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Entrevista: diretor festeja sucesso e dá explicações sobre o Rio Open

Alexandre Cossenza

24/02/2014 06h10

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Tenistas felizes, patrocinadores felizes, público feliz. A edição inaugural do O Rio Open teve suas falhas, mas acertou mais do que errou. De modo geral, os fãs com quem conversei saíram felizes do evento. Todos atletas que falaram com a imprensa também deixaram a cidade elogiando o torneio. Os jornalistas também ficaram satisfeitos (não vi ninguém lamentando no último dia).

Há muito a melhorar, claro. Até 2015, a organização quebrará a cabeça para encontrar um jeito de não deixar assentos vazios na Quadra Central (mesmo com todas entradas vendidas) em horários nobres. É também preciso se adaptar ao público carioca, que pouco comparece durante o dia. Para abordar um monte de assuntos, conversei com Luiz Carvalho, o Lui, diretor do Rio Open, após a final.

Foi mais um bate-papo do que uma entrevista (embora com gravador ligado), como deve ser sempre, e reproduzo a conversa quase na íntegra. Cortei apenas um par de assuntos que não diziam respeito ao Rio Open, mas surgiram no momento. É um texto longo, mas garanto que está ótimo para quem se interessa por tudo que está por trás das câmeras. Lui fala sobre uma série de fatores, como as polêmicas envolvendo as duplas, o que fazer (e não fazer) para atrair nomes de peso do circuito feminino, o número de ingressos distribuídos a patrocinadores, os meios de acesso ao Jockey Club Brasileiro, a quantidade de camarotes… Leiam porque tem muita coisa legal!

No fim das contas, o torneio fecha com um balanço positivo, não?
Bem positivo.

O que te deixou mais feliz?
Vários fatores. Quando a gente projetou o evento, a gente queria, número 1, agradar ao público, e o feedback foi sensacional. Número 2, agradar aos patrocinadores, e o feedback, melhor impossível. E número 3, agradar aos jogadores, e todos falaram super bem do evento. Óbvio, tem coisas que a gente pode entrar em detalhes, de mudancinhas para deixar o evento ainda melhor, mas cara… Em um evento combined, os jogadores saírem falando bem é difícil. Você sabe que rola um atrito, uma coisa "elas x eles". Quadra de treino, transporte… Todo mundo falou super bem. E a imprensa também, né? Houve falhas? Sem dúvida. Mas muita coisa de primeiro ano, de equipe nova, de lugar novo, que é muito fácil de corrigir. A gente não cometeu nenhum erro grave.

Era o que eu iria falar. Eu reclamo e tuíto, mas vejo que não é nada gigante, que não possa ser corrigido ou que tenha prejudicado a imagem do torneio.
Exatamente.

A maior crítica que se faz e se fez, desde o primeiro dia, foi na questão dos ingressos. Qual é avaliação de vocês sobre a causa disso (muitos assentos vazios, até em sessões com bilhetes esgotados) e o que pode ser feito? Talvez seja cedo para perguntar isso, mas vocês já avaliaram isso durante o torneio?
Para começar, sim. A gente fez uma estratégia de duas sessões para a manhã não ficar vazia. Os ingressos de manhã, de segunda a quinta, eram muito baratos. A gente distribuiu muita coisa para projetos sociais, enfim, para deixar o evento acessível para quem não tem poder aquisitivo de vir à Zona Sul e pagar. Surtiu algum efeito. Em alguns dias, até surpreendeu o público de dia. Hoje (domingo), com o sol que estava no Rio de Janeiro, com um jogo 11h30min, difícil dar público. Aliás, a gente estava discutindo nos vestiários: a única pessoa que botaria público num estádio às 11h30min seria o Nadal, e mesmo assim não iria lotar por causa do sol. Então é aquele negócio: ajuste de primeiro ano. A gente viu como o público se comporta. O carioca gosta de vir mais no fim do dia mesmo. A gente tem que fazer ajuste nesse sentido, botar os jogos mais tarde. A gente não botou os jogos mais tarde neste primeiro ano por causa do risco de chuva. As pancadas de chuva caem no final do dia, então a gente tinha que ter certeza que alguns jogos iriam terminar antes de chover e atrapalhar tudo.

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E a questão dos ingressos?
A questão do ingresso… Os buracos que na arquibancada eram muitos ingressos distribuídos para patrocinador que acabou não vindo, e alguns assentos bloqueados por a gente não ter certeza que tinha visão (completa da quadra). Por exemplo: onde estava coberto, ali no canto, de mil ingressos, só 700 a gente deu porque era inviável assistir a um jogo de tênis ali.

