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Australian Open: o guia feminino

Alexandre Cossenza

17/01/2015 11h35

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Hoje é dia de analisar o primeiro Grand Slam de 2015 no mundo de Serena Williams. Sim, porque a americana, dona de 18 títulos de Grand Slam (33 somando duplas e mistas!), quatro medalhas de ouro olímpicas e cinco WTA Finals ainda é, aos 33 anos, a número 1 do mundo. Só que isso pode mudar em Melbourne, pois Maria Sharapova, campeã em Brisbane, vem na cola e pode sair do Australian Open na liderança.

Só que esta edição do Grand Slam da Oceania (ou "Asia Pacific", como os marketeiros oficiais tentam vender para os mercados japonês e chinês) tem outros assuntos e outros jogos interessantes à vista. A começar por Victoria Azarenka, bicampeã do torneio, que não será cabeça de chave. Mas tem mais. Venus Williams, Petra Kvitova e Simona Halep já levantaram troféus em 2015. Caroline Wozniacki, ainda no embalo do ótimo fim de temporada do ano passado, foi vice em Auckland antes de abandonar em Sydney. Ivanovic foi à final em Brisbane. Enfim, os grandes nomes parecem estar em ótima forma já em janeiro.

Mas basta com esta introdução. Vamos ao guiazão (um guia grande) com o que vai rolar de mais interessante e nos manter acordados madrugada adentro (e afora) pelas próximas duas semanas.

As grandes

Poderia ser lei: toda análise de chave de Grand Slam deve, obrigatoriamente, começar por Serena Williams. Que assim seja. A americana não tem uma chave lá tão fraca, mas isso só deixa o torneio mais intrigante. É de se imaginar que ela passe bem pelas primeiras rodadas, mesmo que enfrente Vera Zvonareva na segunda fase. A russa, que hoje é a número 203 do mundo, mal jogou em 2013-14 por causa de uma lesão séria no ombro direito e começou 2015  disputando um ITF de US$ 10 mil (é sério), mas abandonou. Fez o mesmo no meio do primeiro set durante as quartas de final do WTA de Shenzhen.

O caminho de Serena pode ficar interessante mesmo (negrito em "mesmo", por favor) nas oitavas de final, quando pode enfrentar Jelena Jankovic ou Garbiñe Muguruza, a espanhola que lhe aplicou um sonoro 6/2 e 6/2 em Roland Garros no ano passado. A americana ainda pode encarar Dominika Cibulkova (parece improvável) ou sua amiga Wozniacki nas quartas, mas a seção da dinamarquesa na chave é a mais dura do torneio – falo sobre isso adiante. A semifinal pode ser contra quem avançar do quarto mais imprevisível da chave. Estão lá Kvitova, Radwanska, Pennetta, Petkovic, Venus, Stosur, Dellacqua e Lepchenko. O favoritismo, em tese, é de Kvitova, campeã em Sydney, mas as variáveis são tantas nem um personagem de Benedict Cumberbatch (e isso inclui o Necromante) acertaria um palpitão aqui.

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Tendo a enxergar uma trilha menos problemática para Sharapova, que estreia contra Martic e, depois, joga contra Cirstea/Panova na segunda rodada e Diyas/Urszula Radwanska/Schmiedlova/Scheepers na terceira. A não ser que Cirstea, número 96 do mundo e vindo de quatro derrotas, reencontre magicamente seu melhor tênis, a russa deve avançar sem drama. O problema de verdade começaria nas oitavas contra Safarova ou Peng. A tcheca, lembremos, venceu só um de seis jogos contra Sharapova, mas fez aquele duelo maluco de Stuttgart no ano passado (esteve perdendo o terceiro set por 5/1, mas salvou match points, virou para 6/5 e abriu 30/0, só para perder o saque e o tie-break decisivo).

Só que esperar outro Safarova x Sharapova nesse nível seria otimismo demais, o que não acontece com frequência neste blog. Além disso, não é nada improvável que a cazaque Yaroslava Shvedova elimine a tcheca logo na estreia. Mas eu divago. Para as quartas, Bouchard e Kerber são as favoritas. Por fim, na semi, Dona Maria enfrentaria Halep ou Ivanovic. E se eu fosse a senhorita russa, estaria bem satisfeito com esse sorteio, viu?

A (vice)campeã

A culpa é da chinesa Na Li, que se aposentou no fim do ano passado. Portanto, o Australian Open não terá uma campeã para defender seu título. Logo, quem tem mais a perder Dominika Cibulkova, 11ª do ranking e vice-campeã em 2014. O problema é que a eslovaca, que terminou 2014 mostrando mais coisas boas no Instagram do que em quadra, começou 2015 somando apenas uma vitória em dois torneios. E seu caminho em Melbourne, com uma estreia perigosa diante de Kirsten Flipkens e uma eventual segunda rodada contra Heather Watson (campeã em Hobart) ou Tsvetana Pironkova (semi em Sydney), não ajuda. Ergo, não é lá muito fácil visualizar Cibulkova alcançando a segunda semana.

A brasileira

Teliana Pereira não está na chave principal do Australian Open. A número 1 do Brasil, atual 112ª na lista da WTA, precisou disputar o qualifying e perdeu na segunda rodada. Não foi, aliás, um bom começo de ano da alagoana-pernambucana-curitibana. Antes de ir a Melbourne, Teliana disputou os qualis dos WTAs de Brisbane e Sydney e saiu derrotada na primeira rodada em ambos. Somando os dois jogos (contra Jovana Jaksic, 126 do ranking, e Johanna Konta, 147), venceu apenas dez games.

