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Saque e Voleio

O importante é se divertir

Alexandre Cossenza

04/06/2014 19h39

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A frase acima é de Andrea Petkovic, em uma entrevista de 2011, publicada originalmente no site do SporTV. A alemã nascida na antiga Iugoslávia em uma família sérvia e em uma cidade que hoje faz parte da Bósnia, classificou-se, nesta quarta-feira, para as semifinais de Roland Garros – melhor resultado de sua carreira em um torneio do Grand Slam – ao derrotar Sara Errani por 6/2 e 6/2.

Naquele setembro de 2011, Petkovic era a número 11 do mundo. Muita coisa mudou desde então. Hoje, com 26 anos, a alemã é a 27ª na lista da WTA. E a diferença de ranking é a parte menos relevante da história. Petko teve uma fratura por estresse na coluna, uma torção no tornozelo esquerdo que exigiu cirurgia e uma lesão no joelho (a Sheila Vieira conta tudo isso, do jeito que só ela sabe, neste ótimo post). Pensou em abandonar tudo, mas insistiu.

Nem precisava. Se não vive como uma milionária, Petko já conquistou mais de US$ 3 milhões na carreira. Não é tanto assim. É um valor que soma os ganhos de quase dez anos como tenista profissional. Ainda assim, é de imaginar que a alemã tenha alguma reserva. Não passaria fome se largasse tudo. Além do mais, é uma moça inteligente, que fala bem e tem uma ótima noção do que acontece fora da bolha em que vive a maioria do circuito. Algum canal rapidamente contrataria a moça para comentar, entrevistar e tudo mais nas transmissões de tênis.

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Mas a moça insistiu. Perdeu em torneios pequenos, em qualis e saiu do top 100. Aos poucos, porém, voltou a vencer. Quando levantou o troféu em Charleston, boa parte do circuito festejou. Choveram parabéns no Twitter. De muitas jogadoras. Prova de que é possível, sim, fazer amizades e ter sucesso em um ambiente tão competitivo (mas isso seria discussão para outro post, certo?).

Depois de tantas reviravoltas e mudanças forçadas, o que restou de comum foi a alegria. Produzindo vídeos com o pseudônimo Petkorazzi, criando a Petkodance, rebolando com Djokovic num dia de chuva, correndo para o banheiro no meio de uma partida ou simplesmente dando entrevistas, a moça sempre seguiu à risca aquela frase lá no alto deste texto. O importante é se divertir. E Roland Garros é mais divertido com Andrea Petkovic nas semifinais.

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Coisas que eu acho que acho:

– Não há uma fórmula para se comportar e vencer no tênis. Enquanto Serena Williams e Caroline Wozniacki estão afogando as tristezas na praia, fazendo selfies de biquíni, há quem acredite que não é possível fazer amizade no circuito. Há quem entre em quadra precisando odiar o adversário, o público e o árbitro durante a partida. Tudo bem, cada um na sua. Não há nada de fundamentalmente errado nisso. Só me parece ser muito, muito mais prazeroso, assistir a um jogo de um(a) atleta que esteja se divertindo, aproveitando aquele momento.

– Não pode ser algo forçado. A própria Petko parou de dançar ao fim de seus jogos porque não estava mais sendo espontâneo. Quando passa a ser algo programado, perde a graça. Por isso, foi tão bacana ver Djokovic puxando papo com um dos boleiros durante uma pausa para chuva. Pelo mesmo motivo, foi engraçado vê-la beijando a raquete depois de derrotar Sara Errani. "Nunca tinha beijado uma raquete na vida. Não sei o que aconteceu. Estava muito emocionada. Eu não tinha um rapaz para beijar, então beijei minha raquete", explicou, sorrindo. Simples, não?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.