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Saque e Voleio

Humildade de campeão

Alexandre Cossenza

23/02/2014 06h15

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"Partidas como as de hoje… Semifinais são 180 pontos, finais são 300 pontos. Você pode pensar que um jogador como eu, que ganhou tudo que ganhou, não deveria se importar, mas é de coisas pequenas que se consegue grandes coisas. Não se alcança nada grande sem passar pelas pequenas. Sigo me esforçando no dia a dia, pensando em trabalhar e me esforçar ao máximo em cada dia e, partindo disso, conquistar coisas maiores. A vitória de hoje me permite a oportunidade de jogar outra vez amanhã, de tentar jogar melhor. Depois, jogo melhor ou jogo pior, posso ganhar ou perder, isso é o de menos. Se não tivesse sido suficientemente humilde para lutar hoje, estaria agora procurando uma passagem de avião."

Foi uma das sensações mais bacanas que vivi em uma quadra de tênis. Um tenista fazendo uma das melhores partidas de sua vida, um grande campeão lutando até a última gota de suor para manter-se vivo em um torneio de médio porte, e um público alucinado, comemorando efusivamente cada ponto e gritando os nomes dos dois tenistas alternadamente.

Rafael Nadal e Pablo Andújar disputaram um jogo para marcar a edição inaugural do Rio Open. Um partidaço que teve break points em quatro games diferentes no terceiro set e que só acabou depois que o número 1 do mundo, depois de estar duas vezes a um ponto da derrota, confirmou seu quarto match point no tie-break e avançou à final do torneio carioca para enfrentar Alexandr Dolgopolov.

O placar final mostrou 2/6, 3/6 e 7/6(10), mas foi uma daquelas típicas ocasiões em que o escore não reflete a emoção do duelo. Andújar foi brilhante, agredindo Nadal desde as devoluções e deixando o líder do ranking quase sempre na defensiva. O número 1, que não vivia uma grande noite, resistiu a duras penas sem conseguir forçar o saque. Foram raras, aliás, as vezes em que o primeiro serviço do favorito ultrapassou a casa dos 180 km/h – segundo o radar da Quadra Central.

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Tão marcantes quanto a linda apresentação de Andújar e a vibrante comemoração de Nadal – algo quase inesperado em uma semifinal de ATP 500, até porque vem de alguém que venceu 13 Grand Slams – foram as concorridas entrevistas coletivas dos espanhóis. O número 1, já no finzinho de sua conversa com a imprensa, falou da importância de batalhar em um torneio deste nível. A resposta, que reproduzo no alto deste post, explica muitos sobre os motivos pelos quais Rafael Nadal já conquistou quase tudo no circuito mundial.

Andújar também viveu seu momento popstar. Ao sair da coletiva, foi cercado por fãs e até abraço por uma morena que chegou gritando "you are the best" (em inglês mesmo) e pedindo uma foto. Antes, claro, teve seu nome gritado por cerca de seis mil pessoas que reconheceram seu brilho e seu esforço na Quadra Central. Sensação que o espanhol, atual número 40 do mundo, só viveu uma vez na vida. Foi em Paris, jogando em Roland Garros, e logo contra quem…

"(A partida de hoje) Me lembrou um pouco de quando joguei contra Rafa em 2011, na Lenglen (quadra Suzanne Lenglen), em Paris, na segunda rodada. Tive 5/1 no terceiro set e tive uns oito ou nove set points e acabei perdendo. E as pessoas de pé, me aplaudindo. É uma sensação muito bonita, mas só lembro daquela ocasião em Paris e esta vez, que foi muito especial, espetacular."

Andújar vai guardar por algum tempo as lembranças desta noite de sexta-feira, no Rio de Janeiro. E posso apostar que o público que esteve no Jockey Club Brasileiro para as semifinais masculinas tampouco vai se esquecer.

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Coisas que eu acho que acho:

– Até Nadal x Andújar, a primeira semifinal masculina do Rio Open havia sido o melhor jogo do torneio. Muito por mérito de Alexandr Dolgopolov, que fez um partidaço, deu pouquíssimas chances a David Ferrer e bateu o número 4 do mundo por duplo 6/4. Atual número 54 do mundo, o ucraniano que eliminou Nicolás Almagro já na primeira rodada, vai oferecer muito perigo para Nadal.

– O público ainda é um problema no Rio de Janeiro, principalmente durante o dia, enquanto bate sol direto nas quadras. Temo que a final de duplas, marcada para as 11h30min deste domingo, seja disputada com a Quadra Central quase vazia. E olhe que temos um belo jogo e um brasileiro em ação: Marcelo Melo e David Marrero enfrentam os colombianos Robert Farah e Juan Sebastian Cabal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.