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Saque e Voleio

O cartão de visitas de Orlandinho

Alexandre Cossenza

05/05/2015 08h00

Orlandinho_SP_JoaoPires_blog

Até duas semanas atrás, o principal juvenil brasileiro tinha no currículo apenas uma participação em torneios da série Challenger. Foi em 2013, em Porto Alegre, onde venceu dois jogos, mas não conseguiu furar o qualifying. Logo, quando Orlandinho aceitou o wild card para jogar em Santos criou-se uma bela expectativa para ver o que, dessa vez, a maior promessa brasileira teria a mostrar em um torneio desse nível. Era a hora de apresentar metaforicamente seu cartão de visitas.

O resultado foi agradavelmente surpreendente, e o gaúcho de 17 anos saiu da cidade com uma inédita semifinal. E se contou com uma pitada de sorte no torneio (enfrentou o colega de juvenil Marcelo Zormann nas oitavas e ganhou por desistência nas quartas), não teve o mesmo na semana seguinte, quando alcançou as quartas em São Paulo – outro torneio com premiação de US$ 50 mil.

Só que mais do que os pontos somados (44), o dinheiro da premiação (US$ 3.970) ou as posições conquistadas no ranking (saltou do 964º posto para o 543º), Orlandinho mostrou um jogo bacana de ver e, ainda mais do que isso, personalidade. Com um tênis agressivo, misturando bons saques, uma direita perigosíssima e curtinhas corajosas, o gaúcho não se mostrou intimidado pelo mundo profissional (até em Futures sua experiência é modesta) ou por fazer partidas em horário nobre.

Em São Paulo, a capital brasileira do tênis, Orlandinho venceu uma partida depois de salvar match point (contra o francês Alex Musialek, 284 do mundo) e, na rodada seguinte, depois de uma partida longa e sem muito tempo para descanso, repetiu a dose salvando match points e forçando o argentino Guido Pella (159 do mundo) a jogar um terceiro set que só acabou no 12º game. Não é pouco, considerando que o "hermano" acabou com o título de campeão do torneio.

Orlandinho também deu declarações interessantes. Ao mesmo tempo em que se disse preparado para jogar torneios deste nível e "no nível desses caras" (Challengers ainda são um tanto superiores a seu ranking), o adolescente afirmou que "as pessoas acham que eu vou disparar no ranking do nada, mas ainda tenho que treinar bastante para evoluir." Nada mau para quem ainda jogará torneios juvenis. Seus próximos quatro eventos serão na Europa. O último deles será Roland Garros, onde, aceitando ou não a pressão, Orlandinho estará entre os favoritos.

Orlandinho_Santos_JoaoPires_blog

Coisas que eu acho que acho:

– O otimismo em relação a Orlandinho rendeu até títulos do tipo "Orlandinho supera Guga". Embora seja compreensível vindo da assessoria do torneio (cuja tarefa é mesmo chamar atenção para o evento), é algo que precisa ser avaliado antes de ser reproduzido ao grande público. Orlandinho, sim, venceu seu primeiro jogo em um Challenger com menos idade do que Gustavo Kuerten. Vale, contudo, lembrar que sucesso como juvenil é apenas um dos parâmetros que servem para indicar o potencial de um garoto. José Nilton Dalcim fez um ótimo texto colocando tudo em seu devido lugar. É leitura obrigatória.

– Gostaria de ter publicado este texto um pouco mais cedo, mas não vem sendo possível postar tudo que quero e, principalmente, quando quero. Ainda assim, a ideia é deixar aqui os registros do que penso, imediatamente depois dos fatos ou não.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.