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Saque e Voleio

Graus de separação de Bellucci e Wawrinka

Alexandre Cossenza

28/08/2014 07h40

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Thomaz Bellucci teve uma bela apresentação na noite desta quarta-feira, em Nova York. Venceu uma parcial de Stanislas Wawrinka e teve até uma quebra de vantagem para levar a partida ao quinto set. Não conseguiu. No fim, sucumbiu no tie-break do quarto set: 6/3, 6/4, 3/6 e 7/6(1). Mas o que faltou? O que separa o número 1 do Brasil da elite do tênis?

A resposta óbvia passa pela palavras "consistência" e "preparo físico", mas abrange muito mais. Um jogo assim, contra um top 5, costuma revelar um bocado de falhas não tão visíveis nos ATPs 250 e nos Challengers. A primeira delas a sair de baixo do tapete foi a devolução. Por dois sets, Bellucci mal conseguiu colocar em jogo o serviço do adversário. Demorou para que o paulista tomasse outra postura, outro posicionamento. Quando conseguiu, fez Wawrinka jogar mais e conseguiu alguns pontos de graça – o que não aconteceu nos dois primeiros sets.

Outra diferença nítida está na defesa. Quando Bellucci agredia e fazia o suíço correr, via frequentemente o adversário usar slices profundos e quase nada flutuantes. Com o tempo extra, reposicionava-se no fundo de quadra e praticamente igualava a troca de bolas. O brasileiro não tem tal recurso. Sim, Bellucci faz uso esporádico de slices, mas não se defende bem com o fundamento. Faz falta. Quase sempre que chega atrasado em uma bola, o paulista insiste em bater um backhand. Bate desequilibrado e deixa de ganhar tempo.

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Podem parecer, mas não são diferenças pequenas. E o mesmo vale quando comparamos Wawrinka e o grupo acima no ranking mundial. Novak Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer tem algo que o campeão do Australian Open ainda não tem. Quando descalibrou no terceiro set, Stan demorou a se reencontrar. Bellucci venceu um set e conseguiu uma quebra de vantagem em outro. Não fosse um game de saque praticamente cedido pelo brasileiro, haveria quinto set.

Djokovic, Nadal e Federer possivelmente não fariam o mesmo "favor" a Wawrinka. Contra esse trio, há menos espaço para sair de jogo. E isso explica o ranking como está hoje, com Stan em quarto lugar, cerca de 1.500 pontos atrás de Federer, o atual número 3. Djokovic, por sua vez, soma quase sete mil pontos a mais. Cada tenista, independentemente da lista da ATP, tem seus dilemas, seus algozes, e os elementos que o impedem de estar um nível acima.

Coisas que eu acho que acho:

– É natural ver um jogo de Bellucci assim, dando trabalho a um top 5, e ficar animado, esperando que o brasileiro leve tudo que fez de certo aos próximos torneios do circuito mundial. Vale, contudo, certa cautela. Bellucci já viveu situações parecidas, sem conseguir engrenar após belas atuações.

– Não lembra? Em maio de 2011, na melhor fase de sua carreira, Bellucci quase quebrou a invencibilidade de Novak Djokovic, que vivia momento fantástico. O brasileiro, entretanto, perdeu aquela semifinal no Masters 1.000 de Madri e, na sequência, tombou na estreia em Roma diante de Paolo Lorenzi. O italiano, na época, era apenas o número 148 do ranking.

– Outro caso. Em 2012, Bellucci tirou um set de Federer em Indian Wells e, por pouco, não saiu com a vitória. Na semana seguinte, em Miami, perdeu em sets diretos para Frederico Gil.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.