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Saque e Voleio

O maior dos testes

Alexandre Cossenza

16/01/2014 18h20

Primeiro, o calor. Muito calor, até que a organização do Australian Open decidiu colocar em prática sua "política contra calor extremo". Todas partidas externas foram suspensas ao fim dos respectivos sets, enquanto Maria Sharapova e Karin Knapp lutavam sob o sol em um terceiro set longo, sem tie-break. Melhor para a russa, que resistiu bravamente, ainda que jogando mal, e venceu. Como já venceu dezenas de partidas jogando mal, impulsionada por seu espírito competitivo.

Depois, a quadra coberta. Jo-Wilfried Tsonga e Thomaz Bellucci precisaram se adaptar rapidamente às condições indoor, já que a Hisense Arena teve sua cobertura fechada após a primeira parcial. A mudança foi boa para o francês, que prefere jogar assim. Não que fizesse muita diferença. Ao fim do segundo set, o brasileiro já estava esgotado. Apelou para o saque-e-voleio e conseguiu, ao menos, chegar ao fim do duelo sem precisar abandonar a quadra.

No fim da tarde, veio a chuva. Quando a organização começava a reiniciar a programação, já com condições de jogo suportáveis, o céu de Melbourne fechou. Raios, pingos, e mais atraso. Juan Martín del Potro e Roberto Bautista Agut já estavam na Quadra 2 quando veio aquele raio do vídeo (no alto do post). Voltaram, então, para os vestiários. Quando a partida começou, o espanhol jogou com coragem, assumindo riscos, e com uma precisão assustadora. O resultado foi a primeira eliminação de um top 5 na chave masculina.

No fim das contas, foi o dia mais animado do Australian Open até agora. Até porque todo o atraso fez com que alguns jogos terminassem depois da meia-noite, incluindo o duelo entre a promessa australiana Nicky Kyrgios, de 18 anos, e o francês Benoit Paire, que venceu de virada, em cinco sets. E Kyrgios, exausto mas festejado pelo público, ficou em quadra até o fim, mesmo sem condições de equilibrar a partida. As comparações com Bernard Tomic foram inevitáveis.

Resumo da história? Quando o tênis sai do padrão e os atletas precisam sair de sua zona de conforto, a competição torna-se muito mais atraente. Por isso que Grand Slams são o que são, diferentes do resto. Ao longo de duas semanas, os tenistas precisam estar prontos para superar calor, frio, vento, quadras em condições diferentes, longas esperas no vestiário e, claro, sete adversários diferentes. Os Slams são e sempre foram o maior dos testes do tênis.

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Sem ir na toalha, até porque vocês, leitores, estão no ar condicionado (seção de itens para ler em até 20 segundos):

– Foram seguidos de calor e só nesta quinta, o terceiro dia de altas temperaturas, o Australian Open colocou em prática sua "política contra calor extremo". Isso porque o torneio usa como medida não a temperatura medida em termômetros, mas a temperatura de bulbo úmido, que leva em consideração a temperatura do ar, a pressão atmosférica e a umidade relativa do ar. Com pouca umidade, caso de terça e quarta-feira, a temperatura de bulbo úmido não chegou a um patamar em que o torneio considerasse necessário interromper a programação.

– Em sua entrevista coletiva, Maria Sharapova reclamou do torneio por não ser informada sobre a regra que determina o fechamento do teto retrátil. Disse que perguntou a um(a) fisioterapeuta da WTA, que não sabia a resposta. Federer, indagado sobre o mesmo tema, foi, digamos, mais prático: "Se eu quiser saber, a sala do árbitro é bem ali, eu vou e pergunto. Por isso, cabe a mim ir lá e descobrir".

Coisas que eu acho que acho:

– Não é uma decisão fácil interromper a rodada de um Slam por causa de calor. Afinal, até que ponto o calor é tolerável e a partir de onde começa a colocar em risco a saúde dos atletas? Suspender partidas em um dia quente, mas tolerável, não seria dar vantagem a tenistas menos preparados fisicamente? É um complicado balanço entre mérito esportivo (o condicionamento faz parte do pacote) e a integridade  física de quem está competindo. Vale lembrar, claro, que todos atletas sabem que o Australian Open é disputado no verão e que, eventualmente, será preciso jogar sob altas temperaturas. Cabe a cada um se preparar devidamente. Não parece muito inteligente, por exemplo, treinar em uma quadra indoor no inverno europeu antes de ir até Melbourne e reclamar do calor.

– O debate sobre se o torneio acertou ou não nestes três dias nunca vai acabar (eu achei correta a postura, mas é só minha opinião). A grande falha no regulamento, ao meu ver, foi exposta quando Sharapova e Knapp seguiram em quadra, disputando um set longo (sem tie-break), enquanto todas outras partidas eram interrompidas. Não seria o caso de mudar a regra e estabelecer uma suspensão com o placar em 6/6, por exemplo?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.