Teliana agora segue para a Fed Cup, no México. Lá, embora continue jogando no piso duro, no qual ainda encontra dificuldades para fazer seu tênis preferido, a brasileira vai enfrentar adversárias mais fracas e terá uma chance interessante de acumular vitórias e ganhar confiança antes da volta ao saibro, marcada para o Rio Open, que está um bocado mais forte este ano.

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O que ver (ou não) na TV

É bem conhecida minha aversão às partidas dos favoritos nas primeiras rodadas. Minha cama é um enorme atrativo quando a outra opção da madrugada é ver pneus e bicicletas enquanto um narrador tenta fazer piadas sobre um esporte que não conhece. Nem os streamings oficiais do site do Australian Open (a maioria sem narração) salvam. Mas eu divago outra vez. Tem uma meia dúzia de jogos bastante interessantes na chave feminina logo no começo. Um deles eu até citei acima: Cibulkova x Flipkens, pela expectativa da vice-campeã que vem em mau momento e enfrenta uma oponente que já foi top 20.

Também vale abrir um streaming (ou torcer para que essas partidas sejam exibidas na ESPN+, que normalmente fica com o comentarista que mais acompanha o circuito) para qualquer jogo de Sam Stosur. A australiana, campeã do US Open em 2011, já foi top 5, mas nunca passou das oitavas de final em Melbourne. Em casa, todo jogo seu ganha tons dramáticos. Nada indica que este ano, seja contra Niculescu na estreia ou Schiavone/Vandeweghe (outra partida intrigante de primeira rodada) na sequência, vai ser diferente. Sempre vale conferir.

Mas só agora chego na melhor parte. Meus dois jogos preferidos estão logo na mesma seção da chave, um do lado do outro. Ex-queridinha americana, ex-número 11 do mundo, ex-cabeça de chave e ex-amiga de BBM de Serena Williams, Sloane Stephens enfrenta Victoria Azarenka, ex-líder do ranking e campeã do torneio em 2012 e 2013. Quem avançar vai enfrentar a vencedora de outro jogão: Caroline Wozniacki x Taylor Townsed. A consistente e paciente dinamarquesa será um teste enorme para a talentosa, agressiva e nada convencional promessa americana (mesmo que a USTA discorde da expressão "promessa" ou do peso da menina).

A seção da chave que ninguém está olhando

Ninguém está olhando e, pensando bem, é melhor que ninguém olhe mesmo. Uma das seções da chave tem Suárez Navarro, Witthoeft, Foretz, McHale, Vesnina, Siniakova, Begu e Kerber. Só meia dúzia de Paulaners (Hefe-Weißbier Naturtrüb, por favor) no Herr Pfeffer me empolgariam a ponto de assistir a um jogo de Kerber antes das oitavas de final deste Australian Open.

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Quem pode (ou não) surpreender

No planeta improvável da WTA, tudo é plausível. Desde um título de Sam Stosur (não seria fantástico vê-la levantando um troféu na frente daquela torcida animada, fantasiada e, claro, parcialmente embriagada?) até uma eliminação precoce de Petra Kvitova (a esta altura, nenhuma derrota da tcheca é espantosa o bastante).

Minha história preferida este ano seria uma bela campanha de Venus Williams. A ex-número 1 não passa da terceira rodada de um Grand Slam desde 2011, mas a chave de Melbourne mostra-se um tanto acessível desta vez. Torro-Flor na estreia, Davis/Krunic em seguida, Pennetta/Giorgi/Smitkova/Lucic-Baroni na terceira rodada e Radwanska/Lepchenko nas oitavas. Considerando que Venus vem de um título em Auckland, não parece tão improvável assim. Será?

Ainda no mesmo quarto da chave, o caminho de Andrea Petkovic não é dos mais complicados, dada a instabilidade das possíveis rivais. Sua trilha tem Brengle, Falconi/Kanepi, Stosur/Niculescu/Schiavone/Vandeweghe e, nas oitavas, quem sair do grupo que tem Kvitova e Dellacqua. Talvez o maior obstáculo venha da própria alemã, que não venceu este ano ainda – soma derrotas para Kanepi e Gajdosova. Mas não dá para querer uma chave muito melhor do que isso.

Número 1 em jogo

Após os torneios desta semana, a liderança do ranking mundial, atualmente nas mãos de Serena Williams, pode ser tomada por outras três tenistas: Maria Sharapova, Simona Halep e Petra Kvitova. O quadro abaixo, cortesia da WTA, explica todos os cenários possíveis. O melhor deles, claro, seria uma decisão entre Maria Sharapova e Serena Williams. Se isso acontecer, quem vencer sairá do Australian Open também como número 1 do mundo.

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O quadro da WTA não leva em conta os pontos do WTA de Paris do ano passado, que seriam, em tese, descontados também ao fim do torneio australiano.

Nas casas de apostas

O favoritismo, surpresa-surpresa, é de Serena Williams. Na casa virtual bet365, um título da americana paga 5/2, ou seja, US$ 5 para cada US$ 2 apostados. O grupo das dez mais cotadas tem, na sequência, Maria Shrapova (5/1), Simona Halep (7/1), Petra Kvitova (10/1), Eugenie Bouchard (14/1), Caroline Wozniacki (14/1), Victoria Azarenka (16/1), Ana Ivanovic (18/1), Agnieszka Radwanska (20/1) e Venus Williams (33/1). E você, em quem apostaria?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.