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Saque e Voleio

A atrapalhada "estreia" do Rio Open

Alexandre Cossenza

15/12/2013 09h29

RioOpencoletiva_blog

Depois de um bom tempo usando as mídias sociais e uma coletiva cheia de pompa em um hotel da Zona Sul para anunciar a venda de ingressos, em ambos casos exaltando sempre a "chancela IMG Worldwide", o "Rio Open apresentado pela Claro hdtv" começou de forma atrapalhada sua relação com o fã de tênis.

O primeiro contratempo veio na pré-venda, anunciada na coletiva do dia 3 de dezembro. A partir daquela data, clientes Itaucard e Claro hdtv poderiam comprar seus bilhetes. O problema é que ninguém sabia como fazê-lo, já que não havia indicação alguma no site do torneio. No dia seguinte, o Rio Open corrigiu a falha e divulgou links para que os tais clientes pudessem fazer suas compras.

As grandes dificuldades mesmo vieram no dia 13, quando a venda foi aberta ao público em geral. Primeiro, o site saiu do ar. Depois, as reclamações foram com o estranho método de compras e as desagradáveis taxas de conveniência e de entrega. O atendimento aos idosos também deixou a desejar.

Analisemos um por um. O método de aquisição dos bilhetes era nada prático. Pelo contrário. Em vez de deixar o usuário montar um carrinho de compras (como em qualquer site meia-boca), o Rio Open só permitia que fossem negociados ingressos para uma sessão por vez. Não entendeu? Nem eu. Mas trocando em miúdos, o cidadão que quisesse comprar ingressos para, por exemplo, as duas sessões de segunda-feira, teria que fechar a compra para as entradas de segunda de manhã, abrir o site de novo e realizar o processo inteiro novamente para, então, adquirir os tíquetes de segunda à noite.

Agora imaginem: o Rio Open tem 11 sessões de jogos. O fã disposto a ver o torneio inteiro teria que realizar todo processo de compra 11 vezes. E aí entra outro problema: quem opta por receber os bilhetes em casa tem de pagar a taxa de entrega 11 vezes! Fiz a simulação com meu endereço (moro no Rio, capital, pertinho do Jockey Club Brasileiro), e a taxa era de R$ 29 por compra. Ou seja, para 11 sessões, eu teria de desembolsar R$ 319 só de frete!

RioOpen_ingressos_blog

Não foi só isso. A promessa do Rio Open era de que os assentos seriam numerados e que os compradores teriam direito a escolher os lugares. Durante a pré-venda, deu certo. No dia 13, contudo, a promessa foi quebrada. O site dava a seguinte explicação, em caixa alta: "devido a imensa procura, os locais dos assentos comprados agora serão escolhidos automaticamente para você. Quando a procura se normalizar e caso ainda existam ingressos disponíveis, será possível escolher os locais dos assentos no momento da compra".

É curioso o uso da expressão "normalizar" sobre a procura de ingressos. Normal para quem? Mostra que o site estimou mal e não estava preparado para receber aquele volume de solicitações. Fiz um teste no sábado (dia 14) à noite e, de fato, já era possível escolher os assentos novamente. Ainda assim, foi uma falha grave e uma promessa não cumprida por um evento com "chancela IMG Worldwide" e "apresentado por Claro hdtv".

O tratamento aos idosos, então, dá a impressão de que o torneio está fazendo caridade. Primeiro, o processo inteiro foi mal informado. O site do Rio Open dizia que os idosos com direito a gratuidade teriam de se cadastrar na bilheteria do Jockey Club Brasileiro "nos dias 5 e 6". Não informava o mês. Considerando que o torneio será em fevereiro, é bem possível que algumas pessoas tenham imaginado que o cadastramento seria, afinal, em fevereiro.

Mas o mês era dezembro (e eu só descobri porque entrei em contato com a assessoria de imprensa). Ainda assim, quem fez o cadastramento não teve direito a escolher o dia de sua preferência nem teve a opção de ver mais de um dia de jogos. Todos idosos, no cadastramento, podiam escolher um dia de preferência, mas o torneio jamais garantiu que o pedido seria atendido. E eu sei bem porque minha mãe fez o cadastramento e só teve direito a um bilhete, em um dia que ela não escolheu, em um assento designado pelo torneio.

Coisas que eu acho que acho:

– Se a chamada "chancela IMG Worldwide" deveria garantir ao fã de tênis que o Rio Open seria organizado com a mesma competência que eventos como Wimbledon e Australian Open, não tenho certeza. O que podemos concluir, contudo, é que a credibilidade dos promotores sai arranhada deste episódio. Aguardemos o que ainda vem por aí.

– Mesmo com todos problemas, os ingressos para sexta, sábado e domingo se esgotaram rapidamente. Outro lote será colocado à venda no dia 13 de janeiro, mas só na bilheteria do Jockey Club Brasileiro. Estarei lá para acompanhar.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.