Política esportiva ou só política?
Quem quer rir, tem que fazer rir. A frase ficou famosa no primeiro Tropa de Elite e foi repetida no segundo, até por ser uma versão publicável da mais picante "quer me f…, me beija". E quem mora no Rio de Janeiro tem uma boa ideia de quantas gírias e ditados populares são usados no dia a dia para expressar informalmente a troca de favores. O hábito é tão enraizado na cultura que às vezes até o governo do estado age assim. E acaba pagando um mico (já que é para usar gíria…) mundial!
Vejam só a história contada por Fábio Aleixo, jornalista do "Lance!" que esteve em Londres durante o ATP Finals. A reportagem (leia a íntegra aqui) diz que o governo do estado do Rio de Janeiro "rompeu o contrato de publicidade que tinha com a entidade responsável pelo circuito masculino. O acordo, assinado em 2011, era válido ate o fim do ano. Porém, desde meados de 2013, a torneira fechou, e o dinheiro não caiu mais na conta da ATP. Assim, a marca deixou de aparecer no programa semanal da instituição, o ATP Uncovered, em setembro, e nem foi exibida no ATP Finals, como ocorrera nos dois últimos anos".
Isso é só uma parte do problema. A última parte, acredito, com certa dose de otimismo. Vale lembrar que a relação já começou muito ruim para o Rio de Janeiro. Em 2011, com uma campanha mal elaborada e mal executada, a palavra "RIO" era exibida ao lado da rede, posicionada de modo que nem todos que assistiam ao torneio pela TV podiam visualizar. A situação foi tão embaraçosa que, quando escrevi sobre o assunto na época, recebi um telefonema de um funcionário do governo, admitindo que tudo havia sido mal feito e afirmando, em outras palavras, que não sabia como nem por quem aquela marca havia sido aprovada.
Mas tudo bem, o cenário melhorou no ano passado. Além de ter uma marca, no melhor conceito da palavra, o governo a exibiu no ATP Uncovered e em placas publicitárias do ATP Finals. Bacana, de verdade. Ainda mais quanto a mensagem aparece em fotos lindas como a de Roger Federer, que abre este post. Enquanto isto, a secretária de esporte, Márcia Lins, alegava que a parceria com a entidade pesava a favor do Rio de Janeiro na briga para receber o ATP Finals a partir de 2014. Nunca me convenceu. Talvez por um pouco de ceticismo da minha parte, por ver um evento tão bem produzido em Londres e acreditar que o Rio jamais conseguiria igualar aquilo. Talvez por pura implicância minha mesmo, admito. Afinal, eu tinha ido a Istambul e visto o WTA Championship. Lá, não havia nada de fantástico. Poderia ser igualzinho aqui no Brasil.
No fim das contas, a ATP decidiu estender o contrato com Londres, que receberá o Finals até 2015. Foi a vitória da competência britânica e do público londrino sobre o dinheiro público fluminense. O contrato publicitário do Rio acabou sendo o que era, de fato: um contrato publicitário, respeitado pela ATP. E o que aconteceu? Márcia Lins foi substituída, e o governo decidiu não honrar o acordo. "Sem dúvida nenhuma, cria uma certa desconfiança, deixa um gostinho não muito bom na boca . Não te dá a segurança de mesmo que se receba uma proposta, será uma proposta que cumpra exatamente os planos que se propõe", disse ao Fábio Aleixo o diretor do ATP Finals, o brasileiro André Silva.
Sabe aquela história do "a gente pode fazer uma colaboração mútua no sentido de o senhor deixar uma questãozinha aí para desafogar a situação"? Não funciona com órgãos como a ATP. E o governo do Rio, o mesmo que pagou uma fortuna para trazer Novak Djokovic sob o pretexto de desenvolver o tênis no estado (a contrapartida foi a construção de UMA quadra pública na Rocinha – uma!), deixa clara a diferença entre praticar uma política de incentivo ao esporte e simplesmente fazer política. Por enquanto, só testemunhamos a última.
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