Djokovic na cabeça
"Hoje em dia, faz-se necessária uma combinação improvável de fatores para que Djokovic saia de quadra derrotado." Foi assim que encerrei o post anterior sobre Novak Djokovic e sua vitória sobre Stan Wawrinka e é assim que acho justo iniciar este texto sobre o pentacampeonato do sérvio no Australian Open. A vitória sobre Andy Murray por 7/6(5), 6/7(4), 6/3 e 6/0 foi mais uma prova das muitas qualidades do número 1 do mundo.
Por dois sets e meio, Andy Murray fez uma partidaça. Administrou um começo de partida espetacular de Djokovic, distribuiu pancadas com seu forehand, fez o adversário correr, subiu à rede com inteligência e se defendeu bem. Por boa parte das primeiras três horas da partida, o britânico levou vantagem quando conseguiu atacar o backhand de Djokovic e manteve o duelo parelho, apesar de sofrer com um segundo serviço excessivamente vulnerável às devoluções do sérvio.
E aí veio o terceiro set. O número 1, que já havia sido atendido com dores em um dedo no primeiro set e demonstrado dificuldade na movimentação durante um breve período da segunda parcial, voltou a exibir sinais de vulnerabilidade física. "Fraqueza", explicou depois do jogo. Murray, que abriu 2/0 e perdeu o saque, teve nova chance no sétimo game. Tivesse convertido, abriria 4/3 e saque. Mas o escocês ainda estava "concentrado" na aparente lesão do adversário. "Ele faz isso o tempo inteiro", disse para seu camarote.
Assim, antes que Kim Sears conseguisse pronunciar vice-de-novo-e-um-palavrão-à-sua-escolha, Murray já tinha desperdiçado o break point e iniciado o oitavo game com dois erros não forçados. Perdeu o saque, a cabeça e nove games seguidos. E assim, uma partida que alcançou 3h de duração no meio do terceiro set e parecia destinada a terminar só depois de o pequeno Stefan aprender a dizer "papai", acabou rapidinho no mesmo tempo em que um escocês faz descer uma Tennent's num pub de Dunblane.Murray, depois da partida, reconheceu sua falha e disse que ficou chateado consigo mesmo por ter se deixado incomodar com o que via do outro lado da rede. E é um problema cíclico. Ao preocupar-se mais do que o necessário com Djokovic, perde um break point e a paciência. Depois, perde o serviço e começa a se irritar consigo mesmo. Logo, não consegue mais pensar na partida e fica em quadra soltando pancadas sem objetivo. É um buraco sem fim. Durou nove games hoje, e só deus sabe o quanto duraria se a partida não acabasse no quarto set.
É aí que a primeira frase do post faz mais sentido ainda. Murray equiparou-se ao número 1 do mundo em todos fatores técnicos e táticos neste domingo. Só que depois de três horas de jogo, uma falha mental decidiu o jogo. É o que separa Nole da maioria do circuito. Entre os poucos que conseguem trocar golpe por golpe, ainda são os raros que conseguem finalizá-lo.
Coisas que eu acho que acho:
– Como Andy Murray bem reconheceu durante a partida, não é a primeira vez que Djokovic mostra problemas físicos em uma partida e volta a se movimentar como um guepardo no Serengueti. Há quem chame de teatro/catimba, há quem diga que o sérvio apenas não esconde as dores que tem.
– Não sou médico nem pretendo brincar de Quero-Ser-John-Malkovich com Djokovic. A única constatação que posso fazer é lembrar que, sim, acontece com frequência. Nas vitórias (como naquele jogão de quase 6h com Nadal) e nas derrotas (contra Murray na final do US Open de 2012).
– Nole termina o Australian Open com 3.800 pontos de vantagem sobre Roger Federer, o atual vice-líder do ranking. Além disso, o Big Four voltou a ficar completo nas quatro primeiras posições, com Nadal em terceiro e Murray colado atrás, em quarto. Nishikori, Raonic, Berdych, Cilic, Wawrinka e Ferrer completam o top 10.
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