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Saque e Voleio

Contadora coloca Lacerda nas cordas

Alexandre Cossenza

12/12/2014 17h34

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A reportagem da ESPN faz um desagradável, mas importante e necessário barulho no tênis brasileiro. O presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Jorge Lacerda, é acusado de pagar contas de luz e gás com verba da entidade, além de distribuir verba restante de contratos de patrocínio entre funcionários.

As acusações não vêm de algum grupo de oposição, mas de uma ex-funcionária, a contadora Katia Mueller. ""É claro que existia tudo. Desvio de verba, sim. Enriquecimento pessoal, sim. Pagava todas as contas lá dentro (da confederação), pedia para transferir… Ele tem auxílio moradia estipulado em tal valor mensal, aquilo que excedia ele pedia para distribuir em outras contas, isso foi feito. Ele não é remunerado. Ele tinha além dessa verba, passagem, outras contas. E pedia para tirar a nomenclatura dele de todas as contas", diz a ex-funcionária da CBT, na reportagem da ESPN. Leiam a íntegra aqui.

A reportagem foi ao ar no SportsCenter segunda edição, na tarde desta sexta-feira, e foi complementada por comentários de Andre Kfouri e Fernando Nardini. Este, inclusive, chamou atenção para a questão do auxílio-moradia de Lacerda, que tem um valor aprovado em assembleia de cerca de R$ 11 mil mensais. Ainda assim, há recibos de até R$ 20 mil.

O que acontece agora? O Ministério Público vai decidir se aceita a denúncia feita pela contadora (tudo aponta para uma resposta afirmativa) e, a partir daí, dá sequência às investigações. A CBT, que se encontra em recesso desde o dia 5 de dezembro (vai até 5 de janeiro), ainda não se manifestou sobre as acusações.

Quem acusa quem?

Vale lembrar que Lacerda passou os últimos dias usando sua conta no Twitter questionando um torneio realizado pelo Instituto Sports com dinheiro da Lei de Incentivo ao Esporte.

Por definição, é um questionamento válido. É importante saber que as promotoras ligadas ao tênis não estão abusando da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE) e, consequentemente, prejudicando a imagem do tênis. Mas quando quem questiona é o sujeito de acusações tão graves, parece que o momento para nós, fãs, é de colocar tudo em perspectiva.

E não esqueçamos que foi na gestão de Lacerda que a CBT teve de tirar meio milhão de reais de seus cofres porque um torneio realizado pela promotora do ex-tenista Dácio Campos, com dinheiro captado pela CBT junto à LIE, não teve suas contas aprovadas. Lacerda sempre culpou a LIE, dizendo que o legislador não compreendia as peculiaridades do tênis, mas repito a pergunta que sempre faço: será que não era a CBT que não conhecia o processo de prestação de contas e de justificação de gastos?

Uma última observação: que ninguém trate a senhora Katia Maria Freitas Mueller como coitadinha ou salvadora do tênis nacional. Ela denuncia agora e faz um grande favor ao esporte, mas se todas suas afirmações forem comprovadas, isso também significa que ela fez, silenciosamente, o trabalho sujo de Lacerda por cerca de três anos. Não é pouco.

(post atualizado às 21:20 desta sexta-feira)

Em resposta à reportagem, a CBT divulgou a seguinte nota oficial:

"Em respeito à matéria veiculada sobre a Confederação Brasileira de Tênis, o presidente da entidade, Jorge Lacerda, refuta veemente informações inverídicas que constam na mesma.

A entidade sempre agiu de forma transparente, sendo a primeira entidade a aprovar um estatuto completamente dentro do nova Lei do Esporte, inclusive com representação de atletas.

A CBT recebe verbas de origem pública e privada. Lacerda recebe um auxílio-moradia aprovado em Assembleia Geral da entidade. Esse valor mensal era usado para o pagamento dessas contas. As contas da entidade são aprovadas anualmente por vários órgãos e por auditoria independente, inclusive o valor referente ao auxílio-moradia.

A CBT afirma com ênfase que nunca utilizou verba pública para o pagamento do auxílio-moradia, aprovado pela Assembleia.

A CBT repudia fatos políticos como esse, contendo inverdades. O presidente da Federação Cearense de Tênis, Ricardo Rodrigues, comunicou que não assinou procuração alguma para a advogada Marisa Alija, conforme a matéria afirma.

A CBT irá responder a todos os questionamentos específicos que forem realizados. A entidade está em recesso coletivo neste período, mesmo assim irá esclarecer qualquer questionamento específico."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.