O outro fundo de quadra tinha as câmeras…
Tinha um pedaço, e a gente bloqueou esses assentos para se precaver de não ter reclamação. Ingresso marcado é muito complicado. No fim, concordo: ficaram buracos vazios, mas hoje deveria ter umas 300 cadeiras vazias.

Foi o dia que menos teve buraco.
Mas é muito ingresso de patrocinador e lugares que a gente não abriu ingresso para não ter reclamação. A gente teve um super cuidado com esse negócio da visão da quadra, sabe? Tem uma série de normas de bombeiro, tamanho dos corredores, enfim, várias coisas que a gente tomou cuidado para não errar. O que aconteceu no Brasil Open (em São Paulo, onde muitas pessoas tiveram de ver as partidas sentados nas escadarias do Ibirapuera)… Uma vez que os fãs tiveram uma experiência ruim, como no ano passado, é muito difícil apagar. O torneio fica marcado. A gente poderia ter vendido mais ingresso e deixado a quadra mais cheia? Quem sabe, sim, mas são ajustes pequenos que a gente precisa fazer. Quanto que um patrocinador principal precisa realmente de ingressos? Precisa de tudo isso? Podemos dar uma reduzida? É ajuste. Em primeiro ano, é natural que isso aconteça.

Você falou em colocar jogos mais tarde. Quase sempre as rodadas começaram às 10h e tiveram seis jogos na Quadra Central. É preciso ter seis jogos lá? Porque eu estava imaginando… Você pode começar a rodada da Central às 15h e passar dois jogos para as quadras secundárias?
Não, não precisa ter seis jogos na Quadra Central, mas quando a gente fez a grade, a gente não sabia quem vinha de masculino e feminino. A gente negociou com Wozniacki, Kirilenko, Ivanovic… Se vem uma dessas, junto com as brasileiras, precisaria jogar na Central. No masculino, a gente também não sabia como seria o corte. Na terça-feira, ficou apertado. Jogaram Almagro e Robredo dentro (da Central), Fognini jogou fora e deveria ter jogado na Central, mas jogou na 1. É complicado fazer esse negócio antes de testar uma vez. Agora, vendo, quem sabe a gente pode começar um pouco mais tarde, reduzir um pouco os jogos da Central e tentar jogar um pouco mais para a frente. E de novo: deu muito certo porque não choveu, mas se tivesse chovido, ter começado às 10h teria dado um alívio.

Mas ATP e WTA exigem o que em relação à Quadra Central? Precisa ter dois jogos de WTA?
Não, mas foi o que a gente se comprometeu a fazer. E uma vez comprometido, virou palavra. Tanto é que no dia do Bruno (Soares, que teve de fazer sua semifinal Quadra 1), teve uma negociação com a WTA. "Eu não tenho um jogo bom de vocês. Deixa jogar o Bruno na Central porque ele jogou duas vezes aqui fora e ficou lotado, é questão de segurança…" e você faz uma negociação. O masculino é um contrato de TV internacional, de ATP Media, que são quatro jogos por dia a partir de segunda-feira. Acho que segunda-feira foi um dia atípico porque não tinha bons jogos para TV internacional quanto deveria. É um contrato genérico. Todos ATPs 500 a partir de agora terão quatro jogos na Central, com TV internacional.

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Colocar câmera na Quadra 1 não resolve essa exigência?
Resolve. O problema é que é muito difícil você conseguir montar duas estruturas iguais de câmeras na Central e na 1. A Central tinha nove câmeras, a 1 tinha seis. A transmissão não é igual. A ATP Media não gosta disso. Ela quer uma consistência, um padrão. Na segunda-feira, a gente poderia ter aberto na 1, mas tem que abrir na Central. A gente queria ter aberto até com um jogo melhor. O que o SporTV fez foi um investimento muito alto, que é colocar câmera em duas quadras. Porque eles acreditaram no produto. A gente também tem a obrigação de dar mais jogadores para fazer sentido ter TV em duas quadras. Se não fossem os brasileiros da dupla, provavelmente não precisaria, mas a gente sabia já. Toda essa questão do Bruno, de ele ter ido à imprensa e falar, eu falei para ele… Foi super precipitado. A gente botou TV na Quadra 1 exatamente para ele porque sabia que não iria sobrar espaço. Achei que ele podia ter lidado com a situação um pouco melhor.

