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Saque e Voleio

Roland Garros 2015: o guia

Alexandre Cossenza

22/05/2015 11h24

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Roger Federer de um lado, Novak Djokovic, Rafael Nadal e Andy Murray do outro. Sérvio e espanhol, que se enfrentaram em Paris 2006, 2007, 2008, 2012, 2013 e 2014, podem se encarar logo nas quartas de final. E não falta é assunto nesta sexta-feira, depois do sorteio das chaves de Roland Garros.

Nadal, que já não teve muito acontecendo a seu favor nos último meses, foi o grande perdedor do dia. Ainda em busca da consistência que lhe deu nove títulos em Paris, o espanhol pode se deparar bem cedo com seu maior rival. Traduzindo: terá alguns dias a menos para encontrar o ritmo que não conseguiu durante toda temporada de saibro europeia. Pode não significar muito, mas parece ser consenso no circuito que Nadal é mais "derrotável" longe da final. E isso porque ainda será preciso passar por Almagro/Dolgopolov (segunda rodada) e, talvez, Dimitrov nas oitavas. Não é o mais fácil dos caminhos.

Djokovic, que já perdeu duas finais e três semis para Nadal em Paris, não deve estar nada triste com a possibilidade de um duelo nas quartas (só aconteceu antes em 2006, no primeiro jogo entre eles). E, convenhamos, não é nada ruim para o número 1 uma chave que, antes das quartas, traz Nieminen, Muller/Lorenzi, Tomic/Kokkinakis e Anderson/Gasquet. O sérvio é presença quase certa entre os oito melhores do torneio. Murray, por sua vez, estreia contra um qualifier e depois pega, se os favoritos avançarem, Pospisil/Sousa, Kyrgios/Istomin, Isner/Goffin e Ferrer. Também não é o mais complicado dos caminhos, mas existe, claro, a grande possibilidade de ver Djokovic (ou Nadal) nas semifinais.

Logo, os grandes sortudos do dia ficaram na outra metade da chave. Roger Federer, cabeça 2 e na outra extremidade, vai ter bastante tempo para fazer aqueles "treinos com torcida" na Chatrier. Estreia contra um quali, depois enfrenta quali/Granollers e Karlovic/Baghdatis até, talvez, encontrar Gael Monfils nas oitavas. Embora não tenha feito uma grande temporada de saibro, o francês jogará em casa e com o retrospecto de duas vitórias nos dois últimos encontros com o suíço. Se acontecer, será um daqueles jogos com muita expectativa e torcida barulhenta. E, nas quartas, Federer enfrentaria o-freguês-Wawrinka.

O maior vencedor do dia, porém, talvez tenha sido Kei Nishikori. Cabeça 5, o japonês tem como adversário mais forte Tomas Berdych – o provável adversário de quartas de final. Antes, pega Mathieu na estreia e, depois, Matosevic/Bellucci, Verdasco e Bautista/Feliciano/Delbonis. Talvez tenha chegado o momento de Nishikori dar aquele passo adiante e finalmente se mostrar como postulante frequente às semifinalistas de Grand Slams – até agora, soma apenas a boa campanha no US Open do ano passado. E, é bom dizer, uma semifinal de Roland Garros contra Federer (leia-se "escapando de Djokovic e Nadal") não é o pior dos cenários, certo? Obviamente, o suíço deve estar pensando o mesmo: "antes Nishikori que os outros dois."

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Os brasileiros

Primeira rodada acessível, segunda fase dura. O mesmo pode ser dito de Thomaz Bellucci e Feijão. O número 1 do país, que está na final do ATP de Genebra, estreará em Paris contra o imprevisível australiano Marinko Matosevic. Se vencer, provavelmente terá de colocar sua consistência em prova contra Kei Nishikori. Feijão, que amarga uma série de oito derrotas, encara o espanhol Daniel Gimeno-Traver. Se espantar a má fase, possivelmente enfrentará David Ferrer. Difícil imaginar um brasileiro na terceira rodada.

