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Clássico Federer x Tsonga é destaque nas oitavas

Alexandre Cossenza

18/01/2014 10h15

A primeira semana do Australian Open começou com os favoritos sendo pouco exigidos, o que já é quase uma tradição do tênis atual, então o que será que podemos concluir até agora? O que esperar das oitavas de final masculinas? Com Nadal, Djokovic, Murray e Federer vivíssimos e jogando bem, é agora que o torneio vai começar a esquentar. Do número 1 do mundo ao lucky loser Stéphane Robert, de 33 anos, incluindo o clássico entre Federer e Tsonga, vejamos todos os confrontos da próxima fase em Melbourne.

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[1] Rafael Nadal x Kei Nishikori [16]
Se o número 1 do mundo está incomodado com as quadras mais rápidas deste ano em Melbourne, ninguém percebe depois que a primeira bola entra em jogo. A imagem que veio à cabeça neste sábado foi a do jovem Michael Jackson cantando "easy as one, two, three", enquanto o número 1 do mundo fechava o duelo com Gael Monfils por 6/1, 6/2 e 6/3.

Pois nem se francês fizesse o moonwalk durante um ponto seria capaz de tirar a concentração de Rafael Nadal. E talvez Nishikori, que vem jogando bem, precise tirar da bagagem um descendente do Gyodai para não passar vexame nas oitavas. Sim, o número 1 do mundo está afiado nesse nível. Fora uma lesão, é difícil imaginar Nishikori incomodando o espanhol.

[22] Grigor Dimitrov x Roberto Bautista Agut
Uma oportunidade rara para ambos. Dimitrov, 22 anos, vem aos poucos se afirmando como tenista de ponta, capitalizando em cima do potencial que todos sabem que ele tem há alguns anos. Em Melbourne, depois de derrotar Raonic em uma partida muito bem jogada – por ambos -, o búlgaro já faz a melhor campanha de sua vida em um Grand Slam. E, de bônus, não vai precisar duelar com Juan Martín del Potro, que caiu de forma precoce.

Se o argentino tombou cedo, o mérito é de Bautista Agut, que deu uma machadada atrás da outra até que o favorito não resistiu. O agressivo espanhol de 25 anos, 62º do ranking, vem aproveitando as quadras rápidas de Melbourne para se impor. Depois das vitórias em cima de Benjamin Becker, Delpo e Benoit Paire, é de se imaginar que o cidadão entrará em quadra com a mesma postura contra Dimitrov. O búlgaro, afinal, é o cabeça de chave e tem a responsabilidade – sem falar no eterno apelido de "Baby Fed", que já traz uma boa dose de pressão extra.

Vale lembrar: os dois já duelaram três vezes, e Bautista Agut levou a melhor em duas. Na última, em Pequim/2013, aplicou 6/4 e 6/2. Vem mais por aí?

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[4] Andy Murray x Stéphane Robert [LL]
Andy Murray chegou a Melbourne sem muita expectativa, declarando que havia treinado pouco (recuperou-se de uma cirurgia nas costas) e que não sabia como reagiria a uma partida longa. E ainda não sabe. Até agora, venceu seus jogos em sets diretos. Isso inclui uma partida perigosa com Feliciano López. A impressão que dá é que o escocês vem jogando solto justamente por não esperar muito deste Australian Open. Vem dando certo e deve funcionar também nas oitavas.

Se Murray não tinha expectativa, Robert, que perdeu no qualifying, tinha ainda menos. O francês, 33 anos e 199 do mundo, contudo, praticamente redefiniu o conceito de lucky loser. Herdou uma vaga que pertencia a um cabeça de chave e fez o melhor que podia. Passou por Bedene, Przysiezny e Klizan (outro lucky loser), chegando às oitavas. Sorte, no entanto, tem limite, e não parece lá muito provável que Robert volte a vencer em Melbourne este ano.

[10] Jo-Wilfried Tsonga x Roger Federer [6]
Um clássico. Um dos melhores matchups do tênis atual, com dois tenistas que jogam de forma agressiva, subindo à rede, voleando bem e usando curtinhas. Ano passado, em Melbourne, os dois se encontraram nas quartas de final e fizeram um dos melhores jogos da temporada. O suíço venceu por 6/3 no quinto set. Em Roland Garros, contudo, Tsonga deu o troco, triunfando em sets diretos.

