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Saque e Voleio

Nadal e Djokovic voam, Federer ainda instável

Alexandre Cossenza

06/01/2014 08h01

Um torneio-exibição e três ATPs 250. Não é muito para que tiremos conclusões definitivas sobre quem jogará bem em Melbourne, mas é o bastante para que façamos uma análise interessante sobre o momento de alguns dos grandes nomes que estarão no Australian Open daqui a uma semana.

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Quem estava bem continua bem. No embalo das 24 vitórias consecutivas que conquistou no fim da temporada 2013, Novak Djokovic abriu o atual calendário com o título do torneio-exibição de Abu Dhabi. Foram apenas dois jogos, contra Tsonga e Ferrer, mas foram apresentações sólidas. E jogar em Abu Dhabi significou para o sérvio pular a primeira semana de torneios oficiais e chegar cedo a Melbourne.

A preparação desta mesma maneira deu certo nos últimos três anos – Nole foi campeão em 2011, 2012 e 2013 – e não há motivos para acreditar que será diferente em 2014. O sérvio é tão candidato ao título do Australian Open quanto vem sendo desde sua primeira conquista, em 2008.

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O número 1 do mundo jogou em Abu Dhabi e somou uma derrota (para David Ferrer) e uma vitória (sobre Tsonga), mas chegou em grande forma ao Catar, onde venceu o ATP 250 de Doha. A chave não era nada fácil e, mesmo com derrotas precoces de Ferrer, Tomas Berdych e Andy Murray, Rafael Nadal teve obstáculos perigosos como Lukas Rosol (que lhe incomodou quando preferiu jogar tênis em vez de catimbar), Ernests Gulbis, o qualifier kamikaze Peter Gojowczyk (que acertou tudo no começo do confronto) e o francês Gael Monfils.

O título significa que Nadal chegará em boa forma a Melbourne, o que nem sempre foi o caso. E ter golpes calibrados já nas primeiras rodadas faz muita diferença para o espanhol. Costuma traduzir-se em vitórias tranquilas e tempo para fazer ajustes com calma antes da importante e complicada segunda semana.

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Andy Murray, que vem voltando de uma cirurgia nas costas, e David Ferrer, que desfez a parceria com seu técnico de longa data, Javier Piles, são pontos de interrogação. Embora o espanhol tenha somado uma vitória sobre Nadal em Abu Dhabi, tombou na segunda rodada em Doha, diante de Daniel Brands.

Há quem diga que o número 3 do mundo, vindo da melhor temporada de sua carreira, não aguentará mais um ano inteiro jogando em alto nível. E a separação de Piles pode ser um indício de cansaço mental. Viajar sozinho, em alguns casos, é sinal de que o tenista precisa de um alívio. Só que este tipo de alívio costuma se traduzir em campanhas aquém do esperado. Ferrer, que não possui tanto talento como a maioria do top 10, parece encaixar-se no perfil. Sua participação em Auckland nos dará mais informações. Aguardemos.

É ainda mais difícil prever o desempenho de Murray. Não só pela questão do ritmo de jogo, que é pouco, mas porque seu tênis foi pouco testado. Em Abu Dhabi, foi superado por Tsonga e bateu Stanislas Wawrinka em um jogo que valia o quinto lugar. Em Doha, bateu um convidado local por duplo 6/0, mas não passou da segunda fase, quando Florian Mayer o tirou do torneio.

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O que dizer, então, de Roger Federer? O suíço parece no mesmo ritmo de 2013, alternando grandes jogadas com momentos irreconhecíveis – ou melhor, momentos que nos fazem lembrar da última temporada. Sua nova raquete, com a cabeça maior e pintada de preto, ainda nos sugere a memória de uma varinha emprestada por algum personagem de Harry Potter – não obedece o novo dono.

Sua atuação em Brisbane terminou com derrota na final diante de Lleyton Hewitt – uma partida preocupante para seus fãs. O suíço fez um péssimo primeiro set, mas, aos poucos, foi encontrando algum ritmo e venceu a segunda parcial graças a um game ruim de Hewitt, que teve 40/0 e errou uma direita com a quadra a seu dispor. No entanto, quando parecia melhor em quadra, não conseguiu aproveitar nenhum dos sete break points que teve no terceiro set e deixou a vitória escapar ao ser quebrado em um game errático.

Qual o prognóstico para Melbourne, então? Talvez as vitórias venham sem muitas dificuldades na primeira semana, mas será necessária uma dose extra de consistência para derrotar a turma do top 10 e ir longe de fato no torneio.

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Coisas que eu acho que acho:

– É preciso registrar a belíssima semana de João Souza, o Feijão, no Challenger de São Paulo. O brasileiro contou com um saque afiado e muita ousadia em momentos importantes para conquistar o troféu e dar um belo salto no ranking. Na lista desta segunda-feira, Feijão aparece em 116º lugar (subiu 24 casas) e ocupa o simbólico posto de número 1 do Brasil, deixando Bellucci (125º) para trás.

– A consequência ruim é que Feijão desistiu de disputar o qualifying do Australian Open. Um voo no domingo significaria chegar na terça-feira à tarde (na melhor das hipóteses!) em Melbourne, e os jogos do quali começam na quarta. Sem ele, o Brasil terá apenas Bellucci e André Ghem. Rogerinho (150), lesionado, e Guilherme Clezar (159), não estarão na Austrália.

– Não dá para encerrar o post sem citar o terceiro campeão da semana: Stanislas Wawrinka. O suíço optou por abrir o calendário oficial  jogando em Chennai, como principal cabeça de chave, e tirou proveito. Fez quatro partidas e não perdeu um set sequer. É, como sempre foi, um nome a ser observado com atenção em Melbourne. Ainda que corra eternamente por fora.

– Continua valendo a pena curtir a página do Saque e Voleio no Facebook. Além de avisar sempre que há um post novo por aqui, muita gente opta por comentar por lá, então sempre rola uma discussão (no bom sentido) bacana. Sem falar nas galerias de fotos dos campeões da semana. Deixei um aperitivo aqui embaixo!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.