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Saque e Voleio

A melhor final possível

Alexandre Cossenza

11/11/2013 02h27

Rafael Nadal x Novak Djokovic: o melhor de 2013 contra o melhor do momento. E Londres verá, nesta segunda-feira, o jogo que todos esperavam desde o início do torneio. Os dois estão invictos no ATP Finals e jogam por 500 pontos que não mudam o ranking atual, mas vão pesar um bocado na briga pela liderança em 2014. Tipo de jogo que nossa imprensa futebolística chamaria de jogo de 1.000 pontos (um soma 500, o outro deixa de somar 500).

Nadal_London_atp_blog

Nadal garantiu seu lugar primeiro. Depois de passar pelo Grupo A com vitórias sobre David Ferrer, Stanislas Wawrinka e Tomas Berdych, o espanhol enfrentou na semifinal seu grande rival, Roger Federer. E o duelo deixou a desejar, nem tanto por ser uma apresentação fantástica do líder do ranking (porque não foi), mas porque o ex-número 1, a cada dia que passa, encontra mais dificuldades para igualar a consistência e a competência de Nadal e Djokovic. E nem questão de resistência física. Não são necessários quatro ou cinco sets para que Federer deixe evidente sua irregularidade. Em qualquer jogo, é fácil enxergar os sinais.

Neste domingo, o suíço começou arriscando e fugindo dos ralis. Até deu certo por algum tempo. No sexto game, teve três break points. Em um deles, errou uma direita fácil. Em vez de 4/2 e saque, o suíço permitiu que Nadal igualasse. Três games depois, o espanhol quebrou. Federer mudou e tentou trocas mais longas. Deu certo, e a quebra foi devolvida, mas a "nova" estratégia também teve vida curta. No 5/5, Federer voltou a falhar. Perdeu outro serviço e, na sequência o set.

A segunda parcial foi mais do mesmo. Federer tentou variações, incluindo aí um par de subidas à rede, mas Nadal sempre teve as respostas certas. Usou bolas baixas, forçando o oponente a voleios difíceis, e sacou quase sempre no backhand no suíço. O número 1 não cedeu mais nenhum break point e, com duas quebras, deu números finais ao duelo: 7/5 e 6/3.

Djokovic_London_sf_atp_blog

Sobre a segunda semi, não dá para falar muito, a não ser elogiar pela enésima vez o belíssimo tênis apresentado por Djokovic no fim da temporada. O 6/3 e 6/3 exibido pelo placar ao fim do encontro mal refletia sua superioridade. O sérvio é, desde o fim do US Open, o melhor tenista do circuito, tanto que não perde desde a final contra Nadal em Nova York. De lá para cá, já são 21 triunfos consecutivos. Um deles, em cima do próprio Rafa Nadal, na final do ATP 500 de Pequim.

Se querem minha opinião, Nole é o favorito aqui – e as casas de apostas concordam. Nem tanto pelas condições do torneio, que, é bem verdade, ajudam o jogo do sérvio, mas pelo momento. Alguém pode até argumentar que Nadal venceu suas partidas com mais facilidade até agora, perdendo apenas um set (contra três de Djokovic), mas é irrefutável que o número 2 do mundo teve de encarar um caminho muito mais complicado, com Federer e Del Potro na primeira fase.

E se algum jogo deve servir de base para que tomemos como exemplo do que esperar na final, acredito que a semifinal deste domingo, como Wawrinka, foi a partida que realmente mostrou o quão afiado está o sérvio. E isto não é uma notícia nada, nada boa para o número 1 do mundo. Aguardemos.

Peya_Soares_Bryans_London_sf_atp_blog

Coisas que eu acho que acho:

– Foi de partir o coração a derrota de Bruno Soares e Alexander Peya diante de Bob e Mike Bryan. Brasileiro e austríaco jogaram muito bem do começo ao fim, com uma primeira parcial fantástica de Peya. A diferença? Um pontinho vencido no match tie-break pelos irmãos: uma passada dificílima, de dentro para fora, executada por Bob Bryan quando o placar mostrava 8/8. No fim, a vitória americana teve parciais de 4/6, 6/4 e 10/8.