O que ver (ou não) na TV

Difícil saber como será a transmissão para o Brasil, já que o Band Sports pouco deu detalhes sobre como seria e houve boatos de que o canal iria com equipe reduzida a Paris. Inclusive até hoje não há informação no site do BS sobre o segundo canal, aberto nos anos anteriores para assinantes da Sky.

Independentemente disso, a chave não foi muito generosa com o público na primeira rodada. São poucos os confrontos com alguma expectativa para os primeiros dias. Na segunda rodada, a coisa melhora pouco. Talvez tenhamos Nadal x Almagro/Dolgopolov, mas nada de confrontos entre grandes nomes. Vale ficar de olho para Murray x Kyrgios e Berdych x Fognini (um jogão em Roma) na terceira rodada, mas a coisa só deve esquentar mesmo a partir das oitavas.

Para o Brasil, claro, fica a expectativa de Bellucci x Nishikori e Feijão x Ferrer. O primeiro confronto, principalmente, pode ser uma bela partida.

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O que pode (ou não) acontecer de mais legal

No cenário dos sonhos, as oitavas começariam com Federer x Monfils. Partida com potencial de zebra, envolvendo tenista da casa e com muita coisa em jogo. Quem passar avança no quarto teoricamente mais acessível do torneio. Uma derrota seria uma chance enorme perdida por Federer. Uma vitória, por outro lado, abriria o caminho para, quem sabe, uma final que nem era tão esperada assim até umas semanas atrás. Será? De qualquer modo, seria um jogo pra qualquer fã de tênis lamber os beiços.

O tenista mais perigoso que ninguém está olhando

Pelo que li por aí das análises de chaves, dois nomes estão um pouco "esquecidos". Um deles é o do próprio Monfils. Como já escrevi lá no alto, o francês não brilhou tanto assim nos torneios recentes, mas seu caminho até as oitavas não é tão duro assim. Logo, se conseguir aproveitar torcida, piso e repetir o triunfo sobre Federer, abre-se uma janela gigante.

O outro é Thomaz Bellucci, que somou bons resultados no saibro europeu, voltará ao top 50 na segunda-feira (ganhando ou não a final de Genebra) e também entrou na metade menos dura de Roland Garros. Obviamente, o brasileiro será um azarão e tanto se enfrentar Nishikori na segunda rodada. Mas e se vencer? O caminho até as quartas teria como rivais mais fortes Verdasco, Bautista Agut e Feliciano López. Em boa fase, Bellucci é muito bem capaz de derrotar os três.

Quem pode (ou não) surpreender

O quarto de chave com Murray e Ferrer não está nada, nada, garantido com britânico e espanhol se enfrentando nas quartas. A seção de Môri, especialmente, tem dois nomes perigosos: Nick Kyrgios e John Isner. O australiano, que estreia contra Istomin e pega um quali se avançar, pode encarar o escocês já na terceira fase. Caso não mostre os porquês de seguir invicto no saibro, Murray corre um grande risco nesse jogo. E quem vencer o duelo provavelmente terá Isner pela frente nas oitavas. O americano, que muita gente ainda não vê como ameaça em Roland Garros, vem de boas campanhas na Europa e não pode ser descartado.

Nas casas de apostas

Na casa australiana sportsbet, Novak Djokovic (surpresa!) lidera as cotações. Um título do sérvio paga 1,91 para cada "dinheiro" apostado nele. Em seguida, vêm Nadal (5,5), Murray (7,00), Federer (9,00) e Nishikori (13,00). Bellucci paga 301,00, enquanto a cotação de Feijão é de 501,00 – é quem paga mais, junto com duas dúzias de outros azarões.

Na britânica WIlliam Hill, a situação não é muito diferente. Djokovic (5/6 – cinco "dinheiros" pagos para cada seis apostados em caso de título) lidera, seguido por Nadal (7/2), Murray (9/1), Federer (11/1) e Nishikori (12/1). Bellucci paga 500/1, o mesmo que Feijão.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.