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Saque e Voleio

Brasil vai sem Feijão contra a Espanha na Copa Davis

Alexandre Cossenza

31/08/2014 12h33

Número 2 do Brasil e 113 do mundo, além de dono de um histórico recente de bons resultados em São Paulo João Souza, o Feijão, não defenderá o Brasil no confronto deste mês contra a Espanha, no Ginásio do Ibirapuera, válido pela repescagem do Grupo Mundial da Copa Davis – quem vencer disputará a primeira divisão do tênis mundial na temporada de 2015.

Não, Feijão não está lesionado nem pediu para não ser convocado. A decisão foi do capitão João Zwetsch, que levará para os treinos, além do trio permanente de Thomaz Bellucci, Bruno Soares e Marcelo Melo, o jovem Guilherme Clezar e o veterano Rogério Dutra Silva, o Rogerinho. Conversei com três pessoas ligadas à equipe. Duas delas me garantiram que Clezar será escalado para o confronto. Uma afirmou que há chance de Rogerinho estar no duelo como segundo simplista. Qualquer que seja a escalação, a certeza é que Feijão estará fora.

É, possivelmente, a mais polêmica das convocações de Zwetsch. Convocar Clezar para enfrentar o Equador, como aconteceu no confronto de abril, foi fruto de uma necessidade. Bellucci estava mal e pediu para não jogar. O capitão levou Rogerinho e Clezar. O jovem gaúcho, que fez sua estreia na competição, lesionou-se no terceiro set e teve de ficar dois meses fora das quadras. Desta vez, o número 1 do país estará no grupo que será anunciado nesta terça-feira, em São Paulo.

A lista de Zwetsch, qualquer que seja o segundo simplista, preocupa pelo momento que vivem paulista e gaúcho. Rogerinho não vence um top 200(!) desde junho e, depois de começar a temporada no 150º posto, iniciará a semana da Copa Davis além do 190º lugar. Clezar, desde a lesão, fez 14 jogos e perdeu oito (e uma de suas vitórias vem em cima de Rogerinho). Suas duas últimas partidas pelo circuito da ATP terminaram em derrotas para adversários que nem figuram entre os 300(!) primeiros do ranking mundial. É difícil ser otimista assim, quando o Brasil vai enfrentar no saibro, piso preferido da Espanha, quatro atletas de ponta.

Também dá para, fazendo uma forcinha, ver o copo meio cheio. Clezar tem um bom saque, o que é sempre importante na altitude de São Paulo e na condição indoor do Ibirapuera. Rogerinho, por sua vez, fez boas apresentações no Brasil Open, jogado no mesmo local. Furou o quali e derrotou Guillermo García-López, então 52 do mundo, na primeira rodada. Em abril, Rogerinho também venceu um Challenger em São Paulo sem perder um set (de lá para cá, são seis vitórias em 17 jogos).

Maaaas… Quando digo que o saque de Clezar é beneficiado pela altitude de São Paulo, é preciso lembrar que o mesmo vale para Feijão. O paulista também levaria a vantagem da experiência e, principalmente, de saber jogar com a torcida. Em Copa Davis, em um ginásio lotado, faria certa diferença. Além disso, Feijão também ganhou um Challenger na cidade e, no Brasil Open, derrotou o holandês Robin Haase (45 do mundo), e só perdeu na segunda rodada por lesão. Feijão fez 6/4 em cima de Albert Montañés no primeiro set, mas precisou abandonar na segunda parcial, com o placar em 3/2 para o espanhol.

Feijão está neste momento em Medellín (ou seja, não está lesionado), vem de duas semifinais de Challenger no circuito e, no ATP 250 de Kitzbuhel, na Áustria, quase derrubou o queridinho da casa, Dominic Thiem. Perdeu por 7/5 no terceiro set (e Thiem acabou sendo vice-campeão do torneio). Será que as chances do Brasil não aumentariam com Feijão em quadra no Ibirapuera?

Coisas que eu acho que podem não ter influenciado a escolha de Zwetsch, mas são essenciais à compreensão inteira deste post:

– A relação da diretoria da CBT com o treinador de Feijão, Ricardo Acioly, não é das melhores. E isso já faz algum tempo.

– Quando Bellucci, Clezar, Rogerinho, Marcelo Demoliner e Fabiano de Paula se juntaram para a pré-temporada no Rio de Janeiro, Feijão, que mora na cidade, não foi chamado para fazer parte dos treinos.

– João Zwetsch é técnico pessoal de Guilherme Clezar.

– Guilherme Clezar é agenciado pela Koch Tavares, empresa que promove e faz a assessoria de imprensa do confronto no Ibirapuera.

Coisas que eu acho que acho:

– Clezar tem apenas um jogo de Copa Davis no currículo e, quando entrar em quadra, pode ter de enfrentar um nome como Tommy Robredo, Feliciano López, Guillermo García-López, Fernando Verdasco ou Marcel Granollers. Todos são top 50 tarimbados. Não é missão das mais fáceis. Ainda mais com a pressão extra por ser um nome questionável na convocação (o que não aconteceu no Equador) e dos quatro itens que cito acima. E isso se Rafael Nadal não aparecer por aqui…

– A pressão também cai sobre Zwetsch. Há o óbvio lado vantajoso, que é conhecer o atleta e saber de seu potencial. Também existe, contudo, a possibilidade de precisar ouvir que houve benefício extra a "seu" atleta – algo que sempre aconteceu com capitães de Copa Davis.

– Brigas políticas e convocações polêmicas à parte, quanta importância deve se dar ao tenista número 2 da convocação? No cenário mais fácil de imaginar (que nem é tão provável assim, sejamos honestos), o Brasil derrota a Espanha com duas vitórias de Thomaz Bellucci e outro ponto somado pela dupla. Para Rogerinho ou Clezar, vencer um jogo de cinco sets contra qualquer um dos espanhóis não será a mais simples das tarefas. Também seria para Feijão.

Importante:

– Obrigado ao Thiago Rodrigues, que deu a dica sobre a não convocação de Feijão. Apurei com algumas pessoas, e o resultado é este post aqui.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.