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Saque e Voleio

Zwetsch empurra culpa para "fantasmas"

Alexandre Cossenza

13/09/2014 06h00

Zwetsch_Davis_Dia1_Andujar_blog

Logo após derrotar Pablo Andújar de virada e empatar o confronto entre Brasil e Espanha, Thomaz Bellucci compareceu à entrevista coletiva acompanhado pelo capitão João Zwetsch. A maioria das perguntas foi sobre a vitória do número 1 do país e o comportamento da torcida. O capitão, no entanto, respondeu uma questãozinha sobre a atuação de seu número 2. O mesmo Zwetsch que afirmou uma semana atrás que Rogerinho sempre elevava seu nível em jogos de Copa Davis teve de dizer que não foi o caso nesta sexta-feira, quando Roberto Bautista Agut aplicou 6/0, 6/1 e 6/3 em uma das atuações mais vergonhosas de um tenista brasileiro jogando em casa na Copa Davis. Zwetsch, no entanto, culpou fatores extraquadra. Suas respostas e minha segunda pergunta estão abaixo.

"Surpreendeu, claro. A derrota já era esperada. Era muito difícil um jogador nosso, número 2, jogar contra um número 15 do mundo, mas da maneira como foi realmente surpreendeu. O Rogério não conseguiu se encontrar em quadra. O Bautista não deu espaço, mas isso já era uma coisa esperada. Acho que pela primeira vez, né, talvez com a ajuda de outras coisas que envolveram, ele não conseguiu jogar o bom tênis que ele pode apresentar. Nos treinamentos durante a semana, ele estava muito bem. Inclusive contra o Thomaz ganhou set e tal."

"Que outras coisas, você pode dizer?"

"Fantasmas, coisas desse tipo assim. Aparecem à noite, é perigoso. À noite, em São Paulo, é perigoso."

A segunda resposta veio com um leve sorriso, que não sei dizer o que significa. A impressão que ficou é que Zwetsch estava se referindo às muitas críticas que sofreu durante a semana, depois que foi revelada a ausência do número 2 do país, João Souza, o Feijão, do time. Críticas que vieram de jornalistas (inclusive neste espaço aqui), ex-jogadores, comentaristas, treinadores e do próprio Feijão. Críticas que, consequentemente, jogaram meia dúzia de bigornas nos ombros de Rogerinho, que chegou ao confronto em um mau momento, sem conseguir derrotar um top 200 no circuito mundial desde junho.

Repito: não sei se Zwetsch referia-se a essa pressão extra que caiu em Rogerinho. E não sei porque ele, o capitão, não quis dizer. Mas se foi isso mesmo, soa como empurrar a culpa para todos que criticaram uma convocação estranha – não só pelo mau momento de Rogerinho, mas pelas condições do confronto (indoor, com altitude de São Paulo) que não o favoreciam. Parece-me uma lógica às avessas. O capitão escala um atleta em fase ruim, e a culpa é de quem questionou a escalação? Não me parece muito inteligente.

Rogerinho_Davis_Jogo1_Andujar_blog

(mais) Coisas que eu acho que acho:

– Não é raro ver um tenista fazer grandes exibições na Copa Davis e levar o bom momento para o circuito mundial. O que acontece, então, com os ânimos de Rogerinho depois de uma derrota como essas? Culpamos os fantasmas também?

– Escrevi ontem e repito agora para que ninguém distorça. Estou longe de dizer que Feijão, apesar de estar em momento obviamente melhor, derrotaria Roberto Bautista Agut, 15º do ranking. Quem quer que fosse nosso número 2, o placar do confronto dificilmente estaria melhor do que o 1 a 1 deste sábado. Ainda assim, acho que foi um desastre colocar Rogerinho em quadra e deixá-lo exposto a esse tipo de vexame.

– Curiosamente, até Carlos Moyá cornetou a escalação de Zwetsch. O capitão espanhol, que revelou conhecer pouco Rogerinho, disse na coletiva que Guilherme Clezar parecia ter mais potencial para vencer uma partida neste confronto.

– A situação de Zwetsch só não ficou muito mais complicada porque Bellucci salvou um match point com uma bola que tocou na linha, mudou de trajetória e forçou Andújar a um erro. A sorte ajudou o Brasil, e o número 1 do país aproveitou para completar o serviço com muita competência.

– Com o confronto empatado em 1 a 1, o panorama para o Brasil não é dos piores. Se Marcelo Melo e Bruno Soares vencerem neste sábado – e as chances não são nada ruins -, bastará um triunfo de Bellucci sobre Bautista Agut no domingo. Assim, o time nem precisaria contar com Rogerinho no quinto jogo. Não será fácil, mas está longe de ser a maior zebra da história.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.