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Saque e Voleio

Sete homens e um Kyrgios

Alexandre Cossenza

26/01/2015 14h42

Oito nomes, sete cabeças de chave. Com a espetacular exceção de Roger Federer, todo mundo confirmou o favoritismo na chave masculina do Australian Open. E, fora o susto pregado pelo físico de Rafael Nadal e o não-tão-surpreendente quinto set de Milos Raonic contra Feliciano López, é justo dizer que todos os sete favoritos chegaram às quartas de final sem grande drama. Novak Djokovic e Tomas Berdych passaram por seus quatro obstáculos sem perder sets, enquanto Andy Murray só cedeu um – no jogão contra Grigor Dimitrov. Vejamos, então, como estão os cruzamentos daqui em diante e o que esperar deles.

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[1] Novak Djokovic x Milos Raonic [8]

Número 1 do mundo e favorito ao título, o sérvio leva óbvia vantagem aqui – pelo menos nos papeizinhos pré-jogo que contam as estatísticas, o currículo e o histórico dos duelos. Só que além do 3 a 0 no head-to-head, Nole ainda tem a seu favor o "aquecimento oficial" com Gilles Muller, outro sacador, nas oitavas em Melbourne. Ok, o luxemburguês é canhoto, enquanto o canadense é destro, mas uma devolução já calibrada conta um bocado.

Para Raonic, o jogo precisa significar um pouco mais. Com 24 anos, um saque gigante e uma ótima direita, ele já chegou ao top 10 e somou belas vitórias. Ainda falta, porém, começar a derrubar os grandes-muito-grandes. Seu histórico contra Djokovic (3 a 0), Nadal (5 a 0) e Federer (8 a 1) precisa melhorar – e rápido, já que faz-se quase sempre necessário passar por um deles nos Grand Slams. Esse salto seria o próximo passo na carreira do canadense, mas será que ele consegue?

[4] Stan Wawrinka x Kei Nishikori [8]

Desde o começo, a chave de Wawrinka não era das mais complicadas. Só que ela ficou mais acessível ainda na medida em que os cabeças de chave foram caindo. Assim, o número 2 da Suíça alcançou as oitavas sem encarar um pré-classificado sequer. E só perdeu um set (para Guillermo García-López, nas oitavas). Nishikori será seu primeiro teste de verdade. E será um replay das quartas de final do US Open – um jogo que, embora o placar não conte essa história, esteve na raquete de Wawrinka a maior parte do tempo. É de se imaginar que o suíço tenha algo de revanche em mente quando entrar em quadra.

O japonês teve um caminho mais complicado (Almagro, Dodig, Johnson e Ferrer), mas sem nenhum adversário que o ameaçasse de verdade. Nishikori nem sempre jogou bem, mas avançou sem sustos – graças um pouco a Dodig, que bobeou quando esteve perto de forçar um quinto set. Em sua última apresentação, contra Ferrer, mostrou estar um passo à frente do espanhol. Os dois jogam um estilo parecido e se movimentam igualmente bem em quadra, mas o japonês tem um saque mais potente, uma esquerda mais agressiva e se defende melhor. Difícil apontar o vencedor aqui. Gostaria de ver Wawrinka enfrentar Djokovic mais uma vez, mas as casas de apostas colocam Nishikori como favorito – por muito pouco.

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[7] Tomas Berdych x Rafael Nadal [3]

Dezessete vitórias seguidas contra Tomas Berdych dão, não por acaso, algum favoritismo a Rafael Nadal. O espanhol é mais consistente e, embora não consiga tomar a dianteira na maioria dos pontos, consegue deslocar o tcheco o suficiente para forçar erros e fazer com que o oponente ataque fora de sua zona de conforto. A favor de Berdych, desta vez, pesa seu ótimo momento. Passou por um caminho cheio de cascas de banana (Falla, Melzer, Troicki e Tomic) sem perder sets e, nos últimos dois jogos, cedeu só um break point (salvo).

Poucos duvidam que Berdych, integrante permanente do top 10 desde julho de 2010, tenha jogo para ganhar um Slam. Só que ótimas chances já ficaram para trás. Foi assim em Melbourne no ano passado, na semifinal contra Wawrinka, e também no US Open, onde caiu diante de Marin Cilic, o eventual campeão. Ainda faltam vitórias grandes nos torneios grandes.

Nadal também tem nas costas, a seu favor, o jogo contra Kevin Anderson. Não é um estilo tão diferente do de Berdych. E vale ficar de olho nas devoluções de saque do espanhol. Contra o sul-africano, Nadal tentou se posicionar mais perto da linha de base. A estratégia não funcionou e, no fim do primeiro set, o número 3 do mundo estava lá de volta ao fundão da quadra, quase em Perth. Nadal é o claro favorito, mas não pela vantagem que o head-to-head sugere. O tcheco esteve perto de derrotá-lo em 2012, também na Austrália. Uma hora vai acontecer.

[6] Andy Murray x Nick Kyrgios

A boa notícia para os fãs do escocês é que ele levou para Melbourne seu forehand agressivo. Foi assim contra João Sousa e também no jogaço contra Grigor Dimitrov – o melhor do torneio até agora. O britânico não foi tão consistente assim nas oitavas, mas o excelente tênis do búlgaro exigiu um bocado.

Não que Kyrgios não vá exigir. O australiano tem um saque excelente (97 aces no torneio, com mais de 20 em todos os jogos) e uma direita capaz definir de definir qualquer ponto a qualquer momento. Logo, o adolescente (19 anos) tem chances se conseguir atacar primeiro – até porque existe a eterna e imprevisível possibilidade de Murray agarrar-se ao fundo de quadra e ficar lá defendendo e esperando erros enquanto se esquiva das cadeiras dos juízes de linha.

A chave para o escocês é agredir. Kyrgios, 1,93m de altura, além de não ser um defensor espetacular, vem com uma lesão nas costas e acaba de fazer uma partida nervosa de cinco sets. A torcida estará a favor, mas será o primeiro jogo do garotão na Rod Laver Arena. Não dá para prever como ele vai se encaixar nesse cenário.

Coisa que eu acho que acho:

– Nem todo mundo abraça essa teoria, mas há de se considerar o quanto vai prejudicar Djokovic a sequência de sacadores. Após dois jogos sem longas trocas de bola, o sérvio pode demorar a encontrar ritmo contra Nishikori ou Wawrinka nas semifinais. E se eu sempre digo que "pode" deve sempre vir acompanhado de "ou não", acho que o mesmo vale aqui. Portanto… Ou não.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.