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Saque e Voleio

A fama que dói

Alexandre Cossenza

19/04/2014 16h59

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Já faz algum tempo que Novak Djokovic cuida bem de seu corpo. Desde 2011, quando elevou seu tênis a outro patamar e arrancou até alcançar o posto de número 1 do mundo, o sérvio teve relativamente poucos problemas físicos. Uma torção no tornozelo aqui, uma dorzinha ali, mas foram raras as vezes em que algo lhe forçou a desistir de uma partida. Só que nem sempre foi assim, o que explica Djokovic ter ficado em quadra mesmo sem condições de ameaçar Roger Federer neste sábado, nas semifinais do Masters de Monte Carlo. Nole começou a sentir mais as dores no punho direito depois de perder o primeiro set. Na metade da segunda parcial, a partida era uma formalidade. No fim, o suíço venceu por 7/5 e 6/2 e avançou à final.

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E quando escrevo que nem sempre foi assim, lembro que um punhado de abandonos de Djokovic lhe deixou com uma reputação nada agradável. Até o politicamente correto Roger Federer chegou a fazer comentários nada amistosos sobre o "hábito" do sérvio. Noel já tem no currículo desistências em três dos quatro Grand Slams, e houve um tempo em que fazia-se piada sobre um eventual "retirement slam" de Djokovic, ou seja, abandonos nos quatro principais torneios do circuito mundial. Vale lembrar dos casos mais famosos:

ATP de Umag, 2006, final

Djokovic fazia a final contra Stanislas Wawrinka e reclamava de problemas respiratórios. Quando perdia o tie-break do primeiro set por 3/1, Nole deitou-se no chão e não levantou. Seu pai e um médico entraram às pressas na quadra, e a partida terminou ali.

Roland Garros, 2006, quartas de final

Depois de perder o primeiro set para Rafael Nadal por 6/4, Djokovic pediu atendimento alegando dores nas costas. Ao perder também a segunda parcial por 6/4, abandonou a partida (vale recordar que Nole havia abandonado um jogo no saibro de Paris também no ano anterior, em 2005).

Wimbledon, 2007, semifinal

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Nadal vencia por 3/6, 6/1 e 4/1 quando Djokovic deixou a quadra. "Não é só uma bolha, é uma grande infecção causada pela partida de ontem e não durmi a noite inteira porque sangrava muito. Eu mal conseguia andar esta manhã. Não foi só isso. Também minhas costas foram um problema nos últimos dias e, basicamente, meu corpo inteiro. Estou muito cansado e exausto", foi a explicação do sérvio.

Neste caso aqui, em que o sérvio fala sobre cansaço, faz-se necessária uma ressalva: a edição 2007 de Wimbledon foi castigada por muitos dias de chuva. Nadal e Djokovic, por exemplo, só concluíram a terceira rodada na quarta-feira da segunda semana. O espanhol, vice-campeão naquele ano, precisou entrar em quadra todos os dias, de quarta a domingo.

Monte Carlo, 2008, semifinal

Perdendo por 6/3 e 3/2 para Roger Federer, Djokovic abandona citando tontura e garganta inflamada. Em janeiro do ano seguinte, após outra desistência (já, já, chegamos lá) o suíço daria uma declaração pesada: "Ele não é um cara que nunca desistiu antes. É decepcionante ver. Ele desistiu contra mim em Mônaco, no ano passado, por causa de uma garganta inflamada. Quero dizer, é o tipo de coisa que te deixa imaginando. Eu só abandonei uma vez na minha carreira".

Australian Open, 2009, quartas de final

Andy Roddick vencia por 6/7, 6/4, 6/2 e 2/1 quando o sérvio desistiu da partida por causa do calor de Melbourne. Foi justamente após essa partida que Federer deu a declaração acima. Roddick, por sua vez, esperou até o US Open daquele ano para alfinetar Djokovic e citar, de forma irônica, seus muitos problemas físicos. Indagado sobre uma possível lesão em um dos tornozelos do adversário, o americano respondeu: "Não são os dois? E as costas? E o quadril? E cãibra, gripe aviária, antraz, tosse e resfriado?". E completou: "Se tem algo, tem algo. Só que é muito. Ou ele chama o fisioterapeuta rápido demais ou é o cara mais corajoso de todos os tempos". Veja no vídeo abaixo.

Ah, sim: Djokovic respondeu na quadra, eliminando Roddick do US Open e com uma postura irônica na entrevista pós-jogo, o que lhe rendeu vaias do público no Estádio Arthur Ashe.

Coisas que eu acho que acho:

– Quando saiu de quadra, após a derrota, Djokovic ainda não sabia que tipo de lesão era, o que é sempre preocupante. "Ouvi tantas coisas nos últimos 10 dias", revelou. O número 2, contudo, tratou de acalmar os jornalistas: "O bom é que não preciso de uma cirurgia. Não sofri uma ruptura nem nada do tipo. Vou ver os médicos hoje à noite e, amanhã, passar por outra ressonância para ver se algo mudou nestes sete dias desde que passei pela primeira", completou.

– Que a lesão não tenha se agravado por causa dos games que Djokovic não precisaria ter disputado caso tivesse abandonado. De qualquer modo, é compreensível a postura do sérvio em um momento delicado. Se abandona, é criticado por deixar a quadra enquanto estava perdendo. Se fica em quadra, corre o risco de comprometer o corpo e os próximos torneios. Não tem saída fácil.

– Roger Federer e Stanislas Wawrinka fazem a final de simples. Em jogo, o posto de número 3 do mundo. Federer, claro, tem a vantagem em confrontos diretos, com 13 vitórias em 14 jogos. O único triunfo de Wawrinka, contudo, foi justamente em Monte Carlo, em 2009.

– O Brasil terminou o primeiro dia perdendo da Suíça por 2 a 0 na Fed Cup, no confronto disputado em Catanduva, que vale vaga no Grupo Mundial II. Escreverei sobre o confronto após o fim, no domingo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.