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Saque e Voleio

Questão de reputação

Alexandre Cossenza

15/01/2014 03h08

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Noite de segunda-feira: Bernard Tomic faz um set equilibrado contra Rafael Nadal, mas perde por uma quebra de saque. Na virada de lado, avisa que não vai continuar em quadra. Dores na virilha, ele explicaria depois, na coletiva. O público australiano, que não sabia da lesão, vaiou o tenista da casa.

Tarde de terça-feira: pouco mais de 12h depois de sua entrevista, Tomic convocou uma nova coletiva. Foi acompanhado de um médico e informou que a lesão foi uma ruptura, mais grave do que ele mesmo pensava na noite anterior. E a intenção da entrevista era justamente essa: falar sobre a gravidade da lesão e afirmar que as vaias ouvidas na Rod Laver Arena foram injustas.

Neste momento, alguém deve estar fazendo a seguinte pergunta: por que não apenas emitir um comunicado, como fazem todos tenistas? Era mesmo necessária a nova coletiva? A resposta talvez diga alguma coisa sobre a reputação de Bernard Tomic, que não tem a fama de ser um brigador dentro de quadra. Muito pelo contrário. Um de seus apelidos é "Tomic, The Tank Machine", algo como Tomic, a máquina de entregar jogos. Assim sendo, a presença de um médico parece ser uma tentativa (desesperada até) de ganhar um pouco de credibilidade.

O que Tomic fez foi mais ou menos o que Thomaz Bellucci teria feito se chamasse a imprensa para uma sessão de vídeo, tentando "provar" que ele lutou em quadra e que, por isso, foi vaiado injustamente no Ibirapuera em 2013. Sim, ele tentou, mas jogou mal, e o público não perdoou. Mas eu divago. O ponto é a questão da credibilidade. O simples anúncio da coletiva já depõe contra Tomic.

Mas o australiano, que tem 21 anos e dois títulos de Grand Slam juvenis no currículo, tem uma ainda jovem, mas bastante conturbada carreira. Sua folha corrida inclui uma briga com um amigo na saca de um prédio (Tomic estava pelado), problemas com a polícia australiana e alguns episódios desagradáveis com seu desequilibrado pai, que chegou a agredir um dos treinadores do filho. Os relatos eram tantos que o técnico agredido publicou na imprensa italiana o "diário de Thomas Drouet", contando os sete turbulentos meses que passou trabalhando para a família Tomic (leia aqui). Uma loucura.

A questão toda, no entanto, é a fama. Todos sabem que Bernard Tomic é talentoso, mas também é de conhecimento público que seu modo de trabalhar não condiz com o de um profissional da elite do tênis. Até lá, terá de aguentar cobranças e eventuais vaias. Especialmente quando, no mesmo dia, o público vê Lleyton Hewitt, um veterano que já conquistou de tudo na carreira, lutar por cinco sets…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.