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Saque e Voleio

Que o fim não esteja tão próximo

Alexandre Cossenza

23/02/2015 12h00

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Troféu garantido e microfone na mão, David Ferrer fez um emocionado agradecimento aos árbitros do circuito mundial. Agradeceu a todas pessoas que viajam e se sacrificam para que possam trabalhar em tantas partidas ao longo do ano. Seria um discurso um tanto incomum se o espanhol de 32 anos não tivesse feito a seguinte introdução: "Nunca se sabe quando será o último, então quero aproveitar a oportunidade para…"

David Ferrer estava feliz como poucas vezes é possível notar por seu comportamento discreto dentro e fora de quadra. Um pouco pela importância do título conquistado no Jockey Club Brasileiro. Era, afinal, um ATP 500, com pontos valiosos em jogo. Mas também um pouco porque o espanhol sabe que o fim se aproxima. Ferrer vem de cinco excelentes temporadas, mas sabe que a turma mais jovem vem chegando. Até por isso, somou em 2014 seu menor número de pontos (4.045, contra 5.800 em 2013, 6.505 em 2012 e 4.925 em 2011).

Na coletiva, de chinelos e com o troféu ao seu lado na mesa da sala de imprensa, Ferrer lembrou das ascensões de Wawrinka, Cilic e Nishikori. Lembrou também que teve dificuldade em se reencontrar após se separar de Javier Piles, técnico com quem trabalhou por 15 anos. Não poderia mesmo ser fácil.

"Não foi um ano ruim (2014). Consegui 4.200 pontos. Em outros anos, consegui vaga no Masters sem conseguir tantos pontos (aconteceu em 2010). O que é certo é que perdi um pouco de tranquilidade. Também havia me separado do meu antigo treinador, e não foi fácil me situar novamente, mas foi um bom ano. Fiquei contente por acabar como top 10. É cada vez mais difícil. Nishikori, Cilic e Wawrinka em forma genial. É mais complicado, a cada ano, manter-se entre os dez primeiros. Este ano tento o mesmo. Ficar competitivo contra os melhores jogadores do mundo. É meu único objetivo porque gosto do tênis."

No Rio de Janeiro, Ferrer fez um torneio competente e discreto – características que leva ao mundo quase todo. Não reclamou da bola (que Rafael Nadal e Bruno Soares criticaram duramente); constatou, mas não se queixou do calor; evoluiu tecnicamente durante a semana; e fez grandes jogos quando precisou. A final, contra Fabio Fognini, foi menos emocionante do que o público gostaria. Méritos inteiros para Ferrer. Que o fim não esteja tão próximo.

Coisas que eu acho que acho:

– Sempre gosto quando um dos tenistas pouco apreciados conquista algo maior do que um ATP 250. Ferrer pode não ter as armas necessárias para ser número 1 do mundo, mas tira quase sempre o máximo que seu tênis lhe permite. Há quem diga que Ferrer é só um devolvedor. Que sua bola não anda. Aos que acreditam nisso, sugiro que conversem com um dos muitos fãs que viram de pertinho os treinos do espanhol no Rio de Janeiro.

– Sobre a inesperada derrota de Rafael Nadal – porque toda derrota de Nadal no saibro é inesperada -, escreverei em um dos próximos posts.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.