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Saque e Voleio

O Brasil Open em 20 drops shots

Alexandre Cossenza

03/03/2014 13h27

Não foi uma semana tão corrida quanto a do Rio de Janeiro, mas os últimos sete dias, período do Brasil Open, foram bastante animados. O torneio paulista mostrou melhorias, embora com uma chave nada forte, e conseguiu até levar um bom público ao Ibirapuera no sábado. Também vimos a torcida reconhecer o belo torneio de Thomaz Bellucci. Como ninguém aguentaria ler um post esmiuçando tudinho-tudinho, aqui vai outra edição dos drop shots, que são um punhado de reflexões rápidas sobre a semana. Confira!

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– Federico Delbonis conquistou o primeiro título da carreira, aproveitando bem as condições rápidas, ideais para seu tênis. Sacou bem, agrediu e passou por um caminho nada fácil: Volandri, Almagro, Montañés, Bellucci e Lorenzi. Saltou 17 posições no ranking, entrou no top 50 (é o 44º) e, com 23 anos, ainda tem muito a melhorar – e subir. Olho nele!

– Paolo Lorenzi saiu de São Paulo feliz da vida. O italiano, que nunca tinha sequer disputado uma semifinal de ATP, esteve a um set de conquistar o título. Tirou o máximo da chance que teve no Brasil e só não venceu porque Delbonis encontrou seu tênis a tempo. Como o próprio Lorenzi disse, ficou muito difícil fazer algo depois do primeiro set. O italiano só tem a comemorar.

– Thomaz Bellucci também encerra o torneio em alta, apesar da chance perdida na semifinal contra Delbonis. O número 1 do Brasil voltou ao top 100 (é o 86º), jogou um tênis sólido do começo ao fim e encontrou uma confiança que andou sumida em 2013. O paulista deixou muita gente otimista. Escrevo mais sobre ele nestes posts aqui e aqui.

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– Tommy Haas, anunciado pela Koch Tavares como grande estrela do torneio, não teve sucesso. Nem conseguiu atrair público nem mostrou um tênis digno de um número 12 do mundo. Para piorar, o alemão sentiu dores no ombro, abandonou sua semifinal e, na coletiva, deu a entender que se a lesão persistir, será o fim da linha. Vale lembrar que foi o mesmo ombro que o tirou do Australian Open.

– É de se lamentar a derrota de Feijão, que vinha jogando bem até sentir dores nas costas. O brasileiro, que também vinha tratando uma lesão no abdômen, foi forçado a abandonar o jogo contra Albert Montañés, nas oitavas de final. No vestiário, sentiu o baque e desabou em lágrimas.

– A decepção do torneio ficou por conta da queda de Bruno Soares e Alexander Peya. Os dois foram eliminados logo na estreia, superados por Guillermo García-López e Philipp Oswald. Foi a primeira derrota de Soares no Brasil Open desde 2010. O mineiro foi campeão em 2011 com Marcelo Melo, em 2012 com Eric Butorac e em 2013 com Alexander Peya.

– Ainda sobre Bruno Soares, publiquei durante a semana do Brasil Open esta entrevista aqui, sobre ganhos, perdas, investimentos e tudo mais que envolve prêmios em dinheiro na carreira de um tenista. A repercussão entre leitores e tenistas foi ótima. Se você ainda não leu, clique aqui.

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– Também foi uma pena a ausência de Marcelo Melo, que demorou a se decidir entre Dubai e São Paulo e, quando alcançou a final no Rio de Janeiro, na semana anterior, não teve tempo de encontrar um parceiro para entrar no Brasil Open. Ele e seu técnico e irmão, Daniel, voltaram para Belo Horizonte.

– García-López e Oswald acabaram sagrando-se campeões na chave de duplas, mas não sem uma dose gigante de sorte. Na final contra os colombianos Juan Sebastian Cabal e Robert Farah (campeões do Rio Open), espanhol e austríaco escaparam de um match point quando uma bola marota bateu na fita e tocou no ombro de Cabal.

– Não é culpa de ninguém, mas o calendário do tênis mundial, com dois torneios no Brasil na mesma semana, não é nada bom para o país. Especialmente para Florianópolis, que não conseguiu atrair um nome de peso para a edição deste ano. Com isso, a cobertura da grande imprensa fica concentrada no Brasil Open, em São Paulo. Na capital paulista, os veículos não precisam pagar viagem e hospedagem a seus repórteres. Além disso, o torneio deste ano teve Thomaz Bellucci com reais chances de título.

