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Saque e Voleio

A dor da incerteza

Alexandre Cossenza

05/04/2014 04h05

Clezar_Davis_col_blog

"O administrador de riscos". Não foi por acaso o título da entrevista que fiz com João Zwetsch após a convocação do time brasileiro que está no Equador, disputando a Copa Davis. Thomaz Bellucci, em seu estado atual, era um risco na quente e úmida Guayaquil. Feijão era um risco porque volta de uma lesão delicada e não se sabe como o abdômen reagiria a um eventual jogo de cinco sets. O capitão fez uma convocação segura – na medida do possível. Levar o estreante Guilherme Clezar foi mais necessidade do que opção.

E o que acontece? O perigo vem de onde ninguém esperava. Não pela derrota de Clezar para Emilio Gómez, algo nada improvável, mas pelo "como". No início do terceiro set, o gaúcho sofreu uma lesão no músculo adutor da coxa direita, gritou de dor e não conseguiu mais jogar. Abandonou e, após submeter-se a uma ressonância magnética em Guayaquil, soube que ficará fora das quadras por pelo menos um mês (um a três meses é o período estimado por Ricardo Diaz, médico que acompanha a equipe brasileira no confronto.

Como Rogerinho havia vencido o primeiro jogo, contra Julio Campozano, o primeira dia terminou empatado em 1 a 1. Até aí, tudo bem. O dilema, contudo, reside na hipótese de um duplista precisar decidir o confronto no domingo. É bastante provável que Bruno Soares e Marcelo Melo vençam neste sábado, o que deixaria o Brasil à frente por 2 a 1, precisando de mais um ponto.

Sem pressão, Rogerinho…

Rogerinho_Davis_JA_blog

O primeiro jogo do domingo na Copa Davis sempre coloca frente a frente os tenistas mais bem ranqueados de cada país. Em outras palavras, Rogerinho encara Gómez com a chance de fechar o confronto. Mais do que isto: com a necessidade de fechar o confronto. Ninguém quer ver um duplista jogar, quem sabe, cinco sets contra um simplista, mesmo que este seja Campozano, número 495 do mundo.

É uma posição um tanto nova para Rogerinho, que sempre atuou como número 2 do país, com Bellucci segurando a onda em caso de derrota. Em Guayaquil, o paulista entrou em quadra como número 1 pela primeira vez e a primeira impressão não foi animadora. Diante de Campozano, Rogerinho cometeu muitos erros e não passou perto de seu melhor tênis. Mesmo assim, venceu, o que tem seus méritos. Mas como se sairá o paulista em território desconhecido, precisando triunfar em um jogo de Copa Davis? Sua posição não é nada confortável.

Coisas que eu acho que acho:

– Bruno Soares ou Marcelo Melo no quinto jogo? Zwetsch ainda não disse. Quem quer que vá a quadra não terá moleza. Não que Campozano seja um adversário imbatível, mas a quadra muito lenta de Guayaquil dificulta a vida de qualquer duplista. O equatoriano tentará longas trocas de bola. Contra Rogerinho, fez a partida durar mais de três horas. Se conseguir esticar contra um dos mineiros, complicará bastante a situação do Brasil.

– A quadra lenta pode, no fim das contas, ajudar Rogerinho. Emilio Gómez tem um saque bom, mas não é tão consistente e não se defende tão bem quanto o paulista. Caso atue um pouco melhor do que na sexta, Rogerinho deve ter boas chances de vencer e evitar o temido quinto jogo.

– É sempre bom lembrar, já que recebi algumas perguntas do tipo após a desistência de Clezar. Após o sorteio, não existe "reserva" em Copa Davis. A partir de quinta-feira, quando são definidos os quatro integrantes de cada equipe, apenas estes quatro podem jogar. Assim sendo, Thiago Monteiro e José Pereira, que treinaram junto com o time brasileiro em Guayaquil, não podem entrar no lugar de Clezar. Depois do sorteio, os dois são apenas, digamos, sparrings.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.