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Saque e Voleio

Uma puta vitória

Alexandre Cossenza

17/02/2015 08h00

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A melhor história do primeiro dia (de chave principal) do Rio Open foi, sem dúvida, a inesperada vitória de Gabriela Cé, número 261 do mundo, sobre a francesa Pauline Parmentier, 95ª do ranking mundial. A gaúcha de 21 anos apostou em muitas bolas altas na esquerda da adversária e contou com os erros que precisava. Gabriela vibrou, levantou a torcida e, no fim, diante de uma francesa esgotada e cansada de bater na bola, aplicou um pneu, completando sua primeira vitória em um WTA.

A comemoração não poderia ser mais bacana. Gabriela não conseguia esconder o sorriso e, na entrevista para a TV após o jogo, foi tão espontânea que soltou seis vezes a palavra "puta" na conversa ao vivo – o que incomoda alguns puristas incapazes de reconhecer uma linguagem informal e a emoção do momento.

A entrevista coletiva, alguns minutos depois, não foi muito diferente. Com o repórter Felipe Priante fazendo a primeira pergunta e falando de uma "puta vitória", o que provocou risos de todos, Gabriela ainda tinha o sorriso congelado. Seguem os trechos mais interessantes do que a gaúcha falou.

"Acho que tá na minha cara como eu tô me sentindo porque, puta, é muita felicidade. Foi duro, eu me superei em vários momentos e, analisando num geral, acho que lidei bem com a pressão. Não é fácil ter a primeira chave de WTA com uma baita torcida e administrar para fechar o jogo. Dentro das condições, lidei bem. E eu tô feliz demais."

"Quando fechou o segundo set, eu pensei 'puta, mas esse jogo é meu'. Aí o Fernandão (Fernando Roese, técnico) entrou na quadra, me deu uma chamada que foi bem positiva. Entrei no terceiro set a mil por hora, voltei a fazer o que eu vinha fazendo na maior parte do jogo e consegui concretizar com o 6/0 ali no final."

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(indagada sobre quais tinham sido as palavras de Roese)
"Putz… (risos)"
(após o repórter dizer que Gabriela poderia excluir os palavrões)
"É, né? Ele falou, resumindo, que eu tinha que ter decisão, ir para ganhar e, na hora que tivesse o jogo na mão, era ir decidida, com confiança. Era isso, assim, resumindo bem resumido" (mais risos)

(questionada se já havia participado de uma coletiva com tantos repórteres)
"Na verdade, na Fed Cup tinha bastante gente, mas era a equipe o foco, e como eu não joguei as simples, acabei não sendo o foco direto. Sendo o foco, nunca tinha participado, mas acho que eu não tenho muito problema em falar. Acho que é pelo contrário. Até falo demais."

Mais curtinhas cariocas:

– Cheguei atrasado, mas consegui um lugarzinho para ver a dupla de Feijão e André Sá contra Máximo González e Juan Mónaco. Os brasileiros venceram um primeiro set apertado, com break points para cá e para lá, e deslancharam no segundo set (7/5 e 6/0). O ponto alto foi notar o quanto os dois brasileiros se entendem em quadra. A lamentar, um torcedor que ofendeu Mónaco, o que deixou a partida parada por alguns instantes. Até Sá lamentou o incidente.

– Mónaco já teve problema com torcedores embriagados em São Paulo. Leo Mayer, que ouviu absurdos em 2012, quando enfrentou Bellucci, voltou a reclamar este ano, quando enfrentou Feijão no Ibirapuera. É o tipo de situação que só complica a relação Brasil-Argentina. Para piorar, o clima esquenta pouco antes de um confronto de Copa Davis marcado para Buenos Aires.

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– Para quem gosta de ver treinos, o Rio Open tem sido um prato cheio. Nesta segunda, ao mesmo tempo, era possível ver Bellucci e Delbonis em uma quadra, Robredo em outra, e Nadal e Zé Pereira logo ao lado. Vale comprar o ingresso para a sessão diurna e ficar de plantão pelas quadras secundárias.

– No fim do dia, Christian Lindell ainda estava pelo clube, com cara de cansado. O "carioca sueco", que perdeu na última rodada do quali, passou o dia inteiro no Jockey Club à espera de eventuais desistências que o colocariam na chave principal como lucky loser. Como a primeira rodada ainda não acabou, ele e Fabiano de Paula ainda têm esperanças.

– No fim da noite, Guilherme Clezar tinha um jogo ganhável contra Thiemo de Bakker e até venceu o primeiro set, mas deixou escapar a vitória. Enquanto o gaúcho esbraveja consigo mesmo por boa parte do segundo e do terceiro sets (o que não melhorou em nada seu tênis), o holandês seguiu fazendo o básico (bem feito) e vencendo games.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.