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Saque e Voleio

Feijão: para apagar dúvidas e salvar o dia

Alexandre Cossenza

06/03/2015 19h32

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Em um breve instante, ficou muito claro. Feijão perdia o jogo por 2 sets a 1 e vivia seu pior momento, sacando em 1/3 e 15/40 na quarta parcial. O poço parecia fundo demais. Já se passavam 4h de duelo. Foram dois break points salvos e quatro igualdades, mas o número 1 do Brasil confirmou aquele saque. No último ponto, uma comemoração intensa. Olhos bem abertos, punho fechado. Não era alívio, era vontade de continuar ali. Ali, naquele segundinho, deu para ver. Feijão poderia perder a partida, mas não se entregaria mental nem fisicamente.

O atual número 1 do Brasil comportou-se como seu posto de líder exige. Ficou em quadra e brigou até que, depois de outras duas igualdades, devolveu o saque de Carlos Berlocq e empatou o set. Mas teve mais. Feijão ainda salvou um break point antes de abrir 4/3 e embalar para quebrar de zero o argentino. O que faltou de decisão no terceiro set (Feijão teve três set points – dois no saque – e não fechou) sobrou no quarto. Sacando em 5/3, o paulista ainda escapou de duas chances de quebra antes de fazer 6/3 e adiar a decisão para o quinto set.

Berlocq abriu a parcial decisiva vibrando e chamando a torcida. Uma tática inteligente contra um Feijão que disputava seu primeiro quinto set na vida. No fim das contas, mostrou-se uma estratégia desesperada. Além das 4h de jogo, o argentino não tinha mais físico para correr atrás dos forehands de Feijão como vinha fazendo até então. Tentou dar curtinhas e até teve sucesso moderado, mas ninguém vive disso. Tentou, então, agredir um pouco mais, só que também errou um pouco mais. Enquanto isso, Feijão, inteiro no fundo de quadra, seguia distribuindo pancadas. No fim, sem piscar, o brasileiro comemorou uma vitória maiúscula por 6/4, 3/6, 5/7, 6/3 e 6/2.

Mais do que um lindo resultado e mais até do que um importantíssimo ponto em Grupo Mundial de Copa Davis, Feijão deu ao país inteiro uma prova de sua maturidade como tenista. Em seu primeiro jogo fora de casa vestindo as cores do Brasil, jamais se deixou atrapalhar pela torcida, mostrou força mental para superar um momento duríssimo e deixou claro que tem condições físicas de encarar partidas longas, sob forte calor, chegando ao fim melhor do que o adversário. Uma atuação para apagar quaisquer dúvidas que o capitão João Zwetsch (ou qualquer outra pessoa na CBT) ainda tivesse sobre sua capacidade de defender o país.

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Um brilha, um oscila

O primeiro ponto, conquistado por Feijão, fez-se mais importante ainda na medida em que Thomaz Bellucci não fez um grande começo de jogo contra Leo Mayer. Enquanto o tenista argentino mostrava-se mais sólido e no controle da maioria dos ralis, o número 2 brasileiro pouco brilhava. Um lampejo no terceiro set, impulsionado por um momento instável de Mayer, deu sobrevida a Bellucci, que conseguiu forçar um quarto set.

Só que o paulista nunca teve o controle das ações. O tenista da casa, número 29 do mundo, voltou a mostrar um tênis mais sólido e aproveitou a porta que Bellucci lhe abriu depois de fazer 40/0 no oitavo game. No fim, o placar de 6/4, 6/3, 1/6 e 6/3 refletiu bem a superioridade de Mayer.

Coisas que eu acho que acho:

– Contra quem quer que seja, a dupla brasileira será favorita. Acredito que a escalação (ou não) de Berlocq neste sábado vai dizer um bocado sobre as intenções de Orsanic para o domingo. Caso Charly entre em quadra para as duplas, deve ser substituído no domingo. Se descansar, aumentam suas chances de estar em quadra no último dia do confronto.

– É aí que entra em jogo a força do conjunto argentino. Diego Schwartzman e, principalmente, Federico Delbonis são duas ótimas opções para as simples. Orsanic não tem um tenista que desequilibre um confronto, mas pode trocar nomes aqui e ali e não perder poder de fogo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.