E a final (de duplas, que não foi exibida ao vivo pelo SporTV)?
Eu falei para o Marcelo… Se ele tivesse jogado a final de duplas na Quadra 1 com essas 500 pessoas, o ambiente teria ficado muito melhor do que jogar na Quadra Central. Uma quadra de 6.200 pessoas com 500 espectadores é muito diferente de uma quadra de mil com quinhentas. O Bruno e o Marcelo deveriam ter jogado a semifinal com a quadra lotada. E aí a gente faria um negócio na Quadra Central para a final. É aquele negócio… As coisas acontecem, a gente toma decisões, mas olhando para trás, fica bem mais fácil. A Quadra Central com o Bruno na semi… Zero ambiente. Não tinha ambiente nenhum.

E você não tem como obrigar a pessoa que compra ingresso pensando na final masculina, marcada para começar às 17h, a ver um jogo que inicia às 11h, sob um sol do capeta…
A final (de duplas) estava originalmente marcada para sábado. A gente sempre trabalhou com o SporTV com a (hipótese de) final no sábado. Se houvesse um brasileiro na final, a gente tentaria encaixar ou no sábado, depois das duas semis, ou no domingo, antes da final feminina. A gente foi trocando figurinha, e houve um mal entendido entre o SporTV, eu e o supervisor. De a gente ter falado "o SporTV tem a opção de passar a final no domingo às 11h30min", e o supervisor entendeu que esse era uma opção que os jogadores poderiam ter ou não. E passou para os jogadores, então eles falaram "quero domingo". Só que o SporTV estava ainda decidindo se a grade seria no sábado, às 12h, ou domingo, às 11h30min. E o SporTV disse "minha grade é sábado, meio-dia". Quando a gente falou isso, já era 20h de sexta-feira, e o Marcelo (Melo) não quis voltar meio-dia para jogar. "Ou você joga com TV amanhã, meio-dia, ou você joga sem TV às 11h30min, no domingo". Ele falou "quero jogar sem TV, no domingo". E aí parece que teve Twitter do Jorge Lacerda (presidente da CBT), enfim… Gente que não tem informação e corneta. Custa? Liga e pergunta. Mas prefere cornetar sem saber o que aconteceu.

O contrato com o Jockey era só para este ano?
É um acordo de um ano que a gente ficou de reavaliar no final do evento. O clube é dos sócios, então… Se eles gostaram, se eles querem de volta… Pelo feedback inicial, todo mundo gostou.

Lui_sorteio_blogE vocês gostaram também, não?
Cara, achei sensacional. Para o primeiro ano, foi redondo. Existem coisas que precisam ser ajustadas. No começo da semana, deu um burburinho com estacionamento, que um ou outro reclamou e que no fim das contas nem foi tão levado adiante, mas assim… Depois de um ano, quem sabe a gente pode investir em bolsão, em trazer gente do Shopping Leblon, do Parque dos Patins, enfim, há opções que a gente pode trabalhar para 2015 e melhorar essa questão do estacionamento, que nem foi um problema tão grande.

Teve gente reclamando de táxi.
Teve gente reclamando, mas assim… Existe um serviço que pode ser melhorado. Não é que foi esquecido. Quem sabe fazer mais contato com cooperativa para fazer uma frota maior na saída do estádio. Demorou um pouco a fila. Mas de novo, é ajuste, nada super grave.

E de resto?
A Quadra Central ficou bem redonda, as quadras de fora… (mudando de tom) Eu sou fã da Quadra 1! É a mais legal de todas. Fica todo mundo juntinho, pertinho…

Da Quadra 1, a minha queixa ali era o assento. Não é que seja bom ou ruim, mas ele não é retrátil e fica no sol o dia inteiro, aí você vai sentar e ele tá quente. E não é pouco quente, é muito quente.
Muito quente. Esse é o feedback. Agora, a Quadra 1 tem uns pontos de sombra. Mas é legal porque você fica muito perto. Quadra grande… Até tem umas coisas que eu quero mudar nessa Quadra Central para deixar a galera mais perto ainda.

Eu achei que tinha camarote demais. Mas muito torneio faz essa opção. Madri, por exemplo, tem "8 mil" camarotes, e a arquibancada começa lá no alto. Só que cada torneio faz seu balanço de quanto precisa vender aqui e ali, né?
Exatamente. E você vê… O Brasil Open tem 12 camarotes, seis de cada lado. Tem pouquíssimo, e mesmo assim não vende. E aqui no Rio foi absurdo. Eram 50 camarotes, se não me engano. Vinte eram de patrocinadores, e 30 foram vendidos. Esses 30 esgotaram em questão de dias, rapidíssimo. E é um público importante. O VIP… Você precisa dar esse serviço. Você não pode botar um presidente de empresa na arquibancada. Tem que ter um assento melhor para um pessoal de nível mais alto. E o tênis tem esse número de gente, então funciona bem.

