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Saque e Voleio

Feijão: uma vitória sem match point

Alexandre Cossenza

08/03/2015 19h47

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Foram 11h39min em quadra, 807 pontos disputados, dez sets jogados, dez match points salvos e um recorde quebrado. João Souza deixa Buenos Aires com uma vitória improvavelmente fantástica contra Carlos Berlocq, a honra de ter disputado a partida de simples mais longa da história da Copa Davis (6h42min na derrota para Leo Mayer), e um currículo com a adição de, somando sexta-feira e domingo, um fim de semana épico, histórico, titânico… Boyhoodiano!

No que foi possivelmente a maior atuação de um brasileiro na Copa Davis desde Guga em Lérida/1999, Feijão não conseguiu dar a vitória ao time brasileiro, mas deixou em quadra muito mais do que isso. Mostrou coragem em pontos importantes, foi persistente (nas muitas e muitas vezes) quando tudo parecia perdido e teve raça quando o corpo não respondia mais. Apagou as dúvidas que (supostamente) existiam sobre seu preparo físico e, muito mais do que isso, deu à torcida alguém por quem ela pode ter orgulho de torcer – na vitória ou na derrota. Mesmo sem match point para chamar de seu, Feijão foi um vencedor.

Mayer, que lutou bravamente quando também estava exausto, mereceu vencer e estender o confronto. E seria igualmente justo se tivesse fechado a partida antes. Abriu 7/6(4), 7/6(5) e 3/0 e parecia estar no controle das ações. Só não contava com uma furiosa reação do número 1 do Brasil. Onde muitos tenistas veriam areia movediça, João Souza enxergou uma escada. Virou um set quase perdido, ganhou mais um e forçou a quinta parcial. Então, lutando contra as limitações do corpo, salvou match point atrás de match point. Foram dez ao todo.

O único pecado, tão perdoável quanto soa injusto chamar de pecado qualquer falha nessas condições, foi não confirmar o serviço quando teve 6/5. Paciência. Se chegou à chance de fechar a partida foi porque, antes, anulou muitas e muitas chances do adversário. Àquela altura, tudo parecia lucro. O curioso – e elogiável – é que agora, pós-ponto derradeiro, a sensação não é muito diferente. Ninguém vai enfatizar o 12º game que escapou nem a direita que saiu quando Mayer sacava em 15/30 no 27º game. A imagem que fica é a do "lucro". Da batalha, da raça, da fé, da esperança, do orgulho de torcer. Feijão foi hercúleo e é isso que importa.

#feijãomágico

Coisas que eu acho que acho:

– O quinto ponto foi suspenso quando Thomaz Bellucci perdeu o primeiro set para Federico Delbonis por 6/3. O número 2 do Brasil começou mal, viu o tenista da casa abrir 5/1 e, quando "entrou" no jogo, já era tarde. A partida recomeça às 11h desta segunda-feira, e o Brasil continua a três sets das quartas de final da Davis.

– Logo que a última partida começou, li muitas críticas a Bellucci nas redes sociais. Tidas acentuadas, claro, pelo contraste de estilos e pelo fim de semana espetacular de Feijão. Entendo até certo ponto, mas não acho justo usar o brilho de um para ofuscar o outro. Criticar a postura de Bellucci na Davis é esquecer de atuações memoráveis como a virada sobre Alejandro Falla, os dois triunfos sobre a Espanha e a vitória sobre John Isner nos Estados Unidos. Feijão foi monstruoso, sim, mas isso não faz de Bellucci nem mais nem menos.

– Uma derrota brasileira significaria uma repescagem dura, mas provavelmente em solo brasileiro. Entre os possíveis cabeças de chave da repescagem estão República Tcheca, Suíça, Itália, Estados Unidos, Alemanha, Croácia e Japão/Canadá. E ainda existe a possibilidade de a Espanha alcançar os playoffs via Zonal da Europa. Não seria nada fácil para o Brasil.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.