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Saque e Voleio

Roland Garros em 32 drop shots

Alexandre Cossenza

10/06/2014 21h23

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A temporada de grama já começou, mas ainda vale a pena lembrar um pouco do que aconteceu no Grand Slam do saibro. Afinal, muito do que vai rolar nas próximas semanas será consequência direta ou indireta do que vimos em Roland Garros. Assim sendo, as já tradicionais curtinhas estão de volta aqui no blog. Leiam tudinho, do começo ao fim, e deixem suas opiniões na caixinha!

1. Roland Garros conseguiu terminar duas semanas quase sem polêmicas. Houve, sim, alguma reclamação (mais para chororô) quanto a escalação de Rafael Nadal na Quadra Suzanne Lenglen em duas rodadas, mas nada grave. Teria sido grave se Andy Murray tivesse sido eliminado por Gael Monfils. O britânico, que vencia por 2 sets a 0 e perdeu as duas parciais seguintes, teve de ouvir da organização que o jogo continuaria, mesmo sem condições ideais de iluminação. No fim, depois que Murray triunfou, foi Monfils quem deixou a quadra reclamando.

2. Há quem levante a bandeira da modernidade e peça a instalação de holofotes nas quadras de Roland Garros. Há quem prefira a manutenção de costumes como o velho "tem jogo enquanto há luz natural". É um bom debate. Estou longe de ser um defensor do torneio francês (um evento que já perdeu um pedido de credencial meu), mas tendo a preferir o modelo atual do torneio francês.

3. Quase me esqueço. Fernando Verdasco saiu se queixando da velocidade da Quadra Suzanne Lenglen. Disse que parecia outro piso. Disse o cidadão que deitou-se no chão e comemorou como um título de Grand Slam uma vitória sobre Rafael Nadal no saibro azul! Ironias da vida…

4. Não há como não ficar feliz com a campanha de Andrea Petkovic, que chegou às semifinais de um Grand Slam pela primeira vez na carreira. Depois de tudo que a moça passou pra voltar a jogar tênis em alto nível, é uma justa recompensa para a alemã que está de volta ao top 20.

 

5. O mesmo vale para Taylor Townsend, que dispensou a ajuda da USTA, conquistou na marra um convite para Roland Garros e ganhou dois jogos logo em sua primeira participação em um Slam. Fiquemos de olho na moça.

6. A decepção da chave feminina, claro, foi Serena Williams. A americana teve uma atuação desastrosa e nem deu a Garbiñe Muguruza uma chance de amarelar. Venceu por 6/2 e 6/2. E a espanhola fez um belo torneio.

7. O grande sortudo das duas semanas foi o sérvio Dusan Lajovic. Sua seção da chave tinha Nicolás Almagro e Tommy Haas, e os dois abandonaram na primeira rodada. Assim, Lajovic chegou às oitavas ao derrotar Delbonis, Zopp e Sock.

8. Nesta trapalhada da árbitra que prejudicou Daniela Hantuchova, quem saiu com o filme queimado da história foi Angelique Kerber, que fez a egípicia e não falou que a adversária tinha razão na polêmica.

9. O momento "vergonha alheia" do torneio francês fica por conta deste jornalista, que deu os parabéns a Nicolas Mahut, que havia acabado de ser eliminado de Roland Garros. Vocês acham que o tenista ficou feliz? Então olhem aqui como foi (vídeo legendado).

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10. Por outro lado, Roland Garros também viu um dos gestos mais simpáticos já vistos em uma partida oficial. Durante uma pausa por chuva, Novak Djokovic chamou um boleiro para sentar-se, puxou papo e brindou com o garoto. Vejam!

11. Andy Murray chegou às semifinais do Grand Slam francês, o que deve fazer as pessoas pararem para olhar e finalmente perceberem que seus resultados no saibro têm sido ótimos recentemente. Pena que a semi contra Nadal foi decepcionante. O britânico parecia taticamente perdido e desanimado desde os primeiros games. O espanhol passeou.

