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Saque e Voleio

Um começo desastroso

Alexandre Cossenza

12/09/2014 17h48

Rogerinho_Davis_Jogo1_Zambrana_blog

Já havia mais de 45 minutos de partida quando Rogério Dutra Silva confirmou seu saque. Levantou os braços, comemorou e riu. Não sei exatamente por que. Talvez porque chorar em quadra pegaria mal. Talvez para aliviar a pressão. Talvez porque não soubesse como reagir. Pareceu espontâneo. Também pareceu trágico. Rir no Estádio Arthur Ashe perdendo de Novak Djokovic ou Rafael Nadal é uma coisa. Compreensível. Rir defendendo o país em casa e levando 6/0 e 5/0 de Roberto Bautista Agut não parece tão engraçado assim.

Este 6/0, 6/1 e 6/3, em 91 minutos, foi, de longe, a mais vergonhosa partida de Copa Davis que vi de um brasileiro (ênfase no "eu vi", por favor). Rogerinho tentou alongar as trocas e não conseguiu. Tentou atacar, falhou. Tentou se defender… Já deu para entender, certo? Listar as estatísticas nem começaria a descrever o que aconteceu. O que se viu foi um tenista em má fase (não ganha de um top 200 desde junho), pressionado por ocupar uma vaga de uma convocação (justamente) polêmica, em um péssimo dia e em condições de jogo (indoor com altitude) que não ajudariam seu tênis nem em um bom momento. Foi, sem dúvida, uma maneira desastrosa de começar um confronto justamente no dia do aniversário do capitão João Zwetsch, que bancou Rogerinho mais por serviços prestados do que por méritos técnicos.

Não tenho a mínima intenção de cair no oportunismo barato e dizer que Feijão ganharia este ponto ou que a partida seria muito diferente fosse o número 2 do Brasil em quadra. Roberto Bautista Agut é número 15 do mundo, seria favorito contra qualquer brasileiro em qualquer torneio do circuito mundial. É inegável, contudo, que a aposta de Zwetsch não vingou. E mais: se precisar voltar para quadra no quinto ponto, Rogerinho conseguirá lidar com a pressão de ocupar um lugar contestado e, além disso, com as memórias de uma atuação muito abaixo das expectativas nesta sexta-feira? Não parece muito provável.

Coisas que eu acho que acho:

– Na hora de justificar sua convocação, João Zwetsch afirmou que confiava em Rogerinho para aguentar fisicamente um jogo de 4h contra um espanhol. No dia, postei no blog que não me parecia razoável apostar em jogos longos na altitude de São Paulo e em quadra indoor. O fato é que tecnicamente Rogerinho resistiu apenas por 1h31min contra Bautista Agut.

– Não acho que Thomaz Bellucci entre em quadra mais pressionado por causa da derrota de Rogerinho. No fundo, no fundo, ninguém esperava um ponto brasileiro logo nesta partida inicial.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.