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Bia e a decisão que Tiago não tomou

Alexandre Cossenza

15/08/2014 06h00

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Duas notícias importantes no tênis brasileiro vieram a público nesta quinta-feira. Tiago Fernandes, que como juvenil foi campeão do Australian Open e número 1 do mundo, abandonou a carreira. Aos 21 anos, o alagoano deixou Balneário Camboriú, sua casa desde 2008, e voltou para Maceió, onde prestou vestibular e passou a cursar engenharia – seguindo a carreira de seu pai. A outra mudança envolve a maior promessa do tênis feminino brasileiro. Bia Haddad deixa a academia de Larri Passos para treinar com Marcus Vinícius Barbosa, o Bocão. Há uma óbvia e importante relação entre os dois fatos.

Fernandes chegou a seu auge quando treinava na academia de Larri. A transição para o tênis profissional não teve o sucesso que todos esperavam e desejavam. O fim da relação com o ex-técnico de Guga veio após uma rara fratura por estresse no púbis que tirou o alagoano das quadras por muito tempo. A recuperação foi lenta, e Tiago decidiu não levar a carreira adiante. É uma óbvia pena para o tênis brasileiro. Resultados à parte, o alagoano sempre pareceu o mais maduro e consciente dos juvenis do país (nos últimos dez anos, pelo menos). Sempre se expressou muito bem e deixou claro o que queria. E, obviamente, tinha um belo tênis. Tiago tinha também um plano, mas não conseguiu executá-lo. Um pouco por não ter lidado bem com as expectativas após os grandes feitos que vieram muito cedo, um pouco por falhas de planejamento.

A falta de um preparador físico exclusivo – algo que a família de Tiago quis, mas que nunca foi aceito por Larri – talvez tenha sido o mais grave dos erros. Coincidência ou não, Bia Haddad teve problemas físicos. Depois de um tempo afastada por causa de um problema no ombro (resultado de uma queda em quadra), a paulista voltou aos torneios e, logo no primeiro evento, sentiu dores nas costas (tratava-se de uma hérnia que já incomodava a tenista desde antes) e voltou ao Brasil para se submeter a uma cirurgia. Bia disputou apenas um jogo de julho de 2013 até fevereiro de 2014.

Outro elemento em comum nos dois casos é a ausência de Larri Passos. Tiago venceu o Australian Open em 2010 e passou a temporada 2011 inteira sem o treinador, que viajava com Thomaz Bellucci. Bia teve o mesmo problema recentemente, já que o técnico gaúcho tem compromissos fora do país – inclusive com a austríaca Tamira Paszek – e não pode dedicar-se totalmente aos atletas que treinam em sua academia. A paulista tomou a decisão de mudar. A decisão que Tiago não tomou. Muitos não sabem, mas o campeão do Australian Open esteve perto de fazê-lo. Os pais do alagoano chegaram a procurar outro treinador antes do fim de 2011. Entretanto, quando o tenista conversou pessoalmente com Larri, então recém-dispensado por Bellucci, o treinador garantiu mais atenção. Em agosto de 2012, porém, a lesão no púbis tirou o alagoano de ação e forçou o fim da parceria.

A opção de Bia é compreensível. Treinar "na" academia de Larri é bem diferente de treinar "com" Larri. Levando em conta que Thiago Monteiro e Orlando Luz também trabalham com o ex-técnico de Guga, era difícil imaginar os três recebendo a atenção merecida. Para agravar o panorama, tratam-se de jovens em momentos diferentes, com calendários muito distintos. Thiago vive o circuito Challenger, enquanto Bia joga o circuito ITF feminino. Orlandinho, por sua vez, vem fazendo a transição para o profissional. Juntando tudo isso aos outros compromissos de Larri, em quantas semanas por cada um desses tenistas (todos com futuros promissores, é bom ressaltar) poderia viajar acompanhado por Larri?

Coisas que eu acho que acho:

– Uma pergunta fica no ar: a saída de Bia da academia de Larri Passos é algo a ser seguido por Orlandinho e Thiago Monteiro?

– Vale o lembrete (que já fiz na página do blog no Facebook): minha recente mudança de endereço me deixou sem TV a cabo e internet. Vou poupá-los dos detalhes, afinal são bem conhecidos os problemas que muitos enfrentam com empresas como Oi e SKY. O blog volta com força total assim que a casa nova estiver conectada. Até lá, infelizmente, não publicarei posts com a frequência que gosto. Agradeço aos que compreenderem.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.