– O Brasil esperava/torcia por uma final caseira, com os dois mineiros, mas acabar sem ver nenhum na decisão. Na primeira semifinal do domingo, Marcelo Melo e Ivan Dodig foram eliminados por Fernando Verdasco e David Marrero: 7/6(10) e 7/5. Não é injustiça dizer que, entre as oito duplas do ATP Finals, brasileiro e croata foram a surpresa mais agradável em 2013.

– O francês Patrick Mouratoglou tuitou um bocado durante Federer x Nadal – e sempre dizendo que táticas o suíço deveria usar. Será que técnico de Serena Williams está procurando um novo emprego? Minha amiga Sheila Vieira acha que ele só quer um bico na TV. Ainda assim, fico com três perguntas na cabeça. 1) O que Serena planeja para 2014? 2) Por que Mouratoglou só escreveu sobre as táticas de Federer, deixando de lado a estratégia adotada por Nadal? 3) O que aconteceria se suíço e francês formassem parceria?

– É bem provável que daqui a 50 anos (ainda) considerem Federer x Nadal a maior rivalidade da história do tênis. Se não em número de confrontos, por todos os contrastes – de jogo e de personalidades – envolvidos em duelos que valeram tanto em tantas oportunidades. Nunca fui um dos "teóricos do apocalipse" e jamais estive no time que ocasionalmente dá Federer por acabado (algo que acontece de tempos em tempos desde 2008), mas, ao ver o suíço ser derrotado em uma quadra dura e indoor em Londres, não deixo de pensar que os melhores dias da rivalidade já se foram. Federer ainda é capaz de fazer belas apresentações, como a de Cincinnati, mas Nadal é, hoje, um tenista mais consistente e com muito mais recursos do que lá atrás, em 2006 e 2007. As quatro vitórias nos quatro duelos deste ano (ainda que Federer estivesse lesionado em um deles, em Indian Wells), com apenas um set perdido, são uma evidência clara e inegável disto.

Sem ir na toalha (para ler em até 25 segundos):

Bellucci_Bogota_div_blog– Na final do Challenger de Bogotá, Bellucci, que vinha de nove vitórias seguidas (inclusive o título do Challenger de Montevidéu), abandonou por causa de dores no abdômen. O dominicano Victor Estrella vencia por 6/2 e 3/0 no momento. Em texto enviado por sua assessoria, Bellucci conta que sentiu uma fisgada no último game da semifinal, contra Alejandro Falla. O paulista, que deve reassumir o posto de número 1 do Brasil, volta ao país para avaliar o grau da lesão e não disputa o Challenger de Lima, que começa nesta segunda-feira.

– Vale lembrar também da ótima campanha de Guilherme Clezar, que parou nas semifinais em Bogotá. O gaúcho, treinado pelo capitão João Zwetsch, disputará agora o Challenger Finals, em São Paulo. Ele entra como convidado porque tem sua carreira agenciada pela Koch Tavares, promotora do evento (e também, claro, porque Bellucci trocou a Koch pela IMX no meio desta temporada). Atual número 181 do mundo, Clezar ocupará o melhor ranking da carreira nesta semana. Seu ranking deve ficar perto do número 160.

– Tiago Fernandes não passou da primeira rodada no qualifying no Challenger de Yokohama, no Japão. Ele foi derrotado pelo taiwanês Tsung-Hua Yang (outro ex-tenista de Larri Passos). É o terceiro quali seguido que Fernandes não consegue furar. Nas semanas anteriores, tombou na segunda rodada em Seul e na estreia em Yeongwoi (ambos na Coreia do Sul). O próximo evento é o Challenger de Toyota, no país do Doutor Gori, aquele que foi dublado no Brasil pelo Seu Madruga (se não sabia, clique e escute).

– Ricardo Hocevar conquistou o título do Future de Itajubá ao derrotar Wilson Leite na final por 6/3 e 6/1. Mais impressionante do que Hocevar vencer um Future (ele tem jogo para mais), é notar que a final deste domingo encerrou uma sequência de 14 vitórias de Leite. Antes de ir a Itajubá, o carioca foi campeão dos Futures de Belém e Porto Alegre. Pelo caminho, venceu adversários de respeito, como Fernando Romboli e Caio Zampieri (duas vezes).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.