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Saque e Voleio

Dilemas de Demoliner

Alexandre Cossenza

11/02/2014 07h00

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Nos três primeiros torneios do ano – todos da série Challenger -, Marcelo Demoliner conquistou apenas uma vitória. O gaúcho, então viajou até Zagreb em uma missão complicada: disputar o ATP 250 de Zagreb ao lado do indiano Purav Raja, com quem nunca havia jogado antes. Pois juntos, os dois derrotaram a dupla do tcheco Frantisek Cermak e os cabeças de chave número 3, Johan Brunstrom e Julian Knowle, sem perder sets. Brasileiro e indiano só foram eliminados pelos cabeças 2, Jean-Julien Rojer e Horia Tecau – e mesmo, assim no match tie-break.

O que mudou? "A energia", é o que responde Demoliner. Conversamos por telefone ainda no sábado, pouco depois da semifinal, e o gaúcho estava um tanto feliz com sua campanha na Croácia. No bate-papo, o atual número 94 do mundo no ranking de duplas falou sobre a química que obteve com Raja e de como tudo deu certo em Zagreb. Demoliner ainda falou sobre sua corrida contra o tempo para conseguir um ranking que o coloque nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, e da dificuldade que vem encontrando para encontrar um parceiro fixo. Leiam:

Você jogou três Challengers e ganhou uma partida só. Seu parceiro só tinha jogado um torneio. De repente, vocês estão numa semifinal da ATP. O que aconteceu nessa semana, que deu tudo certo?
Cara, o que mudou foi a energia. Eu peguei um parceiro que tem uma energia super positiva e foi muito legal ter jogado com ele. Ele tem um puta alto astral fora da quadra, dentro da quadra… Isso faz com que eu me preocupe somente comigo. Então eu relaxei essa semana e curti bastante. Foi bem produtivo, bem legal.

Mas como vocês formaram a dupla? Foi olhando a lista, vendo quem precisava de parceiro, ou vocês já se conheciam?
Não, foi tudo em cima da hora. Eu já joguei contra ele, conheço desde o ano passado, aí a gente viu que tinha dois ATPs aqui na Europa nesta semana e também tinha Viña del Mar, só que Viña eu sabia que iria fechar bem duro e eu não ia conseguir entrar. Comecei a analisar as duas listas daqui da Europa (Montpellier e Zagreb) e me inscrevi nos dois torneios. A gente ia entrar nos dois, e a gente acabou entrando neste porque a estrutura aqui é bem melhor. E deu tudo certo. Cheguei aqui cedo porque perdi na primeira rodada no Panamá, então deu para me adaptar bem com o fuso horário e o frio. E me adaptei super bem com o parceiro. É sempre melhor jogar com alguém que é duplista, né? Este ano, eu não tinha jogado nenhum torneio com parceiro duplista, então é outra coisa. O cara vem para jogar dupla, treina só dupla.

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Quem olha a campanha de vocês, com 6/3 e 6/4 no Cermak e no Elgin, 6/3 e 7/5 no Brunstrom e no Knowle, acha que foi fácil. Conta como foram esses jogos.
Foi legal porque o Cermak já foi 14 do mundo. A gente se conectou super bem desde o primeiro jogo, com uma energia super boa. Eu saquei muito bem o torneio inteiro. Meu parceiro voleia muito bem, faz boas devoluções. Eu também comecei a jogar na esquerda este ano. Estou gostando mais de jogar ali. Minhas devoluções melhoraram bastante nesse lado. Contra o Brunstrom e o Knowle foi um jogo que a gente teve chance e aproveitou as duas chances que teve. Aí a gente pegou confiança. Hoje, tivemos um pouco de falta de sorte. Tivemos um break no primeiro set, podia ter sido dois sets, mas faz parte. Tênis é desse jeito. Bom, agora é usar essa experiência, essa energia aqui para seguir em frente.