12. Nem tanto sobre Roland Garros, mas sobre o número 1 britânico, é intrigante a contratação de Amélie Mauresmo. Veremos o que sairá da parceria.

13. Rafael Nadal fica com o "prêmio" de melhor set do torneio. Empatado em 1 a 1 com David Ferrer nas quartas, o eneacampeão de Roland Garros aplicou um pneu e não cometeu nenhum erro não forçado. Nenhunzinho.

14. E que história bacana a de Nadal este ano! Perdeu em Monte Carlo e Barcelona e fez uma final decepcionante contra Kei Nishikori em Madri. Evoluiu em Roma, mas perdeu a final para Djokovic. Quando a segunda semana de Roland Garros chegou, o número 1 já mostrava a velha forma. Fantástico.

15. A Turma do Tô Chegando ficou devendo. Kei Nishikori, lesionado em Madri, caiu na estreia diante de Martin Klizan. Grigor Dimitrov, idem. Não passou por Ivo Karlovic. Milos Raonic alcançou as quartas, mas pouco fez diante de Djokovic. Nos maiores palcos, em melhor de cinco, ainda é difícil alcançar Rafa e Nole.

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16. Federer poderia ter feito mais, só que perdeu uma ótima chance de abrir 2 sets a 0 e, depois, não encontrou respostas para a grande atuação de Ernests Gulbis. O letão, que só parou nas semifinais, enfim chega ao top 10, mostrando que é capaz de tirar bastante do seu talento, que não é pouco.

17. Sobre Djokovic, uma campanha promissora terminou novamente em derrota na final (é praticamente sua terceira decisão em Roland Garros). E, desta vez, com uma atuação bem abaixo do esperado. Num balanço das duas semanas, o sérvio foi quase uma versão tenística do Bayern de Munique. Um começo arrasador e uma queda brusca de rendimento no fim.

18. No feminino, foi admirável a campanha de Simona Halep. Com um jogo inteligente, bem planejado e, claro, executado, a romena avançou até a final sem perder um set. Na decisão, diante de Sharapova, brigou até o fim, passando do ponto onde a maioria desiste de acompanhar a russa.

19. Se não foi tecnicamente um torneio perfeito para Maria Sharapova, o título recompensa a briga da ex-número 1. Precisou ganhar quatro partidas em três sets, mas foi lá e mostrou que, na hora que precisa, tem mais de onde tirar do que a maioria. E dane-se que Serena Williams já não estava mais na chave. Sharapova nada tem a ver com as derrotas de sua maior algoz.

20. Sim, estão fantásticas as fotos da russa com a Torre Eiffel no fundo.

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21. Entre os brasileiros, Thomaz Bellucci e Teliana Pereira pararam na segunda rodada. Venceram jogos ganháveis e perderam partidas diante de cabeças de chave. Resultados à parte, não dá para dizer que nenhum dos jogo tênis de altíssimo nível. Já escrevi um bocado sobre isso.

22. Nas duplas, a boa notícia foi André Sá alcançar as oitavas de final ao lado do croata Mate Pavic. Marcelo Melo também merece destaque, pois também chegou à terceira rodada, mas sem seu parceiro habitual. Com Ivan Dodig machucado, o mineiro jogou ao lado do israelense Jonathan Erlich. Bruno Soares e Alexander Peya perderam antes do esperado e pararam na segunda rodada.

23. Soares também perdeu uma ótima chance nas duplas mistas. Ao lado da ótima Yaroslava Shvedova, o mineiro sacou com três match points para derrotar Anna-Lena Groenefeld e Jean-Julien Rojer. No melhor deles, Soares smashou em cima de Rojer, que defendeu de reflexo. O ponto terminou com um espetacular lob vencedor de Groenefeld. O holandês e a alemã viraram a partida e, no dia seguinte, foram campeões da modalidade.

