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Saque e Voleio

A lição de Teliana

Alexandre Cossenza

20/04/2015 09h47

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É possível. Simples assim. Uma menina que nasceu no sertão de Pernambuco e foi praticamente adotada junto com seus irmãos por um treinador (Didier Rayon) no Paraná, passou por duas cirurgias no joelho quando vivia o melhor momento da vida, voltou a sentir dores cinco anos depois, novamente quando passava por uma ótima fase… E hoje Teliana Pereira é campeã de um torneio de nível WTA.

Foi o primeiro resultado deste porte de uma tenista brasileira desde 1988 (Niege Dias foi campeã em Barcelona naquele ano), mas a ideia deste post não é dramatizar além da conta a história da número 1 do Brasil nem exagerar no tamanho do feito (enorme) de Teliana. Ela não precisa disso.

A intenção aqui é lembrar que a pernambucana de 26 anos nunca desistiu. Nem mesmo sua recuperação da lesão no joelho direito lá atrás, em 2009, parecia sem fim. Teliana enfrentou dificuldades até com plano de saúde. Quando, enfim, voltou a jogar teve também diferenças com a CBT (que cedeu quando ficou claro que ela retornaria ao posto de número 1 do país).

Teliana persistiu, mesmo sabendo que nunca teve o melhor forehand nem o saque mais potente do circuito. Sempre tentou compensar com o físico o que lhe faltou em técnica e potência. Lutou dia sim, dia não, contra adversárias que tiveram (e ainda têm) melhores condições para treinar e viajar pelo circuito.

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Agora, cinco anos depois daquela lesão, Teliana completa duas semanas de dez vitórias e nenhum set perdido. Depois de ser campeã em Medellín, um torneio com premiação de US$ 50 mil (era seu maior título na vida), a brasileira triunfa em Bogotá, onde derrubou nomes como Francesca Schiavone, campeã de Grand Slam e atual 70ª do mundo, Elina Svitolina, 27ª do ranking e cabeça de chave 1 em Bogotá, e Yaroslava Shvedova, 75ª na lista da WTA (os rankings citados aqui são os do início do torneio).

O leitor pode dizer que "a chave era fraca" ou que "o torneio está na contramão do circuito" – as duas afirmações são verdadeiras – mas vale colocar tudo em contexto. Sim, é verdade que Bogotá é um torneio único, jogado na altitude, em condições bem especiais. Mas é preciso lembrar que Teliana passou a maior parte de sua carreira caçando pontinhos aqui e ali em torneios de US$ 25 mil até que conseguiu, no ano passado, disputar os quatro Grand Slams na mesma temporada – feito raríssimo no tênis feminino por aqui.

Um mês e meio atrás, a número 1 do Brasil estava sendo derrotada em Curitiba, nas oitavas de final de um torneio de US$ 25 mil por Paula Gonçalves, número 286 do mundo. Logo, vencer, em semanas consecutivas, os dois maiores títulos da carreira – e um deles, em nível WTA! – é um feito enorme para Teliana Pereira. Ou para qualquer brasileira. Ou brasileiro. Ou sul-americano.

Coisas que eu acho que acho:

– Importante registrar: Bia Haddad, 190 do mundo, e Paula Gonçalves, 278, conquistaram o título de duplas do WTA de Bogotá. Na final, as brasileiras derrotaram as americanas Irina Falconi e Shelby Rogers por 6/3, 3/6 e 10/6.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.