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Pressão, pra que te quero?

Alexandre Cossenza

31/03/2014 08h00

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Orlando Luz conquistou, neste domingo, o título do Campeonato Internacional Juvenil de Tênis de Porto Alegre, o evento que até poucos anos atrás era chamado oficialmente de Copa Gerdau (e que só não leva o nome da empresa hoje porque conta com verba da Lei de Incentivo ao Esporte). Não é pouca coisa. A ex-Gerdau é o torneio mais importante da América do Sul e é uma competição de nível A, assim como os Grand Slams juvenis.

O tamanho do feito de Orlandinho (que é chamado assim porque seu pai tem o mesmo nome) é considerável. Não só porque o jovem gaúcho tem 16 e joga a categoria de 18 anos, mas porque faz parte de três semanas brilhantes. No último domingo, Orlando venceu o Banana Bowl, que por 32 anos não teve um brasileiro como campeão. Uma semana antes, o gaúcho conquistou o título do Asunción Bowl, no Paraguai (torneio de nível I, como o Banana).

São 16 vitórias seguidas e muitos pontos, que colocam Orlandinho como número 4 do ranking mundial juvenil. É aí que muita gente começa a dizer que o gaúcho vai começar a ser pressionado por resultados. E trata-se de um panorama delicado. Nem tanto para o jovem tenista, mas para quem lida com ele no dia a dia.

Dizer que um tenista vai ter pressão é clichê. Redundância. Roger Federer tem pressão sempre porque é um fenômeno e espera-se dele um tênis de altíssimo nível. Thomaz Bellucci tem pressão porque está fora do top 100 e precisa de resultados para subir no ranking e voltar a entrar direto em torneios grandes. Ricardo Hocevar tem pressão porque fica sem dinheiro para manter-se no circuito caso não conquiste um certo número de vitórias. Pressão existe para todo mundo, todos os dias. Faz parte da profissão tenista.

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A pergunta que precisa ser feita – sempre! – é "pressão de quem?". Mas adiemos um pouco. Calma, eu volto ao assunto alguns parágrafos adiante. Minha queixa com quem tenta prever o futuro dizendo que Orlandinho (ou qualquer outro juvenil que se destaque) vai ter pressão é a seguinte: que brasileiro de destaque deixou recentemente de ser um grande profissional por causa de "pressão"? Lembremos, então, de alguns brasileiros que foram top 10 do ranking mundial juvenil: André Miele, José Pereira, Nicolas Santos, Fernando Romboli e Tiago Fernandes.

Nenhum deles figurou entre os 200 melhores do ranking profissional. Em que caso podemos dizer que a "culpa" é de pressão externa? Honestamente? Nenhum. Tiago Fernandes, o mais talentoso destes e que venceu um Grand Slam juvenil, foi o único que lidou com certa pressão, mas de si mesmo. E nem assim pode se dizer que foi o único motivo de sua queda. Tiago teve problemas físicos, diferenças com Larri e perdeu muito tempo – e ranking.

Lembremos, então, de um caso ainda mais recente. Thiago Monteiro, campeão da Gerdau, foi número 2 juvenil. Hoje, treina com Larri Passos, ex-técnico de Guga, e tem a carreira agenciada pelo tricampeão de Roland Garros. Quem está pressionando o garoto? Quem está chamando Thiago de novo Guga, novo Bellucci, novo Meligeni (e quem mais valha a pena comparar)? Ninguém. Ninguém.

Ok, voltemos à pergunta: "pressão de quem?" Não existe uma resposta para isso. Pressão popular? O povo não vai às ruas pedir títulos de Orlandinho, não vai xingá-lo no aeroporto depois de uma campanha ruim, não vai pichar os muros de sua casa nem invadir o CT se ele não vencer. Não existe pressão popular porque, convenhamos, tênis não é esporte popular.

De onde ela vem, então? Há quem goste de culpar o jornalismo. "Ah, a imprensa exagera". Nem tanto. E aí entra outra discussão: se a imprensa não mostra, dizem que não apoia o esporte; se mostra, coloca pressão. Não, senhores, a imprensa não é a maior culpada se este ou aquele juvenil não vingou (ainda) como um grande profissional. Há muitos fatores que entram nessa conta. Desde o (parcialmente) enganoso ranking juvenil, que conta apenas seis torneios, até o efeito de contratos publicitários, passando pela orientação que o adolescente recebe após o sucesso em sua faixa etária.

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Orientação (que fique claro, não estou falando especificamente de Orlandinho), aliás, é uma questão interessante. Não é preciso ir muito longe para ver juvenis sendo superprotegidos (e mimados!) por técnicos e pais. Há quem proíba garotos de dar entrevista sob o argumento de que "tira o foco". Há quem diga e repita – e repita – que fulano vai ter pressão porque tem ranking melhor do que o adversário, que "vai jogar solto". Frases feitas que não levam ninguém a lugar algum.

Falar da pressão como um monstro ou culpar a imprensa é desorientar. Este, sim, é um perigo grande. Perto de iniciar uma vida como profissional, um jovem, em vez de ser ensinado a lidar com certas situações (como dar entrevistas), ouve que precisa evitá-las. Isso, sim, é grave. Juvenil precisa ser ensinado a lidar com toda forma de adversidade. Seja torcida contra, a necessidade de pontos no ranking, uma dificuldade financeira, um adversário de ranking inferior e por aí vai.

Pressão, de forma geral, vem de dentro, da vontade que alguém tem de conseguir algo. E não é necessariamente ruim, desde que a pessoa tenha sido orientada para lidar com aquilo e reagir de forma positiva. Quem não quer passar por isso não pode estabelecer metas ousadas. Não quer pressão? Não ganha! Ou então vai jogar futebol e pede pra ficar no banco. A vida lá deve ser bem mais fácil.

Coisas que acho que acho:

– Repito: não é um post obre Orlandinho. Não sei como são seus treinamentos nem como é sua orientação. Apenas usei o recente sucesso do gaúcho para ilustrar um cenário que vejo com alguma frequência. Sobre o gaúcho, registro meus parabéns a ele e sua equipe – em especial, o técnico André Podalka, que o acompanha nos torneios.

– Sobre a velha questão de a imprensa "tirar o foco", vale notar o caso de Bruno Soares, que deu entrevistas como nunca em 2013 e fez a melhor temporada de sua carreira. Obviamente, não estou comparando o duplista número 3 do mundo com juvenis. Soares já passou dos 30 e aprendeu a lidar com a atenção recebida. Vale, no entanto, como exemplo. O melhor tenista do país é também o mais acessível. Que técnicos e ex-tenistas observem, aprendam e ensinem.

– Vale registrar: enquanto é justo que seja comemorado o título de Orlando em Porto Alegre, é importante notar que apenas uma brasileira passou da estreia na chave de 18 anos da ex-Copa Gerdau. Eram 12 inscritas, e só Luisa Stefani avançou. Ela parou na terceira rodada, eliminada pela cabeça 8.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.