequena introdução, é necessário constatar como Thomaz Bellucci vem fazendo sua maré mudar. Aos poucos, o número 1 do Brasil deu consistência a seu jogo, dando menos pontos de graça e fazendo adversários trocarem mais bolas. O circuito inteiro sabe que o paulista tem uma certa tendência de começar a errar, por isso muitos de seus oponentes adotam planos de jogo pouco agressivos, aguardando erros. Mas o que acontece quando Bellucci decide arriscar menos e esperar por chances melhores para atacar?

A tática da cautela funcionou para Pablo Cuevas em Istambul, mas não deu certo para ninguém desde então. Já faz um mês. Nos últimos três torneios que disputou, o brasileiro só foi derrotado por John Isner (Madri) e Novak Djokovic (Roma) – e em ambas partidas, levou os rivais ao terceiro set. Sim, houve momentos de instabilidade, mas estes apareceram com menos frequência (vide Bautista Agut em Roma e Albert Ramos em Genebra). Ser consistente, para quem armas acima da média como o saque e o forehand de Bellucci, faz muita diferença.

Do mesmo modo, seu físico vem fazendo diferença. O número 1 do Brasil, que volta ao top 50 nesta segunda-feira, levou o preparador André Cunha à Europa (lembrando os tempos pré-Larri Passos, quando sempre ia acompanhado de um profissional da área). Nas últimas quatro semanas, Bellucci fez 17 jogos. Só assim foi possível disputar os qualis de Madri e Roma e chegar a Genebra com gás para ir até o título. E só assim será possível emendar essa sequência de quatro torneios com Roland Garros, onde o paulista não consegue avançar à terceira rodada desde 2011 (não jogou em 2013).

O que, então, se tira do título em Genebra? Que Thomaz Bellucci não é um atleta tão diferente daquele que perdeu oito jogos seguidos. No tênis, contudo, pequenos ajustes provocam grandes mudanças. Um preparo físico melhor permite estar em pontos mais longos e com mais frequência. Logo, Bellucci pode arriscar menos e forçar adversários a serem mais agressivos. Com isso, perde menos e ganha mais pontos de graça. E aí, nada de repente e nada magicamente, aparece um troféu.

Coisas que eu acho que acho:

– Vale registrar os números: nas últimas quatro semanas, Bellucci venceu 14 partidas e perdeu três. Ainda que quatro desses triunfos tenham vindo em qualis, é uma campanha respeitável. No caminho, o brasileiro derrubou o número 19 do mundo, Bautista Agut, o 32º do ranking, Jeremy Chardy, e o 50º, João Sousa, que foi seu rival na inesperada decisão em Genebra.

– Dos quatro títulos de ATP de Bellucci, três foram conquistados na Suíça. Dois em Gstaad e um em Genebra. Importante ressaltar que as condições de jogo são bem diferentes as duas cidades. O jogo em Gstaad, construída 1.050 metros acima do nível do mar, é bem mais rápido do que em Genebra, onde a altitude é de 375m.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.