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Saque e Voleio

Copa Davis: Argentina, Brasil e quatro jogos imprevisíveis

Alexandre Cossenza

06/03/2015 06h00

Nesta sexta-feira, às 11h (de Brasília), começa um dos confrontos mais interessantes dos últimos tempos envolvendo o Brasil na Copa Davis. E não digo isso só pela óbvia importância de valer pelo Grupo Mundial. O rival, a Argentina, e o palco, Buenos Aires, dão um ar especial. A rivalidade existe. O ambiente para as partidas promete ser fantástico. E não é nada mau (a não ser para os times) que quatro das cinco partidas sejam equilibradíssimas no papel. Vejamos, então, o que pode fazer diferença nos próximos três dias.

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Jogo 1. Carlos Berlocq x João Souza

O sorteio ajudou a Argentina aqui. Berlocq, número 3 do país e 67 do mundo, foi escalado pelo capitão Daniel Orsanic por sua experiência. Em Copas Davis, já são 11 confrontos, sempre pelo Grupo Mundial. Feijão, por sua vez, fez duas partidas – e perdeu a única que realmente valia. Somemos isso à torcida e ao barulho, e Berlocq entra como favorito.

Feijão tem a seu favor a vitória no único jogo entre eles. O encontro foi no saibro, mesmo piso de Buenos Aires, mas no distante ano de 2011, em um Challenger. Não serve como parâmetro. O número 1 do Brasil também vive ótimo momento no circuito, o que sempre conta, mas o piso mais lento de Buenos Aires (comparado com as condições de São Paulo e Rio de Janeiro) deve ajudar Berlocq.

As variações

Ainda sobre este duelo, Berlocq talvez não fosse o nome ideal para Orsanic escalar contra Feijão. Talvez fosse mais interessante para a Argentina ter Berlocq enfrentando Bellucci e forçando uma partida longa (e no calor!) para, em seguida, Diego Schwartzman enfrentar Feijão – Schwartzman, lembremos, venceu os três jogos entre eles. Só que Dieguito está quatro posições acima de Berlocq no ranking, o que significa que se Orsanic escalasse os dois para o primeiro dia, Schwartzman teria de enfrentar Thomaz Bellucci, o número 2 brasileiro.

Aliás, a grande vantagem argentina no duelo é ter uma equipe relativamente homogênea, com quatro tenistas que podem atuar nas simples e ganhar. Não será surpresa alguma se Orsanic recorrer a Schwartzman no domingo para enfrentar Feijão, deixando Berlocq para encarar Bellucci em um eventual jogo decisivo.

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Jogo 2. Leonardo Mayer x Thomaz Bellucci

No ranking, Mayer, 29º do mundo, é o favorito. Trata-se, porém, de uma vantagem pouco ou nada palpável. Bellucci tem mais bola e, em um dia normal, leva vantagem sobre o rival em alguns aspectos importantes. O retrospecto de três vitórias em cinco jogos (um dos triunfos de Mayer foi no longínquo ano de 2007, em um Challenger) reflete essa superioridade do brasileiro.

No entanto, como em tudo que envolve Bellucci, há aspectos intangíveis que podem fazer diferença. O primeiro é o calor. Em um dia ensolarado e com muita umidade, o paulista costuma sofrer. Foi assim contra a Índia, na Copa Davis, e no Australian Open do ano passado. Os episódios que mais preocupam, entretanto, aconteceram justamente no ATP de Buenos Aires, nesta mesma época do ano.

Em 2014, Bellucci abandonou na primeira rodada do quali, ainda no segundo set, mesmo tendo vencido o primeiro. Seu adversário naquele dia era o desconhecido venezuelano David Souto, 222 do ranking. Este ano, o paulista estreou na chave principal contra o italiano Paolo Lorenzi. Já no fim do segundo set, estava esgotado, movimentando-se mal e dando pancadas suicidas. Ganhou a parcial no tie-break, mas só venceu um game no set seguinte. O que, então, esperar em um jogo melhor de cinco sets?