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– Outra conversa que gostei de ter no torneio paulista foi com o argentino Daniel Orsanic, ex-treinador de Thomaz Bellucci. Após ser dispensado pelo brasileiro, Orsanic foi contratado por Pablo Cuevas. Os dois trabalharam juntos por três anos, justamente na época que o uruguaio alcançou seu melhor ranking. Agora recuperado após duas cirurgias no joelho, Cuevas vem subindo no ranking e tentando voltar ao nível que sabe que pode jogar. Leia aqui.

– Os três melhores tenistas do Brasil não disputarão o qualifying de Indian Wells. Para Bellucci, que fez semi em São Paulo, haveria pouco tempo de adaptação; Feijão tem lesões nas costas e no abdômen; e Rogerinho vai representar o país nos Jogos Sul-Americanos, em Santiago.

– A Koch Tavares voltou a acertar a mão com a organização do Brasil Open. A edição 2014 foi a melhor das três realizadas na capital paulista. Assentos numerados, uma quadra secundária digna, mais lojas e opções de alimentação na parte externa do Ibirapuera e até uma tentativa de reduzir a sensação térmica dentro da quadra central tornaram o evento muito mais agradável.

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– Houve, claro, falhas. A mais notória foi o apagão de quarta-feira. O calor (o termômetro de meu táxi indicava 38 graus), superaqueceu os cabos dos geradores e, por medida de segurança, a organização optou por desligar a força temporariamente. Foram 20 minutos sem luz, tempo no qual os geradores ficaram em stand by até que os cabos resfriassem.

– Em coletiva realizada no domingo, o diretor do Brasil Open, Paulo Pereira, mostrou-se bem consciente de que o torneio ainda precisa melhorar. Entre os planos, estão mais uma quadra de jogo e novas opções de alimentação e lazer (publico em breve a íntegra da coletiva, que foi realizada durante a final de simples – o timing não foi dos melhores).

– O Brasil Open ainda tenta, junto à ATP, mudar sua data. A intenção da Koch Tavares é fazer o torneio duas semanas antes, trocando de lugar com o ATP de Buenos Aires. Segundo Paulo Pereira, as melhorias do evento em 2014 vão pesar a favor de São Paulo, mas com uma ressalva: "Como (também) vão pesar as eventuais melhorias que os argentinos fizeram por lá."

– Falando em coletivas, a mais memorável deste Brasil Open foi a única concedida por Nicolás Almagro, que bateu boca com um jornalista. O vídeo da "conversa" foi parar no SporTV News, e está reproduzido abaixo. Na bancada da imprensa no Ibirapuera, cogitava-se a criação de camisetas com os dizeres "¿Viste el punto?"

– Havia 3.730 pessoas no Ibirapuera no domingo, dia da final. Nos dias anteriores, os públicos "pagantes e presentes" (número não conta quem pagou e não foi) foram de 1.050 na segunda-feira, 2.306 na terça, 3.080 na quarta, 2.760 na quinta, 3.750 na sexta e 5.008 no sábado. Com Bellucci na final, provavelmente teríamos o melhor público do torneio, mas faltaram dois games para isto. É o preço que se paga pela caótica edição de 2013, com todo tipo de problemas.

– Mais números do Brasil Open: o torneio usou 14 toneladas de pó de telha para cobrir as duas quadras, 5.040 bolinhas do tipo Wilson Australian Open, 1.100 metros de linha para fazer as marcações, 30 quilos de pregos, 40 máquinas climatizadoras, 700 toalhas, e 500 quilos de gelo. Foram servidas 4.800 refeições para jogadores e estafe, e quatro dúzias de bananas eram levadas diariamente ao Ibirapuera – só para os tenistas.

– Diálogo rápido com Rogerinho na zona mista, após sua vitória na primeira rodada, após ele dizer que tinha feito uma mudança por "coisa pessoal, de tenista."
Repórter: Você tem muitas superstições?
Rogerinho: Várias, mas não vou te falar (risos).
Outro repórter: Não falar a superstição é vergonha ou outra superestição?
Rogerinho: Outra superstição (mais risos).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.