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Saque e Voleio

Sobre momentos, tendências e teorias apocalípticas

Alexandre Cossenza

18/04/2014 15h52

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Rafael Nadal perdeu para David Ferrer: 7/6(1) e 6/4. A frase anterior, contudo, diz pouco. Analisemos o contexto. Nadal perdeu para Ferrer no saibro, algo que não acontecia desde 2004, e foram 17 partidas nesse período! Tem mais: Nadal perdeu para Ferrer em Monte Carlo, onde o número 1 do mundo já foi campeão oito vezes e acumulava apenas duas derrotas em toda carreira. E não acabou: Nadal perdeu para Ferrer cometendo 44 erros não forçados. Não me lembro de ter visto tantas falhas de Nadal na terra batida em dois sets.

Quem lê o blog, sabe que passo longe de adotar as teorias apocalípticas – aquelas, por exemplo, que aposentaram Federer meia dúzia de vezes -, mas acho que vale ao menos uma reflexão o raro resultado desta sexta-feira. Nem tanto no que diz respeito ao status da carreira de Rafael Nadal, mas na questão mais, digamos, momentânea, que é a forma do número 1 do mundo no início da temporada europeia de saibro, a parte mais importante de seu calendário.

Há pelo menos duas maneiras de encarar a atuação de Nadal. A primeira delas é a simples constatação de que foi um dia ruim – e os 44 erros são prova disso. Combinado a uma atuação competente, embora nada espetacular, de David Ferrer, o desempenho abaixo da média de Nadal resultou em uma derrota por 2 sets a 0. Em uma visão otimista do cenário, é só o primeiro evento de saibro na Europa, o espanhol defendia "apenas" o vice-campeonato e resta bastante tempo para que ele calibre seus golpes e chegue em forma a Roland Garros.

Um segundo modo de ver o jogo não é tão animador. Sim, é verdade que Nadal jogou mal, mas também é inegável que ele já teve dias abaixo da média em Monte Carlo e sempre conseguiu sair de buracos (oito títulos consecutivos, de 2005 a 2012, são prova disso). Mais: não é seu primeiro dia ruim em 2014. Depois da bolha e da lesão nas costas sofrida em Melbourne, Nadal fez um Rio Open abaixo da média (o título é consequência/outra prova de sua superioridade no piso), sofreu uma queda precoce em Indian Wells e foi vice em Miami, com uma final um tanto decepcionante. Não é a melhor das temporadas para o homem.

Entretanto, como sempre quando envolve tenistas desse nível, a velha ressalva se faz necessária. Nadal, assim como Federer e Djokovic, já fez campanhas impecáveis, temporadas que merecem dúzias de adjetivos. Quando nem tudo acontece conforme esses padrões super-humanos, é normal que fãs e críticos levantem pontos de interrogação e teorias apocalípticas. Talvez não seja para tanto, mas vale a constatação de que o momento de Nadal e a ótima fase de Djokovic parecem conspirar para levar o trono de número 1 do mundo de volta para a Sérvia.

Coisas que eu acho que acho:

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– Sem querer comparar, mas inevitavelmente comparando, Djokovic fez um começo de jogo abaixo da crítica e, aos poucos, encontrou uma maneira de derrotar Guillermo García-López. Não, GGL não é David Ferrer, mas fez um grande jogo até o fim do segundo set. Teve um 15/40 e sacaria em 4/3 no segundo set se tivesse convertido um break point. O atual campeão de Monte Carlo, contudo, foi brilhante a partir desse game e arrancou para a vitória por 4/6, 6/3 e 6/1. Não é todo mundo que lembra, mas Nole passou aperto em um punhado de jogos naquela sequência de 43 vitórias. Sempre elevou seu jogo nos momentos mais importantes.

– Federer também passou por aperto. Perdeu o set inicial para um calibrado Tsonga e, na segunda parcial, desperdiçou um caminhão de break points (foram dez só naquele set e 17 em toda partida) até se deparar com a necessidade de sacar em 0/30, com 5/6 no placar. Federer também esteve a dois pontos da derrota quando perdeu três set points e viu Tsonga empatar o tie-break em 6/6, mas o francês tampouco aproveitou as oportunidades que teve. No fim, o suíço venceu com folga o terceiro set: 2/6, 7/6(6) e 6/1. Encara Nole na semi.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.