Canal do tempo

Antes que você comece a torcer por um dia nublado e com pouca umidade, aqui vai a previsão para os próximos três dias: sol (alta de 27 graus) com 73% de umidade na sexta-feira, sol (alta de 28 graus) com 69% de umidade no sábado, e sol (28 graus) com 70% de umidade no domingo. Não parece o mais agradável dos ambientes para se jogar um bom tênis.

De consolo, vale lembrar que Mayer não é exatamente conhecido por longas trocas de bola. Seu jogo é baseado em um ótimo saque e pancadas do fundo de quadra. E , especialmente neste caso, quanto menos demorarem os pontos, melhor para Bellucci. Outro ponto para não esquecer: Leo Mayer abandonou sua primeira partida no ATP 500 do Rio de Janeiro (calor, umidade, vocês sabem…) por desidratação. Caso a previsão se confirme, Buenos Aires não estará tão quente quanto a Cidade Maravilhosa, mas vale prestar atenção.

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Dupla é do Brasil

Se um dos cinco jogos previstos para o fim de semana tem um favorito, é este aqui. Marcelo Melo e Bruno Soares, invictos há sete jogos na Copa Davis (sofreram apenas uma derrota na competição), são uma dupla bastante superior a quem quer que entre em quadra pela Argentina. Orsanic escalou provisoriamente Delbonis e Schwartzman para o sábado, mas o mais provável é que haja uma mudança até lá. Não quer dizer que seja um ponto fácil para o Brasil, mas é bobagem esconder o favoritismo de Bruno e Marcelo.

O curioso aqui é apontar o contraste entre os dois mineiros. Enquanto Melo desembarca em Buenos Aires como número 3 do mundo, vindo de um título em Acapulco, Soares é o 12º do ranking, sua pior posição em quase dois anos. Ele e seu parceiro habitual no circuito, Alexander Peya, perderam quatro dos últimos seis jogos que disputaram. Vale conferir se o momento de Soares, que já falou sobre a falta de confiança para vencer jogos, será uma dificuldade a mais na Argentina ou se a atuação ao lado de Melo será um trampolim para dias melhores no circuito.

E o favorito?

O favoritismo é, sim, da Argentina. O time de Daniel Orsanic é mais homogêneo e com mais opções para as partidas de simples. Se é verdade que os quatro jogos são equilibrados – e eu escrevi isto lá no alto do post -, também é fato que o time da casa está mais equipado para os intangíveis. Em caso de lesão ou desgaste de um simplista, a Argentina tem duas peças de reposição confiáveis. E, não esqueçamos, o clima e a torcida da casa jogarão a favor dos hermanos.

Feijão e Bellucci, claro, têm condições de vencer qualquer dos quatro confrontos de simples. Ainda assim, uma vitória brasileira será considerada surpresa. Assim está sendo nas casas de apostas. A bet365, por exemplo, paga 2:7 (dois dólares para cada sete apostados) em caso de vitória argentina. Se der Brasil, o apostador recebe 5:2. Na australiana Sportsbet, não é muito diferente. As cotações são de 1,31:1 para triunfo argentino e 3,21:1 para vitória brasileira.

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Coisas que eu acho que acho:

– Já expliquei brevemente no Facebook, mas acho que é o caso de deixar claro aqui também. Por causa de um problema de saúde na família (algo delicado, mas nada grave, felizmente), o blog andou parado por uns dias. Passei quatro das últimas seis noites em hospitais. Sem internet – a não ser a do celular – e com outras prioridades, tive pouco tempo para postar. Fiz meus poucos comentários tenísticos em um punhado de tuítes. Não sei se conseguirei ver todas as partidas nem se poderei postar todos os dias, mas tentarei o possível. Agradeço aos que compreenderem, assim como aos que já enviaram mensagens desde ontem.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.