Você vai jogar Rio e São Paulo?
Provavelmente. Estou pedindo wild card, tenho grandes possibilidades. Se tiver, jogo Rio e São Paulo. Depois, vou jogar no Panamá e três Challengers no México.

Ainda vai entrar em quali de Challenger nas simples?
Ah, não estou me preocupando muito com as simples, sabe? Foi só nesses torneios que meu parceiro era singlista. Aí eu não tinha com quem treinar, não tinha muito duplista nos torneios, daí usei a simples para treinar para a dupla: fazer saque e voleio, devolução como se fosse para a dupla. Eu estou usando as simples para treinar. Está dando até resultado. Passei dois qualis de Challenger este ano, me divertindo, sem pressão nenhuma, mas meu foco realmente agora é dupla. Eu sei que meu físico não permite jogar as duas coisas. Ou é simples ou é dupla. Se tiver dois jogos no mesmo dia, uma simples que for para a negra, vai ser muito difícil de jogar 100% a dupla, então eu tenho que focar. Eu quero muito jogar as Olimpíadas. Tenho este ano para ir bem, ano que vem para fazer meu ranking mesmo e conseguir jogar as Olimpíadas, entende?

Com seu ranking de hoje (Demoliner era 100 do mundo em duplas na lista da ATP), é muito difícil conseguir um parceiro fixo, não?
É muito difícil.

Porque você fica entre uma coisa e outra, né?
Eu fico de cabeça de chave de Challenger e um, dois lugares, fora dos ATPs. Então é difícil tu não ter um cara fixo, ter que se adequar ao teu parceiro toda semana. É complicado, e os caras que estão ali entre o top 50 já têm parceiro fixo e já estão entrosados. É difícil eles desfazerem essas parcerias. Eles combinam para jogar um ano. Se não der certo, eles trocam a parceria no começo do ano. Só que sempre pegam quem está no top, já, para eles conseguirem entrar nos ATPs. Por isso que minha situação agora é difícil. Eu tenho que achar alguém no meu mesmo ranking, que queira se dedicar só à dupla, para subir junto. É assim que eu tô tentando fazer agora. Tô procurando. Até já falei com meu parceiro para ver se a gente não combina outros torneios. Talvez a gente jogue os Challengers da América Latina.

O quanto você ficou surpreso com a semana?
Cara, eu acredito muito no meu jogo. Para mim, não chegou a ser uma surpresa tão grande. Eu realmente vi que eu tenho chance. Os caras que eu enfrentei hoje (Rojer e Tecau), pô, são top 10 e já jogaram Masters. Tivemos quebra no primeiro set, ganhamos o segundo, e (perdemos) o super tie-break no detalhe. Então eu confio muito no meu potencial e espero que eu continue tendo boas vitórias para eu achar um parceiro e realmente me meter.

—fim—

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Sem ir na toalha (para ler em até 25 segundos):

– Enquanto Demoliner batalha por um wild cards nos torneios brasileiros, alguns convites vêm sendo anunciados. No Rio Open, por exemplo, já estão garantidos na chave principal Thomaz Bellucci e João Souza, o Feijão. Marcelo Zormann, por sua vez, ganhou um lugar no qualifying. Na chave feminina do torneio carioca, haverá Teliana Pereira, Paula Gonçalves e Bia Haddad.

– No Brasil Open, apenas Bellucci foi confirmado até agora. É muito provável, no entanto, que Guilherme Clezar, atleta agenciado pela Koch Tavares (promotora do torneio), também receba um wild card.

– Nenhum brasileiro passou pelo qualifying do ATP 250 de Buenos Aires, disputado neste fim de semana. Bellucci e Rogerinho abandonaram suas partidas na primeira rodada (calor e umidade levaram os tenistas à exaustão), enquanto Clezar chegou à terceira rodada, mas perdeu para o argentino Máximo González, que estreará na chave principal contra David Ferrer.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.