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Saque e Voleio

O um-dois-três de Djokovic

Alexandre Cossenza

12/11/2013 02h03

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Novak Djokovic é campeão do ATP Finals uma, duas, três vezes. O tri veio nesta segunda-feira, com uma maiúscula vitória em cima do número 1 do mundo, Rafael Nadal: 6/3 e 6/4. Um triunfo cujo placar não faz justiça à superioridade do sérvio, que teria vencido com facilidade ainda maior se não cometesse um punhado de erros não forçados depois de abrir 3/0 na primeira parcial. Um resultado que coroa o perfeito pós-US Open de Nole, que não sofre um revés desde Nova York. E mais do que isso: deixa o número 2 a menos de mil pontos da liderança do ranking.

Na real, a final do torneio londrino foi daquelas vitórias, como diz o ditado, "simples como um, dois três". E por três motivos básicos. A devolução é o primeiro e mais nítido deles. Nole é o melhor devolvedor de saque do circuito, e todos sabem disso. Com seu primeiro toque na bola, tem uma capacidade absurda de tomar o controle das trocas de bola. Foi assim com Nadal desde o início. O espanhol pouco respirou nos games de serviço. Em alguns momentos, encaixou saques ótimos e logo viu-se na desconfortável posição de precisar se defender dos ataques do oponente.

E aí entra o segundo motivo. Djokovic foi muito superior no saque. Nadal fez um "verão" perfeito nas quadras duras, mas desde o US Open não tem conseguido a mesma combinação de precisão e velocidade no fundamento. Sem isto, vira presa fácil para o sérvio – como a maioria dos outros tenistas.

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Nesta segunda, o número 1 tentou duas táticas diferentes e sofreu em ambas. No primeiro set, arriscou mais e acabou errando mais. Fez quatro duplas faltas, encaixou apenas 58% de primeiros serviços e facilitou a vida de Djokovic. Na segunda parcial, Nadal optou por porcentagem (86%), embora com potência reduzida. A estratégia foi brilhante contra Federer, que pouco ataca nas devoluções – muito menos com o backhand -, mas não deu resultado contra o sérvio.

Por outro lado, Djokovic pode se dar o luxo de arriscar mais no primeiro saque, já que Nadal tende a posicionar-se bem atrás da linha de base para rebater o segundo serviço. É aí que o terceiro motivo faz a diferença: mesmo que o espanhol consiga um bom ataque na devolução, Nole é um defensor superior neste tipo de quadra. Nadal é fantástico deslizando no saibro, mas não consegue o mesmo resultado em pisos sintéticos.

Nos duelos em quadras rápidas, a diferença é enorme. Com a consistência e as belas defesas de Djokovic, o número 1 acaba precisando sair da zona de conforto. Tenta agredir e acaba correndo mais riscos. Quando não acerta bolas incríveis (como fez no quinto set em Roland Garros), dá ainda mais confiança para que o sérvio jogue com mais paciência, esperando a hora perfeita para atacar.

Sabe quando Floyd Mayweather Jr. (perdão, fãs de MMA, minha praia é o boxe) encaixa uma sequência de três (ou mais) golpes tão rápidos que o adversário mal consegue ver de onde vêm? O um-dois-três de Djokovic é tão letal quanto. A diferença é que o circuito inteiro sabe o que separa o sérvio do resto. Só que, assim como no boxe jogado por Money, ninguém consegue encontrar uma resposta.

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Sem ir na toalha (para ler em até 25 segundos):

– Não que seja novidade, mas um número destes não pode ser esquecido: Djokovic acumula, agora, 22 triunfos consecutivos. Sua última derrota foi justamente diante de Rafael Nadal, na decisão do US Open.

– Mal sai de Londres, Djokovic corre para Belgrado, onde disputará a final da Copa Davis. Ele, Janko Tipsarevic, Ilija Bozoljac e Nenad Zimonjic vão enfrentar Tomas Berdych, Lukas Rosol, Radek Stepanek e Jan Hajek.

Coisas que eu acho que acho:

– Durante a semana, Rafael Nadal reclamou algumas vezes do fato de o ATP Finals ser disputado sempre em quadra dura e indoor, o que nitidamente reduz suas chances de levantar o troféu. O espanhol alega que seria mais justo um revezamento, com o torneio sendo alternado em saibro, quadra dura outdoor, etc.. Tudo bem, é uma opção, digamos, democrática, embora tenha tom de chororô porque vem de um tenista que nunca foi campeão. O grande problema seria implantar esse revezamento. Com o ATP Finals disputado uma semana depois do Masters de Paris, jogado em quadra dura e indoor, não seria estranho forçar os oito melhores do mundo a mudar de piso assim, sem tempo para treinar? Duas coisas, ambas muito ruins, poderiam acontecer. 1) Alguns dos oito melhores deixariam de jogar em Paris. Em vez disso, ficariam treinando no piso do Finals. 2) Quem jogar o Masters francês e precisar disputar o Finals, por exemplo, no saibro, não vai conseguir mostrar seu melhor tênis. Em qualquer caso, todo mundo sai perdendo. A não ser Nadal, que teria mais chances com o torneio na terra batida…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.