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Saque e Voleio

Sobre Murray e o mais intrigante dos cenários no saibro

Alexandre Cossenza

11/05/2015 08h00

Murray_Madri_F_afp_blog

Após quatro semanas de torneios na Europa, todo mundo já sujou as meias e deu aquelas raquetadas no tênis para tirar o saibro da sola. Logo, o circuito já passou por um CTRL+Z no blur e começa a ficar claro quem é quem no período que antecede o Grand Slam da terra batida. É o momento, então, de avaliar em que pé estão os principais candidatos ao título de Roland Garros.

O nome do momento, claro, é Andy Murray. O britânico, que nunca venceu um torneio de ATP no saibro como solteiro, casou-se na semana de Monte Carlo e não perde desde então. Faturou Munique, um torneio tumultuado pela chuva e que só terminou na segunda-feira, e deu sequência com uma semana fantástica em Madri. Nas semifinais, derrubou Kei Nishikori – campeão em Barcelona – e, na decisão, superou Rafael Nadal em menos de 1h30min, num 6/3 e 6/2 surpreendentemente sem drama. Um resultado que o coloca instantaneamente como forte candidato ao título em Paris – não confundir "forte candidato" com "favorito", por favor.

Sobre as campanhas do escocês, que soma nove vitórias seguidas, vale apontar alguns pontos. O mais importante deles é que Murray vem usando bem todos seus recursos – que não são poucos – e variando inteligentemente o jogo de acordo com adversário e momento. Na final, sacou muito bem quando esteve diante de break points e distribuiu o jogo do fundo de quadra, encontrando um equilíbrio quase perfeito, sem correr riscos desnecessários numa noite em que Nadal estava claramente jogando um tênis abaixo de seu normal.

O outro ponto a destacar foi a pitada de sorte na chave. Murray chegou a Madri atrasado por causa da final na segunda-feira em Munique e deve ter ficado um tanto feliz ao saber que seu primeiro adversário seria Philipp Kohlschreiber, o mesmo que derrotou no torneio alemão. Não só pelo triunfo recente, mas porque não seria necessário encarar um oponente mais descansado ou mais adaptado às condições de Madri. De resto, jogou muito tênis e fim de papo. Em sete dias, colocou-se entre os nomes mais fortes em Paris.

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Rafael Nadal, por sua vez, continua com um ponto de interrogação de tamanho considerável sobre sua bandana. Ao longo dos três torneios que disputou (Monte Carlo, Barcelona e Madri), foi evoluindo e, quando fez uma ótima partida contra Tomas Berdych na semifinal do último sábado, levou muita gente a acreditar que atropelaria na final. Pois viveu outro dos dias inconstantes que vêm lhe incomodando desde o início da temporada. Não me parece alarmante, ainda que seja incomum vê-lo ficar três semanas sem ser campeão no saibro.

Vale a ressalva: boa parte da preocupação com os resultados do ex-número 1 do mundo vem de seu currículo no saibro: nove títulos em Roland Garros, oito em Monte Carlo, oito em Barcelona e sete em Roma. Tamanho domínio não duraria para sempre. E já não aconteceu no ano passado, quando, lembremos, Nadal tornou-se eneacampeão em Paris. A falta de títulos em 2015 talvez signifique que o espanhol não será tão favorito quanto em outras temporadas, mas ainda será um feito e tanto se alguém derrotá-lo na terra batida em um jogo melhor de cinco sets.

O grande favorito ainda é Novak Djokovic, e sua ausência em Madri não enfraqueceu em nada seu status – pelo menos nos olhos de seus oponentes. Para muitos, Andy Murray só levantou o Dildo Dourado (vide foto acima) porque o número 1 do mundo não esteve na capital espanhola. Portanto, o sérvio ainda chega (descansado!) a Roma como o homem a ser batido no momento.

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Quanto a Roger Federer, o torneio de Istambul provou-se inconclusivo. Somando Monte Carlo e Madri, o suíço fez três jogos e perdeu dois – em chaves complicadas, é bom frisar. A derrota para Nick Kyrgios na Espanha foi tão precoce que quase forçou o número 2 do mundo a ir a Roma, que não estava nos planos. Ainda há tempo para adquirir ritmo e confiança, já que o sorteio italiano lhe foi mais favorável. Por enquanto, Federer corre por fora, talvez emparelhado com Kei Nishikori, que venceu Barcelona (onde escapou dos nomes mais fortes da chave) e fazia um grande torneio em Madri até esbarrar em Murray.

Também fazendo a curva por fora, mas alguns corpos atrás, vem uma turma com Berdych, Isner, Kyrgios (os três estavam no quadrante de Federer em Madri!), Raonic e Ferrer. Wawrinka e Dimitrov também estão por ali. Todos esses nomes são capazes, no dia certo, de derrotar qualquer nome na chave. Logo, o cenário que se desenha para Roland Garros é o mais interessante dos últimos tempos.

Coisas que eu acho que acho:

– O jejum era curioso, mas não tão difícil assim de explicar. Murray nunca deu preferência ao saibro em seu calendário e jogou pouquíssimos torneios pequenos. Quando jogou um bom tênis no piso, sempre esbarrou em Nadal ou Djokovic. Sempre foi, no entanto, curioso como alguém com tantos recursos, ótimos golpes com top spin e boa velocidade para se defender levou tanto tempo para levantar um troféu na terra batida.

– A falta de tempo (leia-se "Dia das Mães" neste caso) não me permitiu escrever um texto apenas para a chave feminina. Vale registrar, porém, a semana espetacular de Petra Kvitova, que atropelou Serena Williams na semifinal e fez o mesmo com Svetlana Kuznetsova na decisão. A tcheca não vem conseguindo resultados consistentes ultimamente e optou por não ir a Indian Wells e Miami. Desde então, venceu oito jogos e perdeu apenas um. E quando tudo encaixa em seu jogo, que tem um bocado de opções, até Serena encontra problemas.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.