Topo

Saque e Voleio

O fim do tabu do tabu

Alexandre Cossenza

24/03/2014 07h00

Luz_Banana_WilliamLucas2_blog

Durante algum tempo, foi um tabu falar do tabu. Muita gente na comunidade tenística – ex-atletas, técnicos, "assessores" – via como uma espécie de ofensa, um tipo de crítica nada subliminar. Mas é trabalho da imprensa lembrar estatísticas, séries de vitórias e, nesta caso específico, um jejum. Um tabu. Em 32 edições consecutivas, o Banana Bowl não teve um brasileiro como campeão em sua categoria principal – 18 anos masculino.

A seca acabou neste domingo, quando o gaúcho Orlando Luz, 16 anos recém-comemorados, conquistou o título ao derrotar o também brasileiro João Menezes na final: 6/3 e 7/5. E, de repente, passou a ser bacana citar o tabu de novo. Depois de 33 anos, um brasileiro vence o Banana. Legal. E é legal mesmo, apesar de que, neste caso específico, as três décadas de seca são pouco mais de uma série de coincidências do que o reflexo de um trabalho mal feito.

Não quero entrar nem no mérito do que a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) fez ou deixou de fazer no período. Meu ponto aqui é que não muda muito o fato de haver um campeão brasileiro no Banana. Primeiro porque tenistas do país já venceram a Copa Gerdau – hoje, um torneio nível A, mais importante e que equivale a um Grand Slam no número de pontos. Thiago Monteiro venceu em 2011, José Pereira em 2008 e 2009, Raony Carvalho em 2005, e a lista ainda inclui Flávio Saretta, Alexandre Simoni, Marcos Daniel (duas vezes) e Gustavo Kuerten.

O próprio Orlando Luz, chamado por todos de Orlandinho, venceu, na semana passada, o Asunción Bowl, no Paraguai, um torneio de nível 1, o mesmo do Banana. Em outras palavras, fora o fato de o próprio Orlandinho ganhar a justa exposição por ser campeão de um torneio importante dentro de seu país, nada muda no grande cenário da modalidade. O tênis brasileiro não foi melhor ou pior nos últimos 33 anos porque não houve um campeão brasileiro no Banana. E escrever isto não é menosprezar ninguém. É apenas evitar um exagero que não é bom para ninguém, nem para o próprio gaúcho de 16 anos.

Luz_Banana_WilliamLucas_blog

Coisas que eu acho que acho:

– Importante notar que foram três semifinalistas brasileiros na chave de 18 anos. Marcelo Zormann foi eliminado por Orlandinho antes da final. Estes dois, aliás, já têm alguma experiência em torneios profissionais. Enquanto o gaúcho participou de cinco Futures e um Challenger, o paulista já conta com uma dúzia de eventos no currículo – incluindo aí o título do Future de Montes Claros, no ano passado.

– Somando aos resultados de Assunção, Orlando Luz agora soma 18 jogos sem perder – dez de simples e oito de duplas. Tanto no Paraguai como no Banana Bowl, o gaúcho foi campeão de simples e duplas. Um momento, de fato, brilhante.

Luz_Menezes_Banana_WilliamLucas_blog

Sem ir na toalha (para ler em até 20 segundos):

– Para não passar sem registro: antes de Orlando Luz, o último brasileiro a sagrar-se campeão de 18 anos do Banana Bowl foi Eduardo Oncins, em 1981.

– Orlando Luz e João Menezes também foram campeões de duplas do Banana Bowl. Na final, os brasileiros derrotaram o japonês Naoki Nakagawa e o argentino Lautaro Pane por 2 sets a 0: 6/2 e 6/2.

– No circuito da ATP, Thomaz Bellucci voltou a sofrer com problemas físicos e abandonou sua estreia no qualifying do Masters 1.000 de Miami. Como consequência, o paulista cai de 91º para fora do top 100. No WTA de Miami, Teliana Pereira foi derrotada na primeira rodada do qualifying e também perderá posições. Ela sai do 96º para o 99º posto.

– Fabiano de Paula foi campeão do Future de Lima, no Peru. O carioca, que jamais havia levantado um troféu profissional fora do Brasil, derrotou na final o o argentino Federico Coria (sobrinho de Guillermo Coria, aquele!) por duplo 6/1. Fabiano, que já esteve entre os 300 melhores do mundo, caiu por causa de lesões e era o número 446 na semana passada.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.