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Saque e Voleio

Sorteio da Davis é pior do que parece

Alexandre Cossenza

19/09/2014 06h00

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Tecnicamente falando, A Argentina não era o pior adversário possível para o Brasil Na Copa Davis. David Nalbandian já deixou as quadras, Juan Martín del Potro raramente atua pela competição, e o país que já foi uma potência na competição hoje não tem um tenista que possa ser considerado um ponto certo em qualquer confronto que seja. Entre Leonardo Mayer, Federico Delbonis, Carlos Berloqc e Juan Mónaco, a Argentina tem muitas opções para formar uma equipe, mas nenhum dos quatro é imbatível, não importa o piso.

Aliás, o melhor piso deles é também o melhor para os brasileiros, o que não deixa de ser um fator facilitador para João Zwetsch. Assim como a falta de uma dupla confiável. No sábado, o Brasil será favoritíssimo. Chegamos, então, ao ponto em que o leitor faz a seguinte pergunta: se a Argentina não é mais a potência de antes e se eles também gostam do saibro, como o sorteio pode ter sido tão ruim?

O principal motivo é o local do confronto. Brasil e Argentina vão se enfrentar de 6 a 9 de março, quando ainda faz bastante calor por lá. Pior: Buenos Aires é uma cidade com índices altos de umidade. Todos sabemos, desde Chennai, o histórico de Thomaz Bellucci em lugares quentes e úmidos. Este ano mesmo, em fevereiro, o número 1 do Brasil vencia, mas abandonou sua partida de primeira rodada no qualifying do ATP 250 portenho sentindo o desgaste. Aliás, Bellucci só jogou na capital argentina quatro vezes. Só na primeira, em 2008, venceu jogos.

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Hoje, não parece lá muito provável que Bellucci consiga duas vitórias em condições tão adversas – sem contar a torcida local. Entretanto, faltam seis meses para o confronto. Não convém julgar nada cedo demais.

Mas não foi só na dificuldade que o sorteio atrapalhou o tênis brasileiro e seus fãs. Com o confronto fora do país, fica mais difícil a vida dos promotores dos ATPs de São Paulo e do Rio de Janeiro. O torneio fluminense, mais importante e com mais "poder aquisitivo", sofre mais. Disputado duas semanas antes da Copa Davis, o evento poderia garantir um figurão interessado em chegar ao país cedo e fazer uma devida adaptação ao saibro e ao clima local. Havia a chance de o Brasil encarar Suíça, Sérvia ou República Tcheca por aqui. Logo, Roger Federer, Stan Wawrinka, Novak Djokovic e Tomas Berdych seriam nomes cobiçados e um tanto viáveis.

E não é só isso. Se Bellucci e cia. enfrentassem qualquer um dos outros 14 países do Grupo Mundial, existiria a possibilidade de a Argentina jogar em casa e trazer outros grandes nomes. Poderíamos ter, por exemplo, a Suíça jogando no Brasil enquanto a Sérvia estaria no país vizinho. Logo, haveria uma chance dupla de atrair grandes nomes.  Do jeito que ficou o cenário pós-torneio, tchecos e sérvios jogarão em casa, enquanto a Suíça viaja, mas sem sair da Europa.

Coisas que eu acho que acho:

– Nunca é tarde para lembrar deste momento fantástico em Roland Garros, no duelo entre França e República Tcheca. Não só pelo golpe de Gael Monfils, mas pela reação da torcida e pela festa do próprio tenista na sequência. Tipo de cena que só se vê em Copa Davis. Para lembrar para sempre.

– Outra noticia que agitou a semana foi a saída de Carlos Moyá como capitão do time espanhol. Sem conseguir montar uma equipe com os melhores atletas do país, o ex-número 1 do mundo deixou o cargo. Não li nada específico sobre uma rejeição dos tenistas ao nome de Moyá como capitão. A questão é que a geração atual espanhol parece ser composta ou por tenistas já satisfeitos com suas conquistas na Davis (Ferrer) ou indispostos ao sacrifício necessário para defender o país na posição de segunda opção (Robredo e Verdasco). Sem os lesionados Nadal e Almagro, a Espanha passa a ser um time "normal", tão derrotável quanto qualquer outro fora de casa. É compreensível a atitude de Moyá. Se é para comandar uma equipe eternamente desfalcada e ser cobrado por resultados de times do passado, é melhor pedir o boné. Eu faria o mesmo.

– Os confrontos da primeira fase no Grupo Mundial de 2015 são os seguintes (times da casa mencionados primeiro): Alemanha x França, Grã-Bretanha x EUA, República Tcheca x Austrália, Cazaquistão x Itália, Argentina x Brasil, Sérvia x Croácia, Canadá x Japão e Bélgica e Suíça.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.