Topo

Saque e Voleio

A criatividade comercial de Wawrinka

Alexandre Cossenza

19/11/2013 11h41

Acaba a temporada, e Stanislas Wawrinka embarca para seu último voo de 2013. É hora de voltar para casa, e o tenista suíço, número 8 do mundo, vai de jatinho particular. A bordo, ele publica o tuíte abaixo:

 

Não, Wawrinka não está nadando em dinheiro nem comprou seu próprio jatinho. E antes que você pense "ele ganhou bem no ATP Finals, então pode esbanjar no táxi aéreo", preste atenção no agradecimento à Fly7. Agora veja uma das fotos do suíço durante a última temporada: está lá, no peito, a marca da empresa suíça.

Bancos, relógios, carros, planos de saúde… talvez nenhum patrocínio faça tanto sentido quanto uma companhia de aviação executiva exibindo sua marca no peito de um tenista. É difícil identificar um atleta com uma marca. Pense bem, leitor. Quando você viu um tenista indo ao banco? Ou usando seu plano de saúde? Quase ninguém usa relógio em quadra, e a maioria deles faz uso de carros oficiais e seus respectivos motoristas em torneios.

Tudo bem, patrocinar um tenista que aparece muito na TV garante exposição a uma marca, mesmo que não haja identificação da pessoa com o ramo de atividade. Mas, só para dar um exemplo prático, qual a relação entre Thomaz Bellucci e o Grupo Votorantim, que foi seu patrocinador por alguns anos?

Wawrinka_Finals_uol_ap_blog

O caso de Wawrinka com a Fly7 é bem diferente. Primeiro porque faz sentido um tenista, que viaja a cada semana, usar voos privados. Não tem fila para embarque, não tem voo desmarcado nem atrasado, não tem bagagem perdida. E depois porque todo mundo pode ver nas redes sociais que o top 10 realmente faz uso daquele serviço, o que leva a relação a outro nível.

Liguei, então, para o empresário de Wawrinka, Lawrence Frankopan. Na conversa, o dono da Starwing Sports enfatizou a importância da criatividade com o mercado nada aquecido de hoje. Do mesmo modo, cita que é possível mostrar a marcas não tão conhecidas que é possível ter exposição sem gastar fortunas. Leiam!

Como começou a relação entre Wawrinka e a Fly7? Quem procurou quem para colocar no papel um contrato de patrocínio?
Stan e muitos desses atletas, como você sabe, usam a aviação privada ao longo do ano. Stan já possuía uma relação comercial com a Fly7, e isso se tornou uma relação de patrocínio naturalmente.

E estão todos felizes com o resultado após uma temporada completa?
Sim. Obviamente, quando você se associa com nomes como Roger ou Rafa, você garante mais divulgação. Stan teve, sem dúvida, o melhor ano de sua carreira, então ele criou muita exposição para a Fly7. É um exemplo interessante de como uma empresa menor (em comparação com gigantes que estão associadas ao tênis) como a Fly7 pode conseguir uma exposição tremenda em uma plataforma global. Ele não é tão caro como Roger ou Rafa.

A parceria continua para 2014?
Estamos discutindo agora para o ano que vem. Foi um período de teste para eles e para nós. As regras da ATP mudaram no começo do ano. Antes, você podia ter dois patches nas mangas. Agora, você pode ter dois patches a mais. Foi um período de teste para nós, para descobrirmos o valor disso, e a exposição que conseguiria. Acho que a frente da camisa vale bastante.

Wawrinka_Finals_uol_afp_blog

Por que todos tenistas não tem um contrato assim (risos)? Todo mundo viaja tanto que parece lógico que empresas de aviação estejam envolvidas…
É duro conseguir patrocínios pessoais para muitos atletas no mundo. Não é tão fácil como muita gente pensa. O mercado está obviamente mal no mundo. No ano passado, os orçamentos estiveram muito apertados. As empresas também acreditam que conseguem mais exposição gastando dinheiro em um evento do que em um indivíduo. Acho que os empresários e as agências têm sido muito pró-ativos encontrando contatos, construindo essas relações e provando para essas marcas que sim, vale a pena investir em um atleta. Olhe para Novak Djokovic! Ele era número 1 do mundo, é o número 2 agora, e não tem um contrato. Ele tem patrocínios de raquete e roupas, mas nada mais. Andy Murray tem, além da roupa, uma empresa do setor bancário, o RBS, mas é só isto. Ele tem um espaço livre na manga! E é Andy Murray, primeiro britânico campeão de Wimbledon em 77 anos! Isto te dá uma indicação de o quão difícil é este negócio, de como é duro encontrar patrocínios. Não é tão fácil. Mas estamos felizes com os patrocínios que temos, seja BCV, que é um banco, seja a FROMM, uma companhia internacional de empacotamento, Audemars Piguet, a companhia de relógios, Yonexx e outros vários patrocínios que temos. Stan tem feito um ótimo trabalho, é sponsorship-friendly, articulado, inteligente, fala línguas diferentes, tudo isso ajuda.

Mais criatividade, então, é a chave hoje em dia?
Acho que Stan e eu, nossa agência, somos muito criativos. Uma coisa é chegar até o patrocinador e dizer "é assim que você tem que fazer". Agora é preciso criar mais valor, como nas mídias sociais. Stan, como você sabe, faz muito disso. Ele gosta dessa face do negócio e é muito ativo. Patrocinadores, hoje, gostam disso. O mercado é duro. Eles preferem gastar meio milhão de dólares em um evento, em hospitalidade. Quando você associa sua marca com um atleta, ela fica bastante visível. Não sei no Brasil, mas na Europa há muitos bancos e empresas de primeira linha (blue chips) indo mal. A última coisa que elas querem é serem vistas investindo em um indivíduo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.