A cobertura…
No nosso projeto inicial, eram duas áreas cobertas. A gente teve que abortar uma por falta de espaço para montar a estrutura.

Era o outro fundo de quadra?
O outro fundo. E agora a gente vai ter que sentar e discutir.

Era outra pergunta que eu tinha aqui. Será que compensaria ter mais setores da Quadra Central cobertos? Com mais sombra, haveria mais gente nas sessões diurnas, quando o calor é enorme?
É difícil dizer, né? É difícil você dizer isso, mas essa questão de jogo, de schedule, foi olhada com muito cuidado. Até a rain policy (devolução ou troca de ingressos no caso de falta de jogos por causa de chuva) de uma hora de jogo. Porque tem muito torneio que você comprou ingresso, choveu, ele não te retorna. A gente pesquisou, foi atrás, a IMG ajudou. É difícil avaliar mais espaço coberto, mas não tem como fugir. Qualquer torneio do mundo: Roland Garros, Australian Open…

O Australian Open é um inferno de quente, mas acho que a sensação aqui no Rio de Janeiro é pior por causa da umidade.
Tenho minhas dúvidas porque todo mundo que estava na Austrália falou para mim que aqui é muito mais gostoso. Que lá é insuportável, uma sauna, e aqui é úmido, mas não estava tão abafado. O Nadal sente porque sua que nem um camelo… Mas hoje estava quente! Se tivesse feito um dia desses na segunda-feira, iria assustar. A gente botou ventilador na quadra, a gente tem que trabalhar para dar uma aliviada porque não tem como desligar o sol. No fim das contas, ficou um clima bom até hoje. Hoje estava bem quente.

Para 2015, com o torneio nessa data, continuará a dificuldade para trazer alguém de peso da WTA?
Dubai e Doha continuam na mesma data, não tem o que fazer.

Você falou em Ivanovic, Wozniacki… Quais eram os argumentos para tentar convencer uma menina dessas a vir até aqui, deixando Dubai e Doha, que pagam muito mais e são em quadra dura?
Em 2015, a gente está sozinho em fevereiro. Florianópolis descolou (o torneio catarinense será em no segundo semestre na próxima temporada), Bogotá acabou, tinha um 125K em Cáli que não teve este ano, então a gente está sozinho, no meio do nada. É muito difícil porque o prize money de Doha e Dubai é muito alto. Para uma jogadora, vale muito mais a pena passar um quali e passar uma rodada do que fazer semifinal aqui. Então tem que ser financeiramente interessante para ela vir para o Rio. Cara, a gente tem um know-how da IMG enorme. A gente não faz nenhuma loucura. Eu não vou pagar nenhuma loucura para vir Ivanovic, para vir… Vou pagar o que é justo, e aí é difícil convencer. Essa foi a dificuldade. Um Ferrer, um Del Potro, um Gasquet… Ele vende mais do que uma top WTA aqui no Brasil, na minha visão.

E você corre o risco de trazer uma top e colocá-la numa chave como a deste ano, aí não vai ter jogo. Não precisa ser a Serena Williams…
Aí que tá. A gente apostou em gente que não está mais ligando para ranking e ponto e que está mais "cara, vou num torneio bacana, no Rio de Janeiro, uma cidade atrativa". A gente vai ter que continuar buscando isso: soluções criativas para 2015. Não vou te falar "vai vir a Radwanska, a Wozniacki e a Ivanovic". Não é o foco. E o mais legal de tudo, na verdade, foi o ressurgimento de Teliana e Thomaz. Hoje eu vi uma foto da Teliana em Florianópolis. Tem foto dela chegando no aeroporto! Foi recebida como estrela. E o Thomaz que reacendeu uma esperança, a galera foi super bacana com ele. Então temos que pensar nas brasileiras mesmo para 2015. Acho que a Paula (Gonçalves) e a Bia (Haddad) têm que aparecer. Está na hora de elas chegarem onde a Teliana está.

Na ATP, é mais fácil…
Com certeza, num 500 é mais fácil. Nadal gostou, e ganhar um título ajuda bastante a ele voltar para defender. Não queremos ficar nisso. A gente quer trazer gente nova para cá. Temos a IMG do lado para poder fazer isso. E acho que o próprio sucesso do primeiro evento… O que a gente queria criar, que era uma conversa de vestiário, a gente vai ter sucesso. O pessoal fala bem, gostou muito da cidade do hotel, do transporte, da comida, do jeito que eles foram tratados, e por ser um 500 também facilita bastante.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.