24. Na chave juvenil, o Brasil contou com o ótimo resultado de Orlando Luz, cabeça de chave 2 do torneio, que avançou até as semifinais. Sua eliminação veio por 7/5 e 6/3 diante do russo Andrey Rublev, que foi campeão um dia depois.

25. O melhor jogo do torneio? Difícil dizer, já que não foi uma daquelas edições cheias de embates espetaculares. Tecnicamente, eu iria de Gulbis x Federer. No entanto, os jogos que eu gostaria mesmo de estar na beira da quadra, vendo de perto, foram Murray x Kohlschreiber, Murray x Monfils, Monfils x Fognini e Bagnis x Bennetaeu. Quatro duelos de cinco sets, cheios de variações e com influência de torcida, clima, tudo. Tênis, assim, é legal demais de ver.

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26. O pior jogo? Provavelmente o justo seria escolher alguma partida de quadra pequena, lá pela primeira rodada. Meu "prêmio" vai para Djokovic x Gulbis, talvez o mais decepcionante dos encontros. O sérvio venceu fácil e nem jogou tão bem assim. A partida nunca engrenou. E vale lembrar: Nadal x Murray foi quase tão decepcionante quanto, mas o espanhol estava afiado e valeu aquele ingresso.

27. Tenho a impressão de que escrevi algo parecido após o Australian Open, mas sigo me divertindo vendo as produções da H&M para Tomas Berdych. O tcheco e sua camisa florida foram até as quartas de final em Roland Garros. Eu não compraria, mas admiro a ousadia da marca e do tenista.

28. O Bandsports mostrou um esforço nunca visto por um canal fechado no Brasil. Mandou uma equipe inteira para Paris, mostrou jogos em quadra sem transmissão "oficial", acompanhou os brasileiros em tudo e exibiu partidas em três meios (dois canais fechados mais internet). De modo geral, foi um ótimo pacote.

29. Outro acerto do canal foi a escolha de comentaristas. Flávio Saretta, Ricardo Mello e Jaime Oncins, o melhor de todos, formaram um ótimo grupo. Ninguém exagerou na fanfarronice, ninguém gritou na transmissão e ninguém inventou apelidos bobos. Os três quase compensaram a falta de intimidade dos narradores com o tênis. E isso inclui a parte do time que já narra habitualmente os WTAs.

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30. A grande falha do canal foi a presença de Elia Junior no estúdio. Diferentemente de quando trabalha na TV aberta e consegue "escapar" ao repetir clichês e meias verdades, num canal fechado e em uma transmissão para fãs (de verdade) de tênis, o apresentador não agradou. Falou bobagens e tentou mostrar uma intimidade que não tem com o esporte. E esteve muito, muito tempo no ar. Nas redes sociais, o apresentador foi massacrado. Talvez seja o caso de a Band repensar sua presença no estúdio em 2015. Ou que, pelo menos, Elia Junior se prepare melhor para um público que entende do que está vendo.

31. Durante as duas semanas, a ESPN recolocou no ar o Pelas Quadras, programa de bate-papo que já foi exibido durante o Australian Open. Além de uma boa opção para o fã de tênis, é uma medida inteligente do canal, que fica de janeiro a agosto sem um torneio grande para transmitir. O Pelas Quadras mantém a ESPN na cabeça do espectador de tênis, o que é muito importante para o canal – até porque o SporTV também tem os direitos de mostrar o US Open.

32. Por que 32 drop shots em vez de um número redondo, como 10, 20 ou 50? Para que o leitor não se sinta enganado como na maioria dessas listas. Afinal, quem está lendo um top 20 sempre percebe que os três ou quatro últimos itens foram desmembrados só para atingir a cota. Além disso, 32 é o mesmo número de tenistas nas chaves dos Challengers de Bogotá, os meus preferidos.

Coisas que eu acho que acho:

– Como estou trabalhando em assuntos envolvidos com a Copa do Mundo, este blog vai entrar de férias por pelo menos duas semanas. Até mais!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.