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Saque e Voleio

Sobre balões, doppelgangers e favoritismo

Alexandre Cossenza

18/05/2015 08h00

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Mais uma semana no saibro, mais um título de Novak Djokovic, mais uma atuação abaixo do esperado de Rafael Nadal. O Masters 1.000 de Roma teria sido mais interessante se Andy Murray não tivesse abandonado e se Stan Wawrinka tivesse dado as caras na semifinal, mas há, assim mesmo, um bocado de pontos interessantes a levantar sobre os últimos dias.

Novak Djokovic terminou o torneio de forma espetacular. Deu respostas a tudo que Federer tentou. Fez curtinhas, devoluções vencedoras e sacou como nunca. Sua velocidade lateral e seus contragolpes foram muitos e com muita frequência para o suíço. Como sempre, Nole também usou ângulos magistralmente, conseguindo manter o rival na defensiva em muitos momentos. Não foi uma semana perfeita, mas foi uma final fantástica do sérvio.

Em números, Djokovic agora tem 22 vitórias seguidas no circuito – e são 37 se contarmos apenas os torneios de nível mais alto (Masters, ATP Finals e Grand Slams). O número 1 do mundo venceu todos Masters que jogou em 2015 (Indian Wells, Miami, Monte Carlo e Roma) e chegará a Roland Garros invicto no saibro, mais favorito do que nunca a completar seu Career Slam (todos os títulos de Grand Slam, mesmo que em temporadas diferentes).

Nole perdeu sets em três jogos na semana, mas em apenas um teve de correr atrás. Foi contra Thomaz Bellucci, que fez uma belíssima apresentação durante a maior parte do tempo. Sobre essa partida em especial, vale destacar o momento em que, no começo do segundo set, Djokovic resolveu usar bolas mais altas e mais lentas. Fez isso uma vez e ganhou o ponto (vejam no vídeo abaixo). E, coincidência ou não, foi naquele mesmo game que o sérvio quebrou o serviço Bellucci pela primeira vez, iniciando a virada. A partida tomou um rumo diferente a partir dali.

Balões não são um meio de vida nesse nível. Tanto que Djokovic tentou o mesmo no ponto seguinte e levou um winner. Mas variar peso e altura de bola, especialmente se o oponente se mostra confortável do fundo de quadra, é um recurso interessante. Possivelmente não teria funcionado por muito tempo. Deu, no entanto, o resultado que Nole precisava naquele momento. Leitura de jogo e mudanças táticas são qualidades um tanto menosprezadas em tenistas tão talentosos como o sérvio. Ainda há quem o considere um robô devolvedor de bolas. Bobagem (e Djokovic já seria espetacular se fosse "só" isso). Inteligência e variação ganham jogo. E o atual número 1 é o tenista mais completo da atualidade.

Sobre Thomaz Bellucci, as três últimas semanas são animadoras. Fez quartas de final em Istambul, furou o quali e avançou uma rodada em Madri, e foi uma fase ainda mais longe em Roma. Bons resultados, ainda que com um par de chances desperdiçadas pelo caminho (escrevo o post antes do ATP de Genebra).

Talvez seja mais interessante basear o otimismo no conjunto das três semanas e não na atuação diante de Djokovic. Bellucci, afinal, tem um quê de doppelganger. Não é de hoje que o paulista faz partidas excelentes contra grandes tenistas como Nole, Federer e Nadal, mas também sofre com atuações bem abaixo do esperado contra adversários com menos recursos. Vale lembrar que sua última partida contra o sérvio (aquela excelente semifinal de Madri/2011) foi seguida de um revés diante de Paolo Lorenzi, então número 148 mundo. Logo, cabe uma pitada de cautela nesse otimismo bellucciano pré-Roland Garros.

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O curioso sobre o cenário do saibro este ano é que, segundo a maioria das casas de apostas, Andy Murray é o terceiro mais cotado ao título do Grand Slam parisiense. O escocês, afinal, chegará à capital francesa invicto no piso – ganhou Munique e Madri e desistiu em Roma alegando cansaço (méritos por não usar o cada vez mais popular recurso de inventar uma lesão). Está em boa fase e tem tantas armas que candidata-se seriamente ao título – pela primeira vez.

Federer é o quarto e, às vezes, o quinto nome nas casas de apostas (há quem coloque Nishikori à sua frente na lista de favoritos). Ninguém duvida que o suíço seja capaz de ir longe em Paris, mas derrotar Djokovic ou Nadal em uma melhor de cinco sets no saibro parece menos provável a cada dia. Apesar do ótimo resultado em Roma, Federer ainda é quem mais oscila nesse grupo de cima.

O segundo nome mais cotado ainda é o de Rafael Nadal. Pesa, nitidamente, o histórico de nove títulos em Paris. Entra nessa conta também o fato de Roland Garros ser disputado em melhor de cinco sets, onde sua consistência costuma fazer diferença. Ah, sim: para muitos, falta pouco para o espanhol reencontrar o caminho até as vitórias. Nas últimas três derrotas, jogou um belíssimo tênis em alguns momentos. Faltou, porém, encaixar sequências e aproveitar as quebras de vantagem que teve contra Fognini e Wawrinka. Nadal ainda terá uma semana até o começo de Roland Garros e, provavelmente, outra semana para calibrar seu jogo até encontrar os adversários mais fortes da chave.

O ponto de interrogação continua e, com Nadal em sétimo lugar no ranking, o sorteio da chave de Roland Garros pode fazer uma diferença enorme no resultado final. Resta esperar até lá.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.