Este ano, Tsonga já foi mais testado. Teve de passar por Volandri, Bellucci (ainda que o brasileiro só tenha resistido de fato por dois sets) e Simon. Seu tênis tem se mostrado consistente, e o piso favorece seu jogo agressivo. A superfície, entretanto, também ajuda Federer, que tem evitado longas trocas de bola.

Até agora, o suíço foi pouco exigido ao enfrentar Duckworth, Kavcic e Gabashvili. O grande ponto de interrogação no ar é o rendimento de Federer contra tenistas de ponta. Em 2013, o ex-número 1 do mundo sobrou contra tenistas inferiores, mas encontrou muitos problemas para superar a turma do top 10. Será assim também em 2014? Este mistério vai começar a ser desvendado agora.

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[7] Tomas Berdych x Kevin Anderson [19]
Típico caso de "até quando um tenista vai ser freguês?", sabem? Em nove jogos, Berdych derrotou Anderson nove vezes. Em Melbourne, os dois duelaram em 2012 e 2013, na terceira rodada. A partida de 2012 teve cinco sets, mas a do ano passado acabou em três, com dois tie-breaks. São sempre encontros equilibrados, mas Berdych acaba levando a melhor.

Em 2014, o tcheco ainda não perdeu sets, passando por Nedovyesov, De Schepper e Dzumhur. Chave tranquilíssima, é bem verdade. O caminho de Anderson foi bem diferente. Cinco sets contra Vesely, três contra Thiem e mais cinco contra Roger-Vasselin, que chegou a abrir 2 a 0. A trajetória turbulenta talvez dê ao sul-africano a confiança necessária para finalmente derrubar Berdych. É preciso saber, porém, como Anderson estará fisicamente. Até lá, o tcheco é o favorito.

Florian Mayer x David Ferrer [3]
O alemão tem o mérito de derrotar Mikhail Youzhny em cinco sets e a sorte de encarar um Jerzy Janowicz lesionado, jogando no sacrifício. De um modo ou de outro, Florian Mayer chegou às oitavas de final e poderá jogar mais uma vez sem a pressão de ser favorito.

As quadras mais rápidas de Melbourne não se mostraram obstáculo para David Ferrer até agora. O cabeça 3 passou por Alejandro González, Adrian Mannarino e Jeremy Chardy, perdendo apenas um set no caminho. Apenas um dia bem ruim (ou uma jornada fantástica do alemão) impede que Ferrer alcance as quartas.

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[8] Stanislas Wawrinka x Tommy Robredo [17]
Dois belos backhands em ação disputam um lugar nas quartas. Difícil avaliar o suíço, que contou com a desistência de Golubev na primeira rodada, bateu Falla em quatro sets em seguida e passou por WO às oitavas após a desistência de Pospisil. Se não ganhou ritmo de jogo, teve tempo para treinar e deve estar fisicamente em 100% de condições.

Não é a primeira vez que Robredo avança da maneira mais difícil. Em Roland Garros/2013, o espanhol virou três jogos seguidos, sempre perdendo por 2 sets a 0. Não vem sendo tão dramático em Melbourne, mas o espanhol esteve perdendo por 2 a 1 diante de Rosol na estreia (venceu por 8/6 no quinto) e, depois, precisou de quatro sets para superar Benneteau e Gasquet.

Wawrinka em grande fase e descansado, Robredo vindo de partidas duras… Pode bater a tentação de dizer que o suíço é favoritíssimo, né? Mas olha só o histórico: em sete jogos, Robredo venceu seis. Além disso, será que o suíço não sentirá a falta de partidas de verdade nos últimos dias? É promessa de jogão aqui.

[15] Fabio Fognini x Novak Djokovic [2]
É digna de respeito a campanha de Fognini até agora no torneio. Passou por Bogomolov, Nieminen e Querrey, sem grandes sustos. Só que diante da forma atual de Novak Djokovic, campeão quatro vezes do Australian Open, pouco parece importar o quão bem vem jogando o italiano.

Além de atropelar seus três primeiros oponentes em Melbourne, Nole não perde há 27 jogos – desde a final do US Open do ano passado. Nada indica que Fognini terá mais sorte do que os outros. O italiano perdeu todos os seis jogos que fez contra o sérvio (venceu um jogo de qualifying em 2006, que não entra nas estatísticas de chaves principais), e os últimos encontros nem foram equilibrados. Vai ser preciso algo muito improvável acontecer para deixar este jogo interessante.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.