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Guga: cinco Roland Garros e uma pessoa comum

Alexandre Cossenza

02/10/2014 06h00

Guga_coletiva_cos1_blog

"Eu teria chances reais de ganhar cinco Roland Garros. Muito provável." Ao lançar sua biografia no Rio de Janeiro, na noite desta quarta-feira, Gustavo Kuerten falou sobre o que poderia ter sido de sua carreira não fosse uma lesão no quadril que abreviou seus dias dentro de quadra. E falou com a naturalidade de um catarinense pegando uma onda numa segunda-feira, longe das câmeras. Sem forçar para produzir uma frase de efeito. Sem exagerar. Guga realmente acredita que, com seu corpo funcionando 100%, poderia ter triunfado em Paris outras vezes. " E "outros Grand Slams também. Esticar para ser número 1 do mundo por muitas semanas."

E o lançamento do livro "Guga, um brasileiro" não foi só para falar do passado e do que teria sido. Na meia hora que conversou com a imprensa, o tricampeão de Roland Garros falou sobre a criação do livro e de como, ao longo do processo, percebeu o que conectava com milhões de fãs. E as mensagens de sua biografia estiveram todas presentes no bate-papo. Guga reforçou a ideia de que é uma pessoa comum e que qualquer um que enxergue suas oportunidades pode alcançar seus objetivos. Ressaltou também que tem um número 1 não garante a país algum o crescimento do esporte e deu um recado: com uma base em feita e investimento em profissionais capacitados, é possível ter cinco tenistas entre os 100 melhores do mundo. Veja (e ouça) abaixo os trechos mais interessantes.

Sobre o desafio de criar a biografia

"Eu sabia que queria contar a minha história, mas ao longo do caminho ficou muito claro que definitivamente o que eu queria passar era a minha sensação, a emoção que transcorria na minha cabeça durante todo esse tempo percorrido."

"Foi bacana porque ao longo do caminho, foi ficando claro para mim. Foi isso que serviu para me ligar tão forte aos milhões de pessoas. De alguma forma, não em palavras, eu conseguia transmitir o que eu estava vivenciando: a minha paixão, aquela felicidade."

"O livro tem muito disso. Fala do que eu represento, do que eu valorizo como importância".

Sobre o porquê do nome "um brasileiro" para seu livro

"Essa história é fantástica, é uma façanha extraordinária, mas é um cara normal, uma pessoa comum! Eu me enxergo com muita facilidade assim e gosto de viver assim também. Demonstra, de uma forma até provocativa e conflitante, que está à disposição. Obviamente, eu tive minhas oportunidades, as pessoas ao lado, mas talvez passe na vida de muita gente e se não tiver vários passos adiante, se não conseguir enxergar, às vezes coisa que ninguém vê, o sonho pode passar batido ou nem aparecer na cabeça. No meu caso, foi construído dessa forma. Tinha situações que eu consegui sonhar quando tinha só 18. Fui construindo a minha força através de situações normais."

"Acho que está à mercê das pessoas. Cada um com o seu horizonte e seus desejos, mas… dá pra fazer. Tem jeito de fazer. Se quiser de verdade, uma conquista ou realizar alguma coisa, tá aí. É possível. Se me contassem, eu não acreditava, mas como aconteceu comigo, fica mais fácil."

Guga_coletiva_cos3_blog

Sobre como seria sua carreira sem a lesão no quadril
(resposta brevemente interrompida pela visita de Carlos Arthur Nuzman)

"Isso vem naturalmente, diversas vezes, na minha cabeça. A minha carreira, se for ver, estava começando ali, com 25. Até os 30, ia melhorar a cada ano."

"Eu teria chances reais de ganhar cinco Roland Garros. Muito provável. Outros Grand Slams também. Esticar para ser número 1 do mundo para muitas semanas. Ao mesmo tempo, eu vejo tudo que aconteceu e já foi infinitamente muito maior do que eu sempre sonhei. Mas tem que respeitar que essa sensação, ainda mais em um competidor, um cara que esteve lá em cima, de que ela pode flutuar na cabeça naturalmente. Até hoje, volta e meia eu pego no sono e vejo que, no sonho, dá para ganhar de um monte ali (risos)."

"Eu tive três anos dos oito ou dez que viriam pela frente do auge do meu tênis. Eu deixo tu fazer as contas, senão eu vou ficar meio 'poxa, que pena mesmo'."

Sobre suas Escolinhas e a Semana Guga Kuerten

"Eu mirei nos desafios de conseguir, aí sim, transformar a realidade do tênis".

"Até mesmo ter um número 1 não significa nada para o esporte. Não vai transformar, ter ciclos de formação adequados e uma nova realidade. Foi momentâneo. Deu dez, 12 anos, já deu uma caída e realmente é incrível como ainda sustenta. Essa imagem ainda dá um segundo, um terceiro suspiro porque o último título que eu tive já faz 10, 15 anos – os grandes títulos que eu tive. Mas a coisa parece que está aí".

"Independente disso, se se constrói uma base bem consolidada, com pessoas capacitadas, com conhecimento e investimento nos professores, aí acontece. Se um dia tiver 100, 150 escolinhas dessas boas… Aí, independente de quaisquer outras etapas, a gente vai ter uns cinco caras entre os 100 do mundo com certeza absoluta."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.