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Saque e Voleio

Um duplo tapa na cara

Alexandre Cossenza

16/11/2014 19h21

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Partidas pouco ou nada equilibradas, tenistas abaixo de seu nível costumeiro e uma aguardadíssima final que não existiu. Foi assim o decepcionante torneio de simples do ATP Finals, evento que reúne os oito melhores tenistas da temporada. O título acabou nas mãos de Novak Djokovic, que venceu por WO após a desistência de Roger Federer, que se queixou de dores nas costas um dia depois de derrotar Stan Wawrinka no único jogo realmente interessante da semana. E não deixa de ser um típico encerramento para um torneio chato: a melhor partida serviu para impedir a realização do confronto que todos queriam ver.

Djokovic, é bom que se diga, foi o melhor tenista do começo ao fim do ATP Finals. Venceu sempre com folga e, até quando perdeu um set – na semifinal diante de Kei Nishikori -, faturou os outros dois sem problemas (6/1 e 6/0). Federer, por sua vez, fez uma estupenda fase de grupos, mas aceitou jogar com as porcentagens diante da agressividade de Wawrinka na semi. Diante de tantas bolas profundas, o número 2 do mundo fez a arriscada aposta de agredir menos – inclusive diante do segundo saque do adversário (que terminou com menos de 40% de aproveitamento de primeiro serviço) – e contar com as falhas do oponente. No fim, a estratégia deu certo, mas só porque Wawrinka cometeu erros bobos nos match points.

No domingo, contudo, Federer disse que começou a sentir dores nas costas durante o tie-break final do sábado. Explicou que tentou tratamento, mas nada lhe colocou em condições de competir com Djokovic. O suíço disse que provavelmente estará bem dentro de alguns dias e é de se imaginar que a final da Copa Davis tenha pesado um bocado na opção por não jogar a final em Londres. Dentro de cinco dias, Federer precisará estar em forma na França – e pronto para a possibilidade de ficar em quadra por cinco sets – em busca de um dos poucos títulos inéditos em seu currículo. Restou a Djokovic, um merecido campeão, levantar a taça com o sorriso amarelo da foto acima.

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Se algo valeu a pena neste ATP Finals, foi a chave de duplas. Com jogos de altíssimo nível, ralis na rede e no fundo de quadra, tie-breaks e match tie-breaks cheios de variações, a modalidade mostrou seu valor mais uma vez. Bob e Mike Bryan, mais uma vez, ficaram com o título. Marcelo Melo, que sempre merece mais reconhecimento do que recebe, foi vice ao lado de Ivan Dodig – e, tirando um par de duplas faltas no segundo set, foi uma final irretocável do mineiro. Enquanto isso, Bruno Soares e Alexander Peya foram eliminados após uma derrota diante dos mesmos Bryans na fase de grupos.

O sucesso do torneio de duplas não deixa de ser um gentil tapa na cara da ATP, que fracassa intencionalmente na tarefa de divulgar decentemente a modalidade. A entidade faz esforço perto de zero para transmitir partidas, não disponibiliza sinal de jogos sequer via internet e vende um pacote separado para os canais que se mostram dispostos a exibir. Mas não é só isso: enquanto é possível ver inúmeros jogos de duplas em torneios da série Challenger, há finais de ATPs 500 e Masters 1.000 sem transmissão – o que beira o inacreditável.

O excelente nível mostrado pelas duplas vai fazer a ATP rever sua postura e divulgar melhor a modalidade? Duvido muito. Vejam abaixo esse diálogo entre André Sá, integrante do conselho de jogadores da entidade, e o britânico Jamie Murray, irmão de Andy e duplista de ofício. O escocês reclama que todos jogos de simples são televisionados, mas as câmeras são desligadas assim que um jogo de duplas está prestes a começar na quadra central. O mineiro rebate, explicando que não há intenção da ATP de investir dinheiro algum na modalidade.

Coisas que eu acho que acho:

– Com a desistência, Federer ficou bem longe do número 1 do mundo. Djokovic agora soma 11.510 pontos, contra 9.700 de Federer, que ainda pode somar na Copa Davis. Ainda assim, o suíço tem mais a defender até o fim do Australian Open, o que dá alguma folga extra ao sérvio.

– A lesão e a consequente desistência de Federer (que não derrota Djokovic em uma final desde 2012) são mais uma prova de que qualquer tenista pode cair machucado na pior das horas. Sempre vale a pena pensar duas vezes antes de duvidar de um atleta que se queixa de dores – especialmente em uma decisão.

– O top 10 da temporada termina nesta ordem: Djokovic, Federer, Nadal, Wawrinka, Nishikori, Murray, Berdych, Raonic, Cilic